Na Bahia, ocupação Quilombo Guerreira Ninha pode ser despejada na sexta-feira

Karol Assunção *

Adital – Medo e apreensão. Essas duas palavras resumem bem o sentimento das famílias da ocupação Quilombo Guerreira Ninha, na Bahia. Tudo indica que a comunidade será despejada na próxima sexta-feira (17). Caso isso ocorra, 70 famílias irão para as ruas da capital baiana.

De acordo com informações do Movimento dos Sem Teto da Bahia (MSTB), o Tribunal de Justiça do Estado da Bahia acatou a liminar de reintegração de posse a favor da Fábrica de Gases Industriais Agro Protetoras (Fagip). O terreno, localizado no bairro Plataforma, em Salvador, atualmente abriga 70 famílias.

O Movimento denuncia que o Ministério Público não foi ouvido antes da concessão da liminar. Além disso, segundo o MSTB, a Fagip não provou a posse no imóvel, somente a compra e venda dele, o que, de acordo com o Movimento, não é suficiente para comprovar a posse do terreno. Segundo Maria Lucianne Ferreira (mais conhecida como Elaine), líder da comunidade, o local estava abandonado há mais de 25 anos, já estava loteado e seria colocado à venda.

A preocupação da líder não é exagero. De acordo com ela, as famílias, que estão lá há quase cinco meses, não têm alternativa: se forem despejadas, irão para as ruas. “Não têm opção para onde ir”, afirma, acrescentando que, mesmo se tiverem de cumprir o mandado de reintegração de posse, as famílias voltarão, caso não encontrem outro local. “A gente sabe que é área de risco. Se botarem a gente em outro lugar, ótimo. Se não, a gente volta”, avisa.

Apreensiva, Elaine lembra que a comunidade possui 70 famílias, com crianças, gestantes, idosos e pessoas com deficiência. A líder espera apenas encontrar uma solução para a comunidade e acredita que conseguiria isso com um pouco mais de tempo. “Precisamos de mais tempo para resolver as coisas. Se dessem mais tempo para resolver…”, comenta, observando a falta de interesse da empresa em dialogar e tentar resolver a situação.

Se nada for feito até sexta-feira, todos poderão ir para as ruas da capital baiana. Entretanto, Elaine revela que as famílias estão dispostas a resistir. “As pessoas estão passando mal [desde quando souberam da ordem de despejo], algumas dizem que vão entrar no barraco e esperar o caminhão passar por cima”, afirma.

Para ela, essa situação mostra bem a falta de respeito ao direito à habitação. “Nós temos direito à moradia. Que moradia?”, indaga, lembrando que o direito ainda não é assegurado para uma parcela da população. “Os movimentos sociais é que estão lutando por esse direito, pelo espaço”, destaca.

Mais informações em: http://www.mstb.org.br/

* Jornalista da Adital

http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=53143

Comments (2)

  1. Prezado Arruti,
    publicamos o texto completo, sob o título “Koinonia quer direito de resposta”, no dia 8 de dezembro último.
    TP.

  2. CARTA ABERTA

    KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço está sendo usada, mais uma vez,
    como bode expiatório para denúncias infundadas contra populações
    sujeitas a preconceito social e racial e sob ameaça de deslocamento
    compulsório, agora ao custo de argumentos ambientais sustentados na
    desinformação.

    Uma série de matérias jornalísticas e de opinião contrárias à
    permanência da comunidade do Horto (bairro do Jardim Botânico, Rio de
    Janeiro – RJ) em suas terras, publicadas pelo “O Globo”, “Extra” e o
    “O Estado de São Paulo” (versões impressas e virtuais) nos primeiros
    dias de dezembro, optam pela difamação e difusão de mentiras e pelo
    tom de denúncia, com base em informações deturpadas retiradas de ante-
    projeto elaborado por KOINONIA, por solicitação da AMAHOR ( Associação
    de Moradores do Horto).

    Já estamos acostumados com matérias irresponsáveis desse tipo, que
    juntam meias-verdades com inverdades para repetir mentiras e sem
    nenhum espaço para outras perspectivas sobre o mesmo tema. Estamos
    acostumados a ver nosso direito de resposta negado. Estamos
    acostumados a sermos citados sem sermos devidamente entrevistados ou
    consultados.

    Nessas matérias difunde-se que:

    1. KOINONIA teria sede em Greenville, na Carolina do Norte (EUA). Na
    realidade somos uma associação sem fins lucrativos brasileira, sediada
    no Rio de Janeiro – RJ, como pode ser visto no nosso site http://www.koinonia.org.br.

    2. KOINONIA teria por objetivo “entronizar as invasões do Jardim
    Botânico”. A situação dos moradores não caracteriza invasões, mas
    ocupações cujo início remete há quase um século, tendo origem em
    formas variadas e legitimas, que só há poucos anos começaram a ser
    questionadas pela administração do Jardim Botânico.

    3. O Museu do Horto “Tem R$ 1,8 milhão para se instalar e quase a metade
    de seu orçamento reservada ao pagamento do pessoal que, mesmo
    trabalhando pela causa, não é de ferro”. Na verdade não há qualquer
    financiamento aprovado. E se tivesse, implicaria, de fato, no
    pagamento de um grande grupo de especialistas profissionais em
    atividades temporárias, que, como qualquer trabalhador, inclusive
    articulista de jornal, deve ser adequadamente remunerado por seus
    serviços.

    4. KOINONIA é financiada por “até um Fundo Mundial para o Socorro dos
    Primatas”. Neste caso, o arremedo de pesquisa realizada pelo
    competente jornalista erra na tradução, dando um tom cômico à
    tragédia: trata-se do “Primate’s World Relief and Development Fund –
    PWRDF (www.pwrdf.org) que, em bom português, seria melhor traduzido
    como Fundo Mundial do Primaz (da Igreja Anglicana do Canadá) para
    Ajuda Humanitária e Desenvolvimento.

    5. KOINONIA apoiaria “não é de hoje, “grupos histórica e culturalmente
    vulneráveis para todas vocações catequéticas”. Aqui vale uma nota
    sobre a ignorância do jornalista sobre o significado do Movimento
    Ecumênico, que não inclui qualquer tipo de atuação catequética ou
    proselitista, mas justo a promoção da convivência e do diálogo entre
    as religiões. Além disso, a palavra grega koinonia (comunhão) é de
    livre uso, sendo utilizada até mesmo por churrascarias de beira de
    estrada, que não são de propriedade da nossa associação sem fins
    lucrativos. Essa ignorância, aliás, deve ser a fonte dos erros
    grosseiros que nos atribuem sede na Carolina do Norte e a idéia de que
    somos “uma igreja em movimento pelo, para e via o poder de Deus”.

    6. KOINONIA “Instalou-se como tal no Brasil em 1994”. Na realidade,
    KOINONIA foi fundada nesse ano por brasileiras e brasileiros de
    diferentes tradições religiosas com longa tradição na luta pelo fim da
    ditadura e pela democracia no Brasil.

    7. KOINONIA teria prometido à candidata Dilma Rousseff “o apoio da
    “População Negra” e agendado com a candidata um encontro formal com os
    representantes nacionais do Povo Tradicional de Terreiro, após as
    eleições”. Nesse caso, o articulista toma como palavras da instituição
    os termos de um dos vários documentos de organizações religiosas
    divulgados no site da instituição, justamente em seu trabalho de dar
    espaço para manifestações bloqueadas pela grande mídia.

    8. KOINONIA teria “um pacto de apoio incondicional à titulação fundiária
    dos quilombos, em sua acepção mais vaga – a da semântica
    antropológica, que ultimamente passou a considerar quilombo tudo o que
    se diz quilombo”. Na verdade KOINONIA tem um compromisso social com a
    causa quilombola, na forma pela qual ela se manifesta hoje, tanto na
    sua definição por parte do movimento social quanto nas pesquisas
    acadêmicas e na legislação vigente. Portanto, a definição de quilombo,
    aceita por KOINONIA, não é arbitrária, mas está submetida a uma série
    de critérios de legitimação que o jornalista poderia conhecer se
    tivesse interesse.
    9. “Talvez esteja em gestação um quilombo do Horto”. Sobre isso
    declaramos que KOINONIA não conhece nem apóia qualquer demanda dessa
    natureza no Horto.

    10. “Por enquanto, a ideia do Museu do Horto está limitada a um site
    criado pela Associação de Moradores e Amigos do Horto
    (www.museudohorto.org.br)”. Aqui, finalmente, há a explicitação da má
    informação veiculada pelas matérias mencionadas, que implica na
    confusão entre duas iniciativas convergentes, porém, separadas. O
    projeto do Museu do Horto, que hoje está em funcionamento no citado
    site, não é de responsabilidade de KOINONIA, mas de pesquisadores
    ligados ao IBRAM (Instituto Brasileiro de Museus). O ante-projeto
    preparado por KOINONIA para a AMAHOR implica em outras intervenções,
    além do apoio ao Museu: projetos de contenção de encostas,
    paisagísticos, de ajuste ambiental, inclusão digital e geração de
    renda, e melhoria da qualidade de ensino nas escolas que atendem à
    população.

    Tais confusões parecem ter um mesmo objetivo: apresentar na forma de
    denúncia um projeto de promoção social e ajuste ambiental justamente
    para inviabilizar a aprovação de seu financiamento e sua realização
    final.

    Nestes tempos de ocupação policial-militar e necessidade de chegada do
    Estado às comunidades que, por mais de 30 anos estiveram largadas ao
    desmando, era de se esperar que iniciativas de comunidades urbanas
    para conterem o crescimento desordenado, garantir uma convivência
    ecológica com a natureza em seu entorno e conceber uma urbanização
    humana e respeitosa, fossem elogiados.

    A apresentação de um fantasma no Jardim Botânico, na forma de um
    Museu, aponta para o pânico generalizado que a cobertura jornalística
    promove na atual ocupação do Complexo do Alemão. São todas comunidades
    que estão “onde não deveriam estar”, segundo estes meios de
    comunicação que não são formadores de opinião, mas monopolizadores dos
    meios de produzir opinião. Denuncia-se um propósito comunitário de
    convivência com o meio ambiente, de educação qualificada e de projeto
    de cidadania como se fosse um demônio a ser exorcizado, e junto com
    ele, toda a comunidade e seus amigos.

    As únicas acusações que KOINONIA aceita são as de estar ao lado de
    quilombolas, de negros e de terreiros de candomblé. Acusações como
    essas só confirmam que estamos do lado e no caminho certos.

    KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço

    LINKS MATÉRIAS

    O GLOBO em 01/12/2010

    http://oglobo.globo.com/rio/mat/2010/12/01/comunidades-do-horto-busca

    O GLOBO em 02/1’2/2010:
    http://oglobo.globo.com/rio/mat/2010/12/02/pt-rj-vai-discutir-conflit

    BLOG DO RICARDO NOBLAT em 07/12/2010 – Texto de MARCOS SÁ:

    http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2010/12/03/so-falta-um-quil

    JORNAL ESTADÃO – MARCOS SÁ CORREA em -3/12/2010:

    http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101203/not_imp648831,0.php

    JORNAL EXTRA em 01/12/2010

    http://extra.globo.com/rio/materias/2010/12/01/comunidades-do-horto-b

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.