Na semana do dia 26 de abril, uma série de atos e de debates por todo o país irão questionar o papel da empresa na história política do Brasil
Brasil de Fato, via MST
O aniversário de 50 anos da Rede Globo será “descomemorado” por movimentos sociais, sindicatos, coletivos de juventude e mídia alternativa. Na semana do dia 26 de abril, uma série de atos e debates por todo o país irão questionar o papel da empresa na história política do Brasil, as suspeitas de sonegação de seus impostos e a barreira que ela impõe para a democratização da comunicação.
No manifesto “50 anos da TV Globo: vamos descomemorar!”, as entidades afirmam que o grupo midiático atuou no apoio à ditadura militar – e foi beneficiada por isso -, e “na fase recente, a TV Globo militou contra todo e qualquer avanço mais progressista, atuando na desestabilização dos governos que não rezam integralmente a sua cartilha. Nas marchas de março desse ano, ela ajudou a mobilizar o anseio golpista e garantiu a ele todos seus holofotes”.
Estão entre as organizações que assinam o manifesto o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a União Nacional dos Estudantes (UNE), o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), o Centro de Estudos Barão de Itararé, o Fora do Eixo e o Brasil de Fato.
Em São Paulo uma manifestação está programada para o dia 26, domingo, às 15h, com concentração na Praça General Gentil Falcão. Um evento no Facebook foi criado para convocar as pessoas para a ação, chamado “ATO FORA GLOBO – 50 anos de mentira!”. Na mesma data, acontecerá o ato de Porto Alegre, a partir das 14h, nos Arcos da Redenção. O evento que convoca a ação no Facebook é o “FORA GLOBO/RBS! A festa acabou: 50 anos de mentira!”.
Detenção em protesto
Na última terça-feira (14), um protesto na Câmara dos Deputados, em sessão solene que homenageava os 50 anos da Rede Globo, terminou com a detenção do repórter do Brasil de Fato Pedro Rafael Vilela, além de outras duas pessoas. De acordo com o jornalista, “o objetivo [da ação] era estender, silenciosamente, uma faixa que dizia ‘A verdade é dura, a Rede Globo apoiou a ditadura’. É necessário ‘descomemorar’ o aniversário da Globo, pois ela beneficiou o regime militar e se beneficiou dele, representante hoje a concentração de riqueza e de poder”.
Vilela, que também é integrante do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, explicou: “Não queremos o fim da Rede Globo. Queremos pluralidade de ideias e diversidade da mídia, além de políticas públicas que incentivem e não criminalizem as mídias livres e comunitárias”. Leia na íntegra o manifesto:
50 ANOS DA TV GLOBO: VAMOS DESCOMEMORAR!
TV Globo festejará os seus 50 anos de existência no dia 26 de abril. Serão promovidos megaeventos e lançados vários produtos comemorativos. No mesmo período, porém, muita gente está disposta a promover a “descomemoração” do aniversário do império global, um ato de repúdio ao papel nocivo desse grupo de mídia na história do país. Uma palavra-de-ordem que se destaca em todo o Brasil em manifestações recentes é: “O povo não é bobo. Fora Rede Globo”. E motivos não faltam para esta revolta.
A emissora é filha bastarda do golpe militar de 1964. O então diretor do jornal “O Globo” Roberto Marinho foi um dos principais incentivadores da deposição do presidente João Goulart, dando sustentação ideológica à ação das Forças Armadas. Um ano depois, foi fundada a sua emissora de televisão, que ganhou as graças dos ditadores. O império foi construído com incentivos públicos, isenções fiscais e outras mutretas. Os concorrentes no setor foram alijados, apesar do falso discurso global sobre o livre mercado.
Nascida da costela da ditadura, a TV Globo tem um DNA golpista. Apoiou abertamente as prisões, torturas e assassinatos de inúmeros lutadores patriotas e democratas que combateram o regime autoritário. Fez de tudo para salvar o regime dos ditadores, inclusive omitindo a jornada das Diretas Já na década de 80. Com a democratização do país, ela atuou para eleger seus candidatos – os falsos “caçadores de marajás” e os convertidos “príncipes neoliberais”. Na fase recente, a TV Globo militou contra toda e qualquer avanço mais progressista, atuando na desestabilização dos governos que não rezam integralmente a sua cartilha. Nas marchas de março desse ano, ela ajudou a mobilizar o anseio golpista e garantiu a ele todos seus holofotes.
A revolta contra a Globo que ganha corpo está ligada também à postura sempre autoritária diante dos movimentos sociais brasileiros. As lutas dos trabalhadores ou não são notícia na telinha ou são duramente criminalizadas. A emissora nunca escondeu o seu ódio ao sindicalismo, às lutas da juventude, aos movimentos dos sem-terra e dos sem-teto. Através da sua programação, não é nada raro ver a naturalização e o reforço ao ódio e ao preconceito. Esse clima de controle e censura oprime jornalistas, radialistas e demais trabalhadores da empresa, que são subjugados por uma linha editorial que impede, na prática, o exercício do bom jornalismo, servidor do interesse público, em vez da submissão à ânsia de poder de grupos privados.
Além da sua linha editorial golpista e autoritária, a Rede Globo – que adora criminalizar a política e posar de paladina da ética – está envolvida em inúmeros casos suspeitos. Até hoje, ela não mostrou o Darf (Documento de Arrecadação de Receitas Federais) do pagamento dos seus impostos, o que só reforça a suspeita da bilionária sonegação da empresa na compra dos direitos de transmissão da Copa do Mundo de 2002. A falta de transparência do império em inúmeros negócios é total. Ela prega o chamado “Estado mínimo”, mas vive mamando nos cofres públicos, seja através dos recursos milionários da publicidade oficial ou de outros expedientes mais sinistros.
Essas e outras razões explicam o forte desejo de manifestar o repúdio à TV Globo em seu aniversário de 50 anos. Assim, vamos realizar em torno do dia 26 de abril uma série de manifestações, em todo o país, para denunciar a emissora como golpista ontem e hoje; exigir a comprovação do pagamento de seus impostos; e reforçar a luta por uma mídia democrática no Brasil.
Sem enfrentar o poder e colocar limites à maior emissora do Brasil – e uma das cinco maiores do mundo – não será possível garantir a regulamentação dos artigos da Constituição que proíbem o monopólio para levar a cabo a democratização do país. Por isso, vamos às ruas contra a Globo e convidamos todos os brasileiros comprometidos com a democracia, a liberdade de expressão, a cultura nacional, o jornalismo livre e a soberania popular a participar das manifestações em todo o país.
Assinam (em ordem alfabética):
- ANPG – Associação Nacional de Pós-Graduandos
- Associação Franciscana de Defesa de Direitos e Formação Popular
- Blog da Cidadania
- Blog Maria Frô
- Blog O Cafezinho
- Blog Viomundo
- Brasil de Fato
- Campanha por uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político
- Centro de Estudos Barão de Itarare
- Consulta Popular
- Contracs – Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços
- CTB- Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil
- CUT- Central Única dos Trabalhadores
- Enegrecer- Coletivo Nacional de Juventude Negra
- FNDC- Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação
- Fora do Eixo
- FUP- Federação Única dos Petroleiros
- Intersindical Central da Classe Trabalhadora
- Intervozes
- Jornal Página 13
- Juventude do PT
- Juventude Revolução
- Levante Popular da Juventude
- MAB- Movimento dos Atingidos por Barragens
- Marcha Mundial das Mulheres
- Movimento JUNTOS!
- MST- Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
- MTST- Movimento dos Trabalhadores Sem Teto
- Nação Hip Hop Brasil
- Sindicato dos Professores de Campinas (Sinpro)
- Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo
- UBM- União Brasileira de Mulheres
- UJS- União da Juventude Socialista
- UNE- União Nacional dos Estudantes
- Uneafro-Brasil
- Vermelho
*Para aderir ao manifesto, envie o nome da sua entidade para [email protected]