Conglomerados econômicos ‘devoram’ países inteiros

Compram enormes superfícies de terras próprias para agricultura

De Managua, Giorgio Trucchi, em Rel-UITA

Recentemente, o portal de notícias internacionais New Eastern Outlook publicou um relatório destacando o envolvimento de grandes conglomerados econômicos, com a Monsanto na cabeça, na compra de enormes extensões de terras no mundo inteiro.

De acordo com vários especialistas internacionais – assinala o portal – a compra de terrenos representa um “investimento econômico altamente lucrativo”, tanto para países desenvolvidos como para suas empresas transnacionais.

Neste sentido, para os países como a China, a Coreia do Sul, o Japão, a Índia, as nações do Golfo Pérsico e os Estados Unidos, entre outros, a compra de terrenos agrícolas fora de suas fronteiras nacionais se converteu em uma “política de Estado”.

Se há alguns anos o continente africano era o território mais atrativo para se adquirir extensões enormes de terras a baixo custo, a crise econômica e financeira da Ucrânia colocou esta nação no topo das preferidas.

De acordo com dados do New Eastern Outlook, o fenômeno da estrangeirização das terras na África atinge mais de 60 milhões de hectares, ou seja, duas vezes a superfície do Reino Unido.

Países à venda | Transgênicos e agrocombustíveis por todo lado

Na Etiópia, explica o site, o preço do aluguel anual de um terreno não supera 1,20 dólares por hectare, enquanto o preço de venda se mantém entre 20 e 30 dólares.

Nos últimos anos, os países que mais investiram na compra de terrenos neste continente são a Alemanha e os Estados Unidos.

“As empresas destes países cultivam principalmente o trigo e o dendê geneticamente modificados para a produção de agrocombustíveis.

A Monsanto, empresa líder na produção de alimentos transgênicos, tem sido muito ativa neste sentido”, explica o New Eastern Outlook.

O site revela também o envolvimento de várias universidades norte-americanas na compra de terrenos na África, entre elas a Harvard University e a Vanderbilt University, que estão comprando por meio do mediador inglês Emergent Aset Management.

A Universidade de Iowa, em parceria com a AgriSol, começou um projeto na Tanzânia avaliado em mais de 700 milhões de dólares, que prevê o deslocamento das comunidades Katoomba e Misham, onde vivem mais de 160 mil pessoas.

Frequentemente – informa a mesma fonte – estes novos “latifundiários” são cidadãos norte-americanos que aproveitam o seu cargo institucional para estas finalidades.

“O então embaixador dos Estados Unidos no Sudão, Howard Eugene Douglas, fundou a Kinyeti Development Company, com sede legal no Texas, convertendo-se em proprietário de aproximadamente 600 mil hectares de terras”.

Não deixa de surpreender o fato de que, no momento de iniciar a sua atividade no setor imobiliário, Douglas desempenhava o cargo de coordenador para os refugiados no Sudão, muitos deles vítimas de despejos realizados pela própria empresa”, lembra o New Eastern Outlook.

Ucrânia: de celeiro da Europa | A dispersor de venenos

Muitas vezes, a compra de terrenos é feita de maneira semi oculta, buscando fugir das legislações nacionais que proíbem a venda para estrangeiros. O portal internacional explica que, nestes casos, são criadas joint ventures.

“Finalmente, a aquisição de terras revelará seu verdadeiro objetivo: o colonialismo. Se no passado, para criar uma colônia havia a necessidade de ocupar um território pela força, agora é suficiente comprá-lo, e os novos proprietários são os que mandam”, analisa a publicação.

O caso da Ucrânia se destaca pelo processo acelerado de estrangeirização de territórios.

A Ucrânia é o terceiro exportador mundial de milho e o quinto de trigo. Tem 32 milhões de hectares de terras de cultivo, ou seja, um terço da terra produtiva de toda a União Europeia.

De acordo com os dados do governo com respeito ao uso das terras neste país, 75 por cento das terras aráveis – cerca de 33 milhões de hectares – já estão em mãos de particulares, entre eles as diferentes corporações agroindustriais europeias e norte-americanas.

“Estas empresas são atraídas pelo baixo custo e pela fertilidade da terra negra da Ucrânia, neste momento o melhor lugar do mundo para cultivar alimentos geneticamente modificados e milho para agrocombustíveis.

A Monsanto já anunciou um investimento multimilionário no setor agrícola ucraniano. “As outras empresas farão a mesma coisa, como a Cargill e a Dupont”, avisa o New Eastern Outlook.

Definitivamente, trata-se de uma verdadeira escalada no setor agrícola ucraniano.

A Cargill, por exemplo, já controla mais de 5 por cento da Ucraina UkrLandFarming, uma das maiores empresas agrícolas do país, ao mesmo tempo em que comercializa em grande escala agrotóxicos, sementes transgênicas e fertilizantes.

O portal internacional adverte também sobre a presença na Ucrânia de umas 40 empresas agrícolas alemãs, que operam em terrenos entre 2.000 e 3.000 hectares.

E se isso fosse pouco, o fundo de pensões norte-americano NCH Capital já arrendou perto de 450 hectares e se envolveu com a produção de transgênicos.

O resultado desta política, que tem fortes interesses geoestratégicos, promovida e estimulada pela União Europeia, Estados Unidos e organismos financeiros internacionais, é que, atualmente, cerca de 1,7 milhão de hectares de terrenos agrícolas da Ucrânia estão em mãos de estrangeiros.

Alerta glifosato | Autoridades mudas, cegas e surdas

No dia 3 de maio passado, mais de 30 mil médicos e especialistas em saúde da América Latina exigiram que os produtos da Monsanto fossem proibidos. Um dos principais argumentos é a recente confirmação pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de que o glisofato é causador de câncer.

A Monsanto desenvolveu e patenteou este herbicida de amplo espectro em 1974 e, ainda que sua patente tenha expirado em 2000, continua sendo o princípio ativo do herbicida Roundup, que está associado à maioria dos seus transgênicos.

“Infelizmente, a estrangeirização das terras e a expansão dos cultivos transgênicos parecem não preocupar as autoridades ucranianas, que se mostraram totalmente desinteressadas sobre os perigos que existem tanto para os seus concidadãos como para o restante da população europeia”, concluiu o New Eastern Outlook.

Tradução: Luciana Gaffrée.

Foto: Boligan |Cartonclub, reproduzido do site da Rel-UITA.

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