Em Movimento Unido dos Camelôs
O jornal O Globo na quinta-feira 14/05 publicou uma matéria que no título já anuncia sua vontade e dos seus patrocinadores: “Apesar de indenizações milionárias, prefeitura não consegue acabar com a Vila Autódromo”. Em negrito o desejo do jornal que representa a especulação imobiliária e seus agentes. A declaração do prefeito, [que] caracteriza como bando as pessoas e organizações que defendem o direito à cidade e o direito à moradia digna, teve o repúdio da Defensoria Pública do Rio de Janeiro manifestado em nota. Na verdade o prefeito mente quando diz que negociou, pois a prefeitura nunca apresenta um projeto ou uma proposta confiável; está sempre mudando, confundindo, dividindo.
O Eduardo Paes deveria responder sobre as denúncias em relação ao desrespeito e à falta de atitude democrática, contrariando o interesse público, quando não aceita, nem discute o premiado Plano Popular de Urbanização da Vila Autódromo, um esforço dos moradores e de técnicos da UFRJ e UFF, que teria um custo financeiro e social menor. Além disso não cumpre com as regras de segurança e proteção das pessoas que ainda moram e das que querem ficar na parte que não precisa ser removida, pois as demolições e as obras põem em perigo as famílias que moram no local, com vários vergalhões de ferro saindo do chão e oferecendo risco de vida para as crianças que brincam na comunidade.
A dificuldade de transporte é outro sofrimento imposto aos moradores, que têm de andar por caminhos maiores para sair da comunidade, seja para levar os filhos para escola, ir ao médico ou trabalhar, pois a todo momento são modificadas as passagens. A Prefeitura acabou com as vans e não oferece transporte alternativo adequado, impondo maiores gastos ou o castigo de caminhar por lugares desolados com falta de iluminação, pois até a iluminação na região também está deficiente.
O impedimento de entrada de material de construção, para manutenção das casas, o transtorno do barulho das obras, com sirenes, caminhões e tratores que passam destruindo a estrutura de encanamento de água, tornando o que era água potável em água misturada com esgoto, mas não há a menor preocupação em diminuir esse sofrimento. Parece que faz parte de uma estratégia de expulsão dos moradores que ainda resistem e desejam ficar.
A Prefeitura sitia a Vila Autódromo e pede sua rendição; a oferta de indenizações altas faz parte dessa política contra uma comunidade que enfrenta a guerra contra a remoção. Qual o motivo para não estabelecer um plano de urbanização do “Miolo”, a parte que não precisa ser removida, e apaziguar aos que desejam continuar na comunidade, permitindo às pessoas que desejam ficar e as que estão fora desse perímetro, que possam ser reassentadas nas casas que ficaram vazias dentro desse miolo? O Eduardo Paes anunciou depois das Jornadas de Junho de 2013, que quem desejasse ficar poderia, mas qual o preço em resistência será cobrado.
Será que há uma esperança racista de ver toda comunidade removida? Que por fim os sonhos da Carvalho Hosken, da Odebrecht, da Andrade Gutierrez, de políticos e de investidores será ver uma região olímpica sem pobres, sem favela, sem a verdadeira cara do Rio, ou será uma vingança pessoal para servir de modelo contra esse “bando” que resiste pelo direito à moradia e pelo direito à cidade? Aonde está o COI que não se pronuncia sobre essa face autoritária dos Jogos Olímpicos de 2016?
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Enviada para Combate Racismo Ambiental por Hertz Leal.