Luiz Ribeiro
O alerta do presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco é percebido no dia a dia de cerca de 70 trabalhadores que aprenderam a tirar seu sustento da areia que se amontoa no leito do rio, na altura do município de São Francisco, no Norte de Minas. Com pás e canoas, os areieiros trabalham praticamente no meio do rio, com a água abaixo da cintura, o que mostra o quanto o Velho Chico ficou raso no trecho.Um desses homens é Dirceu Nunes Souza, de 40 anos, que, mesmo sabendo que o sedimento representa seu ganha pão, lamenta a degradação ambiental: “Isso é conseqüência do desmatamento”.
Muitos dos pequenos córregos que ante so abasteciam pararam decorrer ou foram tomados por esgoto, de acordo com o técnico em meio ambiente José Ponciano Neto. “A abertura desenfreada de poços tubulares, que reduz a quantidade de água subterrânea, os desmatamentos clandestinos e irrigação descontrolada provocaram o desaparecimento de mananciais, afetando bacias importantes, como a do Verde Grande”, afirma Ponciano. As consequências do assoreamento são visíveis no Rio Canabrava, afluente do Rio Verde Grande, em Montes Claros.
Atalho
Enquanto caminha pelo leito praticamente seco, o produtor Bento Queiroz da Silva, de 73 anos, fala com nostalgia de um tempo que, ele sabe bem, não voltará. “Há uns 30 anos, já nadei muito neste rio”. Mas o tempo passou e muita terra foi carregada para dentro do leito”, diz. O pequeno agricultor Matias Gonçalves Queiroz, de 67, manifesta tristeza semelhante ao andar pelo leito do Canabrava praticamente seco.
“Antigamente, esse rio tinha tanta água que a gente tinha até medo de entrar nele”, recorda Matias. Mas o Canabrava não é um caso isolado. O Rio São Domingos, outro afluente do Verde Grande, agora só “corre nas águas”, como o sertanejo se refere à estação chuvosa. Vazio, transformou-se em estrada.Acalha que levava água entre as cidades agora transporta gente.
Gente triste. Pelo leito seco, o agricultor Jonnathan Cleber Alvany, de 35, vai desde São Domingos, na zona rural, até o município de Francisco Sá. “O homem tem que deixar a natureza sossegada. Senão, até as nascentes vão acabar”, alerta. Dirigente do Instituto Tabuas, o geógrafo João do Carmo, o João Balaio, que atua no Rio Tabuas, um dos afluentes do Verde Grande, aponta a construção sem critérios de estradas rurais como uma das causas do assoreamento de rios no Norte de Minas. “As estradas vicinais são feitas de forma inadequada. Quando chove, a terra movimentada pela patrol vai toda para as nascentes e para os leitos dos rios.”