Em jornal do Pará, anúncio pede criança de 12 a 18 anos para adoção e trabalho de babá

Tania Pacheco – Combate Racismo Ambiental

Enquanto diferentes instâncias públicas se voltam para a investigação do caso das crianças de quilombos Kalunga, entregues a famílias de Cavalcante, Goiás, e submetidas a condições de semiescravidão e, em alguns casos, até mesmo a abusos, duas novas histórias apareceram ontem, agora no Pará.

No Diário do Pará, um anúncio classificado publicado anteontem (02/05) pedia menina de 12 a 18 anos para uma “adoção”, a partir da qual trabalharia como babá. Denunciado, o pedido provocou indignação e, felizmente, a ação imediata de uma juíza, que telefonou e confirmou sua veracidade. Das redes sociais, a história ganhou espaço também no universo blogueiro.

O Blog da Franssinete Florenzano parece ter sido o primeiro a veiculá-la, ontem, e, entre outras reações, recebeu como resposta outra denúncia, envolvendo situação assemelhada e que estaria sendo investigada pela Justiça e pelo Ministério Público do Trabalho, em Marabá.

A história inicial chegou hoje à chamada grande imprensa. No Blog da Franssinete Florenzano, entretanto, ela já está no seu terceiro capítulo, com notícia de hoje que informa sobre outros desdobramentos que o caso teve.

Abaixo, linkadas a partir dos títulos, as três notícias.

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Três notícias  do “Blog da Franssinete Florenzano”

Fonte: Blob da Franssinete Florenzano
Reprodução Blog da Franssinete Florenzano

Casal anuncia trabalho infantil e escravo

Um anúncio chocante, de trabalho infantil, trabalho análogo ao de escravo e adoção ilegal, veiculado no jornal Diário do Pará, foi denunciado hoje cedinho por um advogado à presidente da Associação dos Magistrados Trabalhistas da 8ª Região, juíza Claudine Rodrigues. Nos classificados, um casal que se diz de empresários, moradores apto. 202 do Condomínio Viver Castanheira, localizado na BR-316, perto do Viaduto do Coqueiro, ao lado da Amepa- Associação dos Magistrados do Pará, anuncia a “adoção” de menina de 12 a 18 anos, para morar com eles e cuidar de um bebê de um aninho.

A juíza – que através da Amatra8 desenvolve o projeto Trabalho, Justiça e Cidadania, justamente em prol da infância e da juventude – ligou pessoalmente, do telefone institucional, sem se identificar, e confirmou a veracidade da denúncia. A pessoa que atendeu ao telefonema disse que o casal precisava de uma babá “com as exigências que estavam no jornal” (criança de 12 a adolescente de 18 anos, que resida no emprego). Quando a magistrada perguntou se a candidata poderia ter mais de 18 anos, ouviu um sonoro “de jeito nenhum!”. E na hora em que indagou o nome do contratante o homem desligou o telefone.

As juízas do trabalho Zuíla Dutra e Vanilza Malcher, que coordenam a campanha de erradicação do trabalho infantil do TRT8 e TST, já entraram em campo, também. Acionado com a cobrança de providências urgentes, o diretor geral da RBA, Camilo Centeno, prometeu que “tomaria as medidas necessárias imediatamente”. Amanhã mesmo será instaurada investigação pelo Ministério Público do Trabalho contra as pessoas físicas e o veículo de comunicação, já adiantou a procuradora-geral do MPT, Gisele Góes, e o Ministério Público do Estado também deverá ajuizar uma ação.

Em Marabá, outro anúncio para crianças

A grande repercussão nas redes sociais do anúncio no sentido do trabalho infantil, trabalho análogo ao escravo e adoção ilegal está levando a outros casos. Há cerca de duas semanas uma mulher, identificada como Cristiane Soares Melo, evangélica, casada com um pastor e com uma filha de dois anos, postou no grupo de bazar no Facebook “Venda, compras e trocas – Marabá” que estava procurando uma menina carente para ajudar, que morasse com ela, e “se fosse menor de idade” pretendia “por na escola para estudar, levar e buscar, cuidar como filha”.

O caso chegou ao conhecimento do juiz do trabalho Jônatas Andrade – cuja brilhante atuação no combate ao trabalho escravo já lhe rendeu ameaças de morte, além de prêmios de entidades de defesa dos direitos humanos. O magistrado acionou de imediato ao Ministério Público do Trabalho em Marabá. Amanhã mesmo o MPT vai abrir procedimento apuratório. Ecos da herança escravagista? Quadrilha de pedófilos? Ou tráfico de pessoas? Confiram o print da postagem aí em cima. Uma coisa é certa: Essa repetição de perfil (casal evangélico, bebê) é por demais suspeita.

Polícia identificou autores do anúncio

A Polícia Civil do Pará já identificou várias pessoas envolvidas no anúncio ofertando vaga de babá a meninas na faixa etária de 12 a 18 anos. Além do casal a que se refere, um homem que se diz advogado mas na verdade é rábula afirma representar o casal, assumiu ter feito o anúncio e é dono de uma das linhas telefônicas publicadas, e mais uma quarta pessoa, dona de outra das linhas telefônicas veiculadas. O tal rábula já foi ouvido hoje, e amanhã o casal e o quarto envolvido serão intimados a prestar depoimento, assim como a direção do jornal Diário do Pará. A delegada Simone Edoron, titular da Diretoria de Atendimento a Grupos Vulneráveis, está à frente do caso.

O rábula contou uma história mirabolante. Que conheceu o casal em um acidente de trânsito, se compadeceu porque eles precisavam de uma babá para cuidar do bebê, que se ofereceu para fazer o anúncio e pediu para usar a linha da quarta pessoa. Não explica o porquê de tanto interesse. E, já que se apresentou como advogado, embora não seja, conhece a lei e não tem como justificar a exigência da faixa etária de 12 a 18 anos, muito menos a adoção ilegal.

Fonte: Blob da Franssinete Florenzano
Fonte: Reprodução Blog da Franssinete Florenzano

Destaque: ilustração trabalho escravo CPT.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Ana Beatriz Lisboa.

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