É preciso acabar com a poluição do ar produzida em Tubarão, sentencia médica

Ubervalter Coimbra, Século Diário

“É uma luta de tubarão. A gente tem que se livrar da poluição das  empresas de Tubarão”. Estas foram as palavras de despedida da médica Ana Casati aos deputados da CPI do Pó Preto, onde compareceu pela segunda vez para esclarecer sobre a gravidade da situação gerada pelos poluentes emitidos pela Vale e ArcelorMittal.

Com sua afirmação de que é preciso acabar  com a poluição das empresas de Tubarão, a médica fazia um apelo para que os deputados membros da CPI não medissem esforços para  adotar as providências necessárias visando a redução da poluição do ar na Grande Vitória.

Ana Maria Casati Nogueira da Gama  é professora e doutora em pneumologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Estuda os efeitos da poluição do ar na saúde das pessoas há décadas. São efeitos nefastos: produzem doenças  pulmonares, alérgicas, cardíacas e vasculares. Também aumentam a morbidade das doenças nestas  áreas. E, como se fosse pouco, produzem câncer e até doenças genéticas. E matam.

Nesta quarta-feira (27), Ana Casati deu uma aula na CPI.  Começou por mostrar a diferença do material particulado para os outros poluentes, os gasosos. Assinalou que as famosasPM10 (partículas inaláveis, de diâmetro inferior a 10 micrómetros (µm) são deletérias para a saúde, e que as PM2,5 (partículas inaláveis finas), ainda mais graves, e têm correlação direta com aumento das doenças pulmonares, alérgicas e cardíacas, como o infarto,  e vasculares, como o derrame.

Citou literatura internacional recente com dados sobre a correlação da poluição do ar com aumento das doenças. Explicou como as partículas produzem as doenças e como o organismo reage, tentando se defender.

E destacou o que até ambientalistas confundem:  os gases são poluentes mais perigosos para a saúde do que o pó preto.  O óxido de nitrogênio, por exemplo, se combina com o oxigênio do ar e os dois produzem, entre outros efeitos, aumento da incidência do câncer. Outros gases produzem e/ou agravam doenças como o enfisema pulmonar.

Na palestra, Ana Casati lembrou que a Resolução Conama nº 03/90, que estabelece os padrões nacionais de qualidade do ar, é  superada, e deve ser  atualizada. A legislação estadual, Decreto 3463-R/2013,  foi produzida para que jamais fosse atingida. Ainda assim, existem registros de que os índices foram superados, como até o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), admitiu.

A médica destacou que, como as pessoas não podem fugir da poluição, são e serão vitimizadas se não houver uma legislação eficaz, moderna e exigência para seu cumprimento.

A Vale e a ArcelorMittal Tubarão e Cariacica lançam sobre os moradores e o ambiente da Grande Vitória poluentes como Material Particulado Total  (PTS); Material Particulado  (MP10); Material Particulado PM 2.5; Dióxido de Enxofre (SO2);  Óxidos de Nitrogênio (NOx);  Monóxido de Carbono (CO); e  Compostos Orgânicos Voláteis (COVs). São poluentes que forma nuvens pretas nas chaminés da Vale e ArcelorMittal, que  têm origem em equipamentos velhos.

Em 2005, a Vale e Arcelor respondiam por 83,41% do material particulado na Grande Vitória, como aponta pesquisa de mestrado realizada em 2011. E as empresas aumentaram, e muito, sua produção e emissões de particulados e gases.

As empresas não são cobradas para reduzir as emissões pelo Iema, pois  investem pesado nas eleições do Estado. Financiam eleições, inclusive para o cargo de governador, como para os últimos mandatos de Paulo Hartung (PMDB).

Imagem: Ana Casoti (Leonardo Sá/Porã)

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