Anseios e dificuldades das mulheres da floresta

A ribeirinha Valdemarina Gomes buscou ajuda para fazer política com P maiúsculo na troca de experiências proporcionada pelo encontro de mulheres que está sendo realizado pelo Grupo de Pesquisa e Observatório Social, Gênero, Política e Poder (Gepos) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). A reportagem é de Aristides Furtado e publicada pelo jornal A Crítica, 03-12-2010.

Moradora da Freguesia do Rio Andirá, em Barreirinha (a 328 km de Manaus), ela quer fundar uma associação de agricultores para lutar por melhores condições de vida das mais de mil pessoas que vivem na comunidade.  “Vim buscar conhecimento para a associação que estamos tentando criar”, explicou a agricultora, ontem à tarde, no auditório Eulálio Chaves na Ufam.

Valdemarina é uma das 33 mulheres do interior do Estado que participam do 16ª Encontro da Rede Feminista Norte e Nordeste de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher e Relações de Gênero (Redor).  O evento ocorre junto como 2º Encontro de Estudo sobre Mulheres da Floresta (Emflor).  A programação teve início na última quarta-feira e se estende até hoje.

É a primeira vez que Manaus sedia o Redor.  A rede foi fundada em 1992 para dar visibilidade aos estudos científicos sobre as questões que envolvem as mulheres nas regiões Norte e Nordeste.  “De 1992 para cá houve expansão do número de pessoas que procuram a questão de gênero para estudar”, explicou a coordenadora dos dois eventos em Manaus, a professora da Ufam Iraildes Caldas.

O Emflor, que está na segunda edição, inspirou-se na rede feminista para dar voz e vez às mulheres do Amazonas e promover o dialogo destas com o ambiente da academia.  Como resultado dessa reflexão/ação sobre os problemas enfrentados pelas mulheres, a Universidade incorporou, ressalta Iraildes, em alguns de seus cursos de pós-graduação, temas sobre gênero.  “O doutorado de Sociedade e Cultura da Ufam tem linha de pesquisa na área de gênero”, ressalta a pesquisadora.

As pesquisas ajudam a desconstruir a ideia preconceituosa de que mulher é inferior ao homem e ajudam na conquista de espaço nas esferas de poder.  “Mostram que somos capazes de administrar.  Ainda tem muita submissão.  Mas já percebemos um arrefecimento da problemática de gênero.  A violência, contudo, continua.  Não arrefeceu”, enfatiza Iraildes.

Conquistar esse espaço é um dos desafios postos para a ribeirinha Valdemarina Gomes.  Por meio da organização política de sua comunidade, ela espera conseguir, além de recursos para escoar a produção agrícola, condições para combater a violência doméstica que predomina no local.  “O marido embriagado bate.  Mas ninguém tem coragem de denunciar”, disse.

http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=38950

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