Já neste último dia de Carnaval e me preparando para ir ao Sanatório Geral, no Benfica, me deparo, em meio a um rápido passeio nas postagens do Facebook, com a lembrança do martírio de Irmã Dorothy Stang, há oito anos atrás, em Anapu, no Pará.
Sou carnavalesco de criancinha, dos bailes do Líbano e dos Diários, do Corso da Dom Manuel, fico feliz que o Sanatório e o Luxo da Aldeia me relembrem os velhos e bons carnavais das marchinhas, mas, uma sombra de tristeza (como esse dia nublado de hoje) me atravessou nesta manhã quando fui relembrado de sua morte anunciada em 2005.
Digo anunciada, porque até as sumaúmas da Floresta Amazônica sabiam da trama de madeireiros e grileiros para calar a voz daquela missionária que lutava pelos projetos de desenvolvimentos sustentável de pequenos camponeses na região conflagrada de Altamira, no norte do Pará. Eu mesmo, à época Deputado Federal, junto com outros colegas parlamentares, acompanhamos Dorothy ao Ministério da Justiça na vã tentativa de sermos recebidos pelo então titular da pasta, Márcio Thomaz Bastos.
Durante a CPI da Terra, da qual tive a honra de ser relator, estivemos em Altamira e só nos foi possível ouvir Dorothy e as lideranças sindicais e populares em um ambiente reservado, já que o auditório onde se realizou a audiência pública estava lotado de ruralistas, seus capangas e suas faixas ameaçadoras (que, aliás, nos “saudavam” desde a chegada ao aeroporto).
Dorothy fazia parte de uma extensa lista de ameaçados de morte elaborada (e acrescida, por mais ameaças, ou diminuída, por mais mortes, a cada ano) pela Comissão Pastoral da Terra. Não tinha medo. Tinha absoluta consciência do risco, mas, sabia que era inerente ao seu testemunho de vida de missionária na Amazônia. Enfrentou a arma do pistoleiro com uma Bíblia na mão, na manhã daquele fatídico 12 de fevereiro de 2013 e seu sangue foi derramado na terra disputado por camponeses pobres e grileiros, seus algozes.
Estive em seu enterro, quando seu corpo foi plantado no chão da floresta que tanto amava. Ouvi Dom Erwin testemunhar o martírio da missionária e Suplicy cantar “Blowing in The Wind”, de Dylan. Visitei sua pequena casa, que dividia com outras religiosas de Notre Dame de Namür, e me emocionei ao ver uma foto em que estávamos Dorothy, Marina Silva e eu, quando de uma de suas visitas a Brasília, para lutar em defesa da floresta e de seus povos.
Hoje, como diz aquela música, “minha alegria é triste”. Mas, recordando da alegria revolucionária daquela americana da floresta, brincarei em sua homenagem, sabendo que seu exemplo continua a iluminar todos aqueles e aquelas que continuam a acreditar em seu sonho de uma humanidade reconciliada consigo mesmo e com a natureza, nossa mãe.
IRMÃ DOROTHY: PRESENTE!
ATÉ QUANDO: SEMPRE!
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*João Alfredo Telles Melo, é advogado, professor e vereador pelo Psol em Fortaleza, e teve a honra de ter conhecido Irmã Dorothy Stang.
Irmã Dorothi: presente para sempre em nossos corações e mentes!