Gilberto Carvalho tem diálogo tenso com índios contrários à usina de Teles Pires

O ministro recebeu reclamação dos índios, que se recusavam a entrar no Palácio do Planalto

Catarina Alencastro e André de Souza, O Globo

BRASÍLIA – A rixa entre o governo e índios em torno da construção de hidrelétricas ganhou um novo ingrediente nesta quinta-feira, quando o secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho, foi obrigado a descer de seu gabinete no Palácio do Planalto para acalmar os ânimos de um grupo de índios das tribos Munduruku e Kayabi, que protestavam contra a construção da hidrelétrica Teles Pires, no norte do Mato Grosso.

Os índios vieram trazer uma lista de reivindicações à Presidência e se recusavam a entrar no Palácio. O GLOBO testemunhou o diálogo entre Gilberto Carvalho e um integrante da tribo Munduruku. O debate aconteceu na divisa entre a entrada do Planalto e o lado de fora:

— Vocês tem duas opções: uma delas é inteligente: é dizer ok, nós vamos acompanhar, vamos exigir direitos nossos, vamos exigir preservação disso e disso e benefícios para nós. A outra é dizer não. Isso vai virar, infelizmente, uma coisa muito triste, e vai prejudicar muito a todos, ao governo, mas também a vocês. A hidrelétrica a gente não faz porque a gente quer, (mas) porque o país precisa — explicava Gilberto.

— A natureza também o país precisa — respondeu o representante da tribo, insistindo para que o interlocutor da presidente Dilma assinasse o recebimento da reivindicação deles.

— Eu assino. O que eu tô querendo dizer pra vocês é olho no olho. Eu não quero enganar. Nós vamos fazer tudo dentro da lei, nós vamos fazer as oitivas, vamos fazer as audiências — ponderou Gilberto Carvalho.

— Tem que olhar o nosso lado também — pediu o índio.

— Tamo (sic) olhando — afirmou o ministro.

— Nós viemos na casa de vocês… — insistiu o índio.

— A casa é de todo mundo do Brasil — observou Gilberto.

— Mas nossa área é nossa vida. E se a gente quebrar tudo aqui? — ameaçou o índio.

Neste momento, Gilberto, tenso, começou a andar em direção à mesa de recepção do Planalto, para assinar o documento:

— Eu vou receber (o documento). Eu vou pedir a vocês que subam lá, ouvir meu compromisso e levar meu compromisso. Eu vou assinar.

Depois de assinar a pauta, Gilberto volta e insiste mais uma vez para que os índios subam ao seu gabinete para ouvir a posição do governo:

— Eu já assinei. Mas sobe lá para ouvir. Aqui é a casa do povo.

— Se for pra falar de hidrelétrica, a gente não vai — manteve o índio.

— Ninguém vai falar de hidrelétrica, não. Ninguém vai enganar vocês. Eu não engano ninguém, eu falo as coisas com clareza, esta é a minha preocupação. Vocês já foram enganados muito tempo, séculos — prometeu o ministro.

— Nós vamos subir, você ler o documento (deles), vai assumir o compromisso e em nenhum momento vai falar de hidrelétrica — sugeriu o índio.

— Tá bom. A casa é de vocês — encerrou Gilberto.

— Eu não vou dormir aqui, não. Aqui não é a minha casa, não — retrucou o índio, que finalmente resolveu acompanhar o ministro e seus assessores rumo ao gabinete.

Os índios munduruku e kayabi vivem na região da divisa entre os estados do Mato Grosso e Pará, onde está sendo construída a usina hidrelétrica de Teles Pires. O clima na região é tenso e já resultou até mesmo na morte de um índio mundukuru, em novembro do ano passado. Ele perdeu a vida em confronto com a Polícia Federal (PF).

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