Marilena Chauí: o impeachment e o ódio de classe

“Tentam preparar uma gigantesca vitória do capital”, diz professora, na USP: “Começou em agosto de 2013. A classe dominante quer — e uma classe média proto-fascista apoia”

Por Marilena Chauí, Outras Palavras*

“Queria, por um segundo, retomar o que disse Paulo Arantes e manifestar a preocupação que tenho desde agosto de 2013 e manifesto em público, em privado e por escrito. Agosto foi o instante no qual se deu a virada em relação ao que se passara no movimento vitorioso do Passe Livre. Quando os meninos tentaram, com seus símbolos e bandeiras, comemorar na avenida Paulista, foram batidos e ensanguentados por pessoas vestidas com a bandeira do Brasil e que diziam: ‘meu partido é o meu país’.

Já vimos, os mais velhos, esta cena acontecer no Brasil, em 1964. O processo de impeachment é apenas a cereja no bolo de um processo muito mais longo e complicado que vem ocorrendo. Queria lembrar que certos projetos de lei que tramitam na Câmara e no Senado deveriam ter sido objeto também de manifestações gigantescas. A mudança na maioridade penal. A ‘Lei Anti-terrorismo’, que não vai pegar apenas nós, que estamos reunidos aqui. Os primeiros, mostra a fala do Ronaldo Caiado, serão os meninos do MST. (mais…)

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A ameaça ao Estado democrático em nome do livre mercado

Cândido Grzybowski*, Ibase

A crise, com suas confusões e desencontros, algo espalhafatoso e de muita fumaça política, acaba encobrindo processos mais profundos, que podem fazer ruir estruturas fundamentais para o próprio aprofundamento da democracia. Não bastasse o avanço no Congresso de uma agenda extremamente regressiva e conservadora em termos da laicicidade do Estado, liberdades individuais, direitos de escolha e de ser diferente, estatuto do desarmamento, terras indígenas, mineração, temas que já contaminam o debate público, temos a grande questão das políticas sociais postas em questão como conquistas da Constituição Cidadã de 1988. Parece absurdo, mas há atores influentes, que merecem destaque na grande mídia, vendo as conquistas democráticas constitucionais em termos de saúde, educação e previdência como a origem da crise fiscal do Estado. (mais…)

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RJ – ENSP exibirá documentário sobre democracia e cidadania amanhã, 06/11

Fiocruz

Na sexta-feira (6/11), às 13h30, a ENSP vai receber a cineasta portuguesa Raquel Freire que apresentará seu documentário Dreamocracy, correalizado em parceria com a cineasta francesa Valérie Mitteaux. Esta é uma iniciativa da Vice-Direção de Ensino da Escola e visa, assim como o filme, abrir espaço para uma discussão qualificada sobre cidadania e democracia. Ao retratar um cenário de turbulência, tendo Portugal como foco, o documentário debate a conjuntura do país em que a crise econômica parece por em questão a democracia, entendida como um dos mais relevantes pressupostos da cidadania. A partir disso percebeu-se a pertinência e atualidade em relação ao nosso cenário brasileiro. Além disso, o debate pretende levantar questões, como quem somos, quem queremos ser, quais os novos paradigmas, como podemos viver em conjunto, que sociedade queremos construir, e quais os caminhos para as diversas formas de felicidade. A exibição do filme será no salão internacional, no 4º andar, e a participação é livre, não sendo necessária inscrição prévia. (mais…)

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“A desigualdade do Brasil é disfuncional para a democracia”

O economista e sociólogo Marcelo Medeiros gosta de ser didático nas explicações. Foge o quanto pode da polarização política da moda para falar de um assunto delicado: a trajetória dos índices de desigualdade no Brasil, especialmente na última década. Professor de sociologia da Universidade de Brasília e pesquisador do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), subordinado ao Governo Federal, Medeiros tem longo percurso de estudo do tema. Mais recentemente, abriu caminho no Brasil, junto com orientandos que ele prefere chamar de colegas, para o estudo da disparidade de renda com base nos dados do imposto de renda, tal qual o economista francês Thomas Piketty

Flávia Marreiro – El País / IHU On-Line

Na entrevista abaixo, ele comenta um trabalho conjunto com Pedro Ferreira de Souza e Fabio Castro que apontou a estabilidade da desigualdade entre 2006 e 2012, usando a metodologia que combina cifras do imposto de renda e pesquisas domiciliares. A pesquisa não foi divulgada pelo IPEA durante as eleições presidenciais —uma das narrativas principais do Governo é sobre a queda da pobreza e da desigualdade no período. Foi uma pequena crise na instituição e o veto à pesquisa foi parar na representação do PSDB que acusa Dilma Rousseff de ter “abusado do poder político” durante a disputa eleitoral. O ação ainda está em curso. (mais…)

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Sociedade deve ir para a rua, diz sociólogo português Boaventura de Souza Santos

Vladimir Platonow – Repórter da Agência Brasil

O resgate da democracia, sequestrada pelas forças do mercado, será feito com a retomada das ruas pela sociedade, único espaço ainda não colonizado. A análise é do sociólogo português Boaventura de Souza Santos, que participou no Rio do seminário Cultura e Política, iniciativa do programa Cultura e Pensamento, do Ministério da Cultura.

O encontro de Boaventura com estudantes e professores ocorreu no Teatro de Arena na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) na última quinta-feira (29), quando o intelectual falou e respondeu perguntas da platéia. Entre os assuntos principais abordados, ele destacou o esgotamento da democracia representativa tradicional, na qual se elegem políticos para representar a população, e a busca pela democracia participativa, com atuação direta dos eleitores, seja através de plebiscitos ou por manifestações de rua. (mais…)

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Controle social, do Grande Irmão ao Big Data, por Ignacio Ramonet

Como Estados e mega-corporações praticam, juntos, vigilância permanente. De que modo isso corrói vida privada — sem a qual não pode, segundo Rousseau e Hannah Arendt, haver liberdade

Tradução: Inês Castilho, em Outras Palavras

A ideia de um mundo colocado sob “vigilância total” pareceu durante muito tempo um delírio utópico ou paranóico, fruto da imaginação mais ou menos alucinada dos obcecados pela conspiração. Mas é preciso reconhecer a evidência: vivemos, aqui e agora, sob o olhar de uma espécie de império da vigilância. Sem que saibamos, cada vez mais nos observam, nos espiam, nos vigiam, nos controlam, nos ficham. A cada dia novas tecnologias tornam-se mais refinadas, na perseguição do nosso rastro. Empresas comerciais e agências publicitárias registram nossa vida. Mas, sobretudo, sob o pretexto de lutar contra o terrorismo ou contra outras mazelas (pornografia infantil, lavagem de dinheiro, narcotráfico), os governos – incluindo os mais democráticos – se erigem em Grande Irmão e já não têm dúvidas em infringir suas próprias leis para nos espionar melhor. Secretamente, os novos Estados orwellianos buscam construir arquivos completos de nossos contatos e dados pessoais, exatamente como aparecem em diversos suportes eletrônicos. (mais…)

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Uma democracia forte é laica

Por Ivanilda Figueiredo* – Plataforma Dhesca

Democracia não é o regime político no qual a maioria impõe as diversas minorias suas decisões. Democracia não se faz apenas nos votos. Democracia necessita antes de tudo de garantia de direitos. É preciso um ambiente onde cada indivíduo, independente de suas características e de pertencer, ou não, à maioria tenha direitos assegurados e que não possam ser arbitrariamente usurpados. (mais…)

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Ódio? Sim, de classe, por Mino Carta

IHU OnLine – “O governo cede às pressões da casa-grande e aceita o naufrágio dos avanços sociais que ele próprio promoveu nos últimos 12 anos”, escreve Mino Carta, em editorial da revista CartaCapital, 11-09-2015Eis o editorial:

* * *

A crise econômica oferece à casa-grande a oportunidade de impor sua vontade, favorecida pela leniência de quem haveria de resistir. E está claro que, antes de econômica, a questão é política e social, e diz respeito à estrutura medieval da sociedade nativa. Sofre de miopia quem supõe, do ponto de vista político, que tudo se resuma na disputa do poder entre PT e PSDB, acirrada por níveis de ódio nunca dantes navegados, enquanto PMDB ora assiste de camarote, ora joga lenha na fogueira. Que o diga o vice Temer ao vaticinar impávido que Dilma, de tão impopular, não resiste até o fim do mandato. (mais…)

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O fantasma do Ultra-capitalismo

Três acordos globais de comércio, negociados em sigilo, ameaçam direitos sociais, ambiente e próprio sentido da democracia. Que são e como afetam o Brasil

Por Antonio Martins – Outras Palavras

1.
Sobre salas blindadas e seus segredos

Num texto publicado há dias, por Outras Palavras, o sociólogo Michel Löwy expõe, em termos teóricos, a crescente tensão entre a voracidade do capitalismo e a fragilidade da democracia, acossada por um sistema que deseja reduzir todas as relações sociais a mercadoria. Para um exemplo concreto, considere este relato, feito pelo jornalista Robert Smith e publicado em 14/8 pelo diário britânico The Independent. (mais…)

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Nova onda de democratização, por onde recomeçar?

Cândido Grzybowski*

Já cansei de tentar entender os movimentos erráticos da conjuntura política. Tudo se move para todos os lados. Uma confusão só, pois ninguém no centro das disputas, da situação ou oposição, sabe para onde ir. A ocasião é para os oportunistas de plantão, com seus pequenos interesses, com iniciativas de desconstrução de direitos, instituições e políticas, uma verdadeira ameaça para a institucionalidade democrática, que foi difícil de conquistar. Ganham fundamentalistas religiosos, com suas agendas nada republicanas contra o Estado laico, a agenda igualitária, sem discriminações, os direitos de minorias desfavorecidas. Ganham, também, os defensores de poderosos interesses corporativistas, como do agronegócio, da mineração, da bala e da repressão, do funcionalismo. Tudo na mais descarada negociação do “toma lá e dá cá”, apesar de investigações como a Lava Jato. Digo e reafirmo, estamos numa profunda crise de hegemonia, onde há, sim, forças políticas e disputas, mas lhes falta legitimidade, falta a elas uma direção política, uma afirmação de projeto de país que dá sentido e rumo. Talvez o clamor mais claro das ruas – por sinal, elas mesmas uma grande erupção confusa -, de um lado e outro, é a contestação da representação política. (mais…)

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