Kátia Brasil – Amazônia Real
As águas do rio Madeira começaram a subir novamente desde a última semana do mês de novembro. É a enchente que chega, deixando uma sensação de incertezas às famílias que perderam tudo, dos plantios às residências, na cheia histórica do início de 2014 que inundou Porto Velho, capital de Rondônia.
Passado o ciclo da enchente, que teve seu ápice entre os meses de janeiro e junho, nenhuma autoridade de Rondônia confirmou se as hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, em construção no rio Madeiro, foram as responsáveis ou não pela situação de calamidade que se abateu nas zonas rural e urbana de Porto Velho, deixando 25 mil pessoas desabrigadas.
Sensibilizada com o drama das populações ribeirinhas de Porto Velho, a cineasta Lou-Ann Kleppa dirigiu o documentário “Entre a Cheia e o Vazio”. O roteiro do filme é de Luis Fernando Novoa Garzon, sociólogo e professor da Universidade Federal de Rondônia, instituição que produziu o documentário junto com o Mapeamento Social como Instrumento de Gestão Territorial contra o Desmatamento e a Devastação (Núcleo Rondônia).
Lou-Ann Kleppa disse à agência Amazônia Real que o objetivo do documentário é interrogar as relações entre a cheia do Madeira em 2014 e as usinas hidrelétricas de Santo Antonio e Jirau. “O consenso propalado pelos empreendedores das obras de que ‘a cheia foi natural’ é desvelado por pesquisadores independentes e comunidades ribeirinhas afetadas”, disse.
Participam do documentário os pesquisadores, que foram convocados pelo Ministério Federal de Rondônia para fazer uma perícia técnica sobre o desastre ambiental, ainda não concluída: o cientista Philip Fearnside, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, e os professores Edna Castro, da Universidade Federal do Pará (Núcleo de Altos Estudos Amazônicos), Célio Bermann, do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP), e Jorge Molina, do Instituto de Hidráulica e Hidrología (IHH) da Universidad Mayor de San Andrés (UMSA).
Segundo Lou-Ann Kleppa, o cientista Philip Fearnside teve papel importante na condução do pensamento do documentário. “No capítulo sobre energia limpa, o pesquisador pergunta se a usina de Santo Antonio está monitorando os níveis de gases de efeito estufa, como metano, por exemplo. A reação de ignorância do gerente dos 27 programas ambientais da usina é uma confissão clara de que os critérios de ‘energia limpa’ são estabelecidos pela própria usina. Philip Fearnside mostra no filme que a usina Santo Antonio ultrapassou (em muito) a maior usina emissora de gases de efeito estufa em 2004, Três Marias”, afirmou a diretora.
No mês passado, o documentário “Entre a cheia e o vazio” ganhou o Prêmio Lídio Sohn de Melhor Produção Rondoniense no FestCineAmazônia (2014). Integram também a equipe do documentário Carlos Fiengo, Rodrigo Rodriguez, João Marcos Dutra, Eliaquim da Cunha, Paula Stolerman, Daniela Moreira, Inaê Level, Mario Venere e Altino Machado.
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Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.