Meninas negras e exploração sexual

Emanuelle Goes* – População Negra e Saúde

A reflexão sobre o tema ocorre em alusão ao dia 18 de maio, Dia Nacional de Luta Contra o Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Pensando nisso, compreendendo o impacto do racismo e das desigualdades raciais para a população negra, as meninas negras também são violentadas a partir deste lugar de mulher negra, em que o racismo e o sexismo se associam e agravam as condições e qualidade de vida das meninas negras, expondo-as mais severamente a exploração sexual.

É certo que a exploração sexual atinge a todas as classes sociais e está diretamente ligada também a aspectos culturais, como as relações desiguais entre homens e mulheres, no entanto a necessidade de sempre caracterizar o perfil da população mais atingida, é importante para visibilizar o sujeito e identificar o agente causador, as motivações da exploração sexual de meninas negras, não são as mesmas das meninas brancas. Considerando que as mulheres negras são fruto do desejo como objeto sexual e que as mulheres negras, isso atingirá diretamente as meninas negras.

O perfil das mulheres e meninas exploradas sexualmente aponta para a exclusão social desse grupo. A maioria é de afrodescendentes e vem de classes populares (UNICEF).

Os dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan, 2013, confirma este perfil, são as meninas e adolescentes pretas e pardas, as que mais sofrem com os três tipos de violência apresentados na tabela, sobretudo as meninas pretas. Vale também destacar que a principal violência que atinge as meninas e adolescentes no geral é o estupro, seguido de violência sexual e por ultimo a exploração sexual.

Nota: Dados SINAN/DATASUS/Ministerio da Saúde 2013
Nota: Dados SINAN/DATASUS/Ministerio da Saúde 2013

Definições:

Exploração sexual é caracterizada pela relação sexual de uma criança ou adolescente com adultos, mediada pelo pagamento em dinheiro ou qualquer outro benefício.

Violência Sexual é qualquer ato sexual indesejado, ou tentativa de ato sexual, avanço ou comentário sexual não desejado, assim como quaisquer outros contatos e interações de natureza sexual efetuados por uma pessoa sobre outra, contra a sua vontade.

Estupro,  coito forçado ou violação é a prática não consensual do sexo, imposto por meio de violência ou grave ameaça de qualquer natureza por ambos os sexos. Ele consiste em uma penetração da vagina ou do ânus (ou, no sentido mais amplo, também da boca) de uma ou mais vítimas por um ou mais indivíduos. As vítimas podem ser homens ou mulheres.

Meninas Negras (dentro e fora)

Para alem dos números não poderia deixar de registrar duas situações em que as meninas negras estão tendo o seu direito violado cotidianamente, tornando os números apresentados em pessoas reais.

O primeiro é sobre as Meninas de 10 a 14 anos de comunidade quilombola Kalunga são vítimas de escravidão sexual em Goiás, na cidade de 10 mil habitantes, no nordeste de Goiás, a 310km de Brasília, a maioria das meninas trabalha como empregada doméstica em casa de família de classe média. Em troca, ganha apenas comida, um lugar para dormir e horário livre para frequentar as aulas na rede pública. Para piorar, fica exposta a todo tipo de violência. A mais grave, o estupro, geralmente cometido pelos patrões, homens brancos e com poder econômico e político. Audiência pública discute denúncias de abusos contra menina sem Cavalcante

E a segunda é sobre o sequestro de meninas e mulheres pelos homens do Boko Haram que há mais ou menos um ano invadia uma escola em Chibok, na Nigéria: 276 estudantes foram levadas, e, 365 dias depois, 219 ainda estão desaparecidas. As meninas e adolescentes sofrem abusos sexuais frequentes, estupros em grupo e são obrigadas a casar com os sequestradores. #BringBackOurGirls: Um ano após sequestro de estudantes emChibok, Anistia diz que Boko Haram capturou 2.000 jovens desde 2014

Para saber mais acessem os links abaixo:

UNICEF – http://www.unicef.org/brazil/pt/Cap_03.pdf

Anistia Internacional

http://www.childhood.org.br/entenda-a-diferenca-entre-abuso-e-exploracao-sexual

*Blogueira, Enfermeira, Odara Instituto da Mulher Negra, Doutoranda em Saúde Pública/UFBA

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