Por Renato Santana, da Assessoria de Comunicação – Cimi
Quatro homens não identificados foram retidos nesta segunda-feira, 16, pela comunidade do tekoha – lugar onde se é – Tey’i Juçu, município de Caarapó (MS). Os indivíduos circulavam no perímetro da área retomada pelos Kaiowá e Guarani, no último dia 7, e foram apanhados enquanto se dirigiam ao acampamento erguido pelos indígenas. A Polícia Federal foi acionada pela Funai e no final do dia os agentes levaram os quatro homens da terra indígena para a carceragem de Dourados.
Conforme lideranças Kaiowá e Guarani, os indivíduos estavam armados, dois deles eram paraguaios e teriam sido enviados por fazendeiros para ameaçar e intimidar a comunidade. “Eram pistoleiros, né. Não fizemos maldade não. Apenas pintamos eles, demos cocares e colocamos eles para participar de um ritual e dança do nosso povo. Um deles assumiu que fazendeiro mandou para botar medo, mandar patrício (parentes indígenas) sair”, explica o cacique Lourival Kaiowá e Guarani.
Vander Nishijima, Chefe de Divisão e coordenador interino da Funai em Dourados, solicitou à Polícia Federal o resultado da diligência: “Os indivíduos estavam portando armas de fogo, mas não sabemos de mais detalhes. Quem são, se ficarão presos, ou se trabalham nas fazendas”, diz. Nishijima conta que recebeu uma ligação das lideranças do Tey’i Juçu informando sobre a retenção dos quatro homens. “Então comuniquei aos policiais, que se dirigiram ao local e levaram os indivíduos”, conclui.
As lideranças da terra indígena, que abrange o tekoha Tey’i Juçu, são enfáticas ao dizer que diariamente a comunidade recebe ameaças. Por conta disso os indígenas estavam preparados e aguardando a visita do dia; assim puderam se antecipar e deter o quarteto. Na última sexta-feira, 12, movimentos sociais e organizações de direitos humanos visitaram Tey’i Juçu. “Constatamos um ambiente de vulnerabilidade, como a fome e a falta de acesso a fontes de água potável. As entidades que integraram a visita vão ajudar nisso”, afirma um dos assessores jurídicos do Cimi presente na visita.
Na última segunda, 15, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) do Mato Grosso do Sul bloqueou por cinco horas a BR-262, na altura do município de Terenos, em defesa da demarcação das terras indígenas e por uma reforma agrária popular, no estado.
“Há anos assistimos o sangue dos indígenas escorrerem nas mãos do latifúndio ou das forças armadas, assim como muitos dos nossos que tombaram na luta por terra e justiça social. Tudo isso por omissão dos poderes constituídos, responsáveis por agir concretamente na demarcação e na Reforma Agrária. Por isso estamos realizando essa ação, e realizaremos quantas mais forem necessárias para chamarmos a atenção dos que precisam resolver essa situação alarmante, antes que uma guerra se instaure em nosso estado”, disse na ocasião Dinho Lopes, da direção estadual do MST-MS.
A Aty Guasu – grande reunião Kaiowá e Guarani – divulgou uma nota do tekoha Tey’i Juçu sobre a situação da retomada, onde os indígenas reafirmam o que desde o último dia 8 a jovem de 17 anos Julia Venezuela de Almeida está desaparecida depois de ser baleada e ter o corpo sequestrado pelos agressores – fazendeiros, arrendatários e capangas.
Leia na íntegra a nota da Aty Guasu.