Ypo’í – apelo dramático

Egon Dionísio Heck *

Adital – A comunidade Guarani de Ypo’i, no município de Paranhos, no Mato Grosso do Sul, fronteira com o Paraguai, enviou ao Ministério Público, Juízes Federais e ao Presidente da República e aos outros poderes do Brasil um documento dramático de denúncia e reivindicações.No documento lembram “Nós fomos vítimas de despejos e violências cruéis ocorrido entre os dias 01 e 03 de outubro de 2009, naquele momento fomos massacrados, torturados e vitimas de tiroteios praticados por pistoleiros contra nos, foram também capturados os dois professores: Rolindo Vera e Genivaldo Vera consequentemente foram assassinados truculentamente. Em virtude do fato, vimos através deste documento denunciar e manifestar aos senhores autoridades mais uma vez as nossas demandas urgentes e a última decisão:

1. Conclusão imediata de identificação de nosso território.
2. Solicitamos a medida de seguranças para nossa integridade física e ritual cultural como Polícia Federal e segurança Nacional. Hoje estamos cercados de pistoleiros armado.
3. Pedimos também assistência médica além de assistência alimentar para nossa existência, conforme os nossos direitos constitucionais, visto que no momento, agora não temos assistência nenhuma por parte dos órgãos públicos, e os fazendeiros colocaram pistoleiros armados para nos intimidar, fazendo tiroteios todos os dias em torno de nossas barracas”.

Depois dessa dramática denuncia fazem o apelo pela sobrevivência “Por fim, nesse sentido amplo, aos juízes federias estamos demandando o cumprimento de todos os itens de nossos direitos humanos constitucionais para garantir a nossa sobrevivência como seres humanos”.

Momento delicado

Mas também de luta e esperança no continente. Basta lembrar as lutas dos povos indígenas e camponeses, e em especial as mulheres guerreiras que acabam de se encontrar em assembléia de articulação em Quito. No documento reafirmam as convicções de construção de novos projetos de vida. “Ao compasso das lutas históricas dos povos e movimentos sociais, América Latina tem empreendido um inédito caminho de mudanças, de desenvolvimento de pensamento próprio, de fortalecimento do projeto socialista, de construção do Bem Viver/Viver Bem, que se cristaliza já em processos de transição que apostam pela descolonização e por profundas transformações, que levem para sociedades de igualdade, justiça e soberanias, assim como de harmonia entre seres humanos e natureza” (Declaração de Quito – IV Assembléia de Articulação de Mulheres do Campo, outubro de 2010)

Estamos também num momento eleitoral no Brasil. Há oito anos os povos indígenas votaram massivamente em Lula. Várias das expectativas foram frustradas. Possivelmente o voto crítico em Dilma significará a cobrança das promessas não cumpridas, tais como, a demarcação e garantia de todas as terras indígenas e proteção dos recursos naturais nelas existentes, a aprovação e funcionamento do Conselho Nacional de Política Indigenista e o estabelecimento de referenciais claros de relações entre o Estado, sociedade e os povos indígenas, através da aprovação do Estatuto dos Povos Indígenas, já há mais de 15 anos em tramitação no Congresso.

Movimento Povo Guarani Grande Povo
Brasília, 15 de outubro de 2010

Segue íntegra do documento da comunidade Guarani de Ypo’i

TEKOHA YPO’Y – PARANHOS-MS, 13 DE OUTUBRO DE 2010.

AO: MPF, JUIZES FEDERAIS, AO PRESIDENTE DA REPÚBLICA E AOS OUTROS PODERES DO BRASIL
ASSUNTO: Denúncia e Reivindicação de conclusão de identificação de Terra Indígena Tekoha Guasu YPO I, localizada no Município de Paranhos/MS.
DE: Lideranças e representantes de comunidades Guarani Ñandeva de Tekoha YPO I.

Senhores PROCURADORES E JUIZES FEDERAIS,

Nós lideranças e membros das comunidades indígenas Guarani-Ñandeva aproximadamente 1000 pessoas pertencente ao Tekoha YPO I , no dia 19 de agosto de 2010, decidimos retomar o nosso território tradicional YPO’I, desta vez, já retornamos definitivamente para permanecer em nosso tekoha, custa o que custar, não sairemos vivos de nossa terra, aqui voltamos para morrerem se for necessário, assim garantiremos a vida e futuro de nossas crianças Guarani, por isso daqui não sairemos nem mortos; se acaso fomos todos mortos, em poucos dias, por conta de ações dos fazendeiros e pistoleiros, até agora eles que manda mais do que JUSTIÇA, pedimos a todas autoridades que sejamos enterrados aqui mesmo onde estamos hoje. Definitivamente, é essa a nossa decisão: ficaremos aqui vivos ou mortos; por essa razão vimos comunicar a Vossas Excelências de nossa decisão e manifestação como povo Guarani injustiçado.

Nós, povos Guarani, a nossa história foi perverso e cruel marcada pela morte e massacre truculenta praticado pelos fazendeiros-invasores, ocorreu desde 1500 até os dias de hoje. Nós fomos vítimas de despejos e violências cruéis ocorridos entre os dias 01 e 03 de outubro de 2009; naquele momento fomos massacrados, torturados e vítimas de tiroteios praticados por pistoleiros contra nos, foram também capturados os dois professores: Rolindo Vera e Genivaldo Vera consequentemente foram assassinados truculentamente. Em virtude do fato, vimos através deste documento denunciar e manifestar aos senhores autoridades mais uma vez as nossas demandas urgentes e a última decisão:

1. Conclusão imediata de identificação de nosso território.

2. Solicitamos medidas de segurança para nossa integridade física e ritual-cultural como Polícia Federal e segurança Nacional. Hoje estamos cercados de pistoleiros armado.

3. Pedimos também assistência médica além de assistência alimentar para nossa existência, conforme os nossos direitos constitucionais, visto que no momento, agora não temos assistência nenhuma por parte dos órgãos públicos, e os fazendeiros colocaram pistoleiros armados para nos intimidar, fazendo tiroteios todos os dias em torno de nossas barracas.

Por fim, nesse sentido amplo, aos juízes federais estamos demandando o cumprimento de todos os itens de nossos direitos humanos constitucionais para garantir a nossa sobrevivência como seres humanos.

Nós, lideranças e comunidades Guarani de YPO’I, assinamos em anexo.

* Assessor do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) Mato Grosso do Sul

http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=51706

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