Dados da Vara da Infância e da Juventude (VIJ) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) revelam que o número de adoções de crianças negras aumentou no último ano, assim como o número de famílias que não têm preferência pelo tom de pele do filho. Atualmente, o Distrito Federal tem cadastradas 133 crianças e adolescentes e 416 pessoas habilitadas para adoção. Segundo os dados da VIJ, um terço das crianças disponíveis é composto por negros e 62% têm idade superior a 12 anos. 85% dos prováveis pais são brancos.
Os números mostram que as adoções seriam plenamente possíveis no DF, praticamente zerando os índices de crianças em orfanatos, não fossem pelos perfis procurados pelos pais disponíveis: recém-nascidos, brancos e sem deficiências. Apesar dos fatos, a VIJ e a CNJ destacam avanços na mudança de cultura, em Brasília, e suas Regiões Administrativas, de modo que a procura por crianças negras tenha crescido significativamente também.
Apesar do número de adultos que preferem crianças brancas ou pardas ter crescido de 47,8% em 2011 para 50% em 2012, os que optaram por ter um filho negro também aumentou. Saiu de 7,8% há dois anos para 12,8% em 2012.
Humanização – De acordo com Soraya Pereira, presidenta da organização não governamental Aconchego, tal mudança se deve a fatores como a lei que tornou o processo de adoção mais popular, o preparo dos prováveis pais por meio de cursos e o acompanhamento dos mesmos por grupos de apoio antes, durante e após a adoção. Ela defende que o curso desmitifica o processo. “Os pais passam a ter certeza de que desejam ter um filho, deixando para segundo plano critérios como cor, idade e condições físicas”, explica.
Já Niva Maria Vasques Campos, supervisora substituta da área de adoção da VIJ, recorda que essa transformação ainda é sutil. “As pessoas buscam semelhanças físicas e os candidatos que se declaram brancos ainda são maioria”, diz, ressaltando que essa ainda é uma característica do DF. Mas ela reconhece que o perfil da sociedade muda ao longo do tempo e no caso da adoção isso não é diferente. “O curso de preparação dos pais e a adoção de crianças negras por casais famosos contribuem para isso”, diz. “Quando o vínculo é estabelecido, as diferenças somem”, completa.
Outro fator é a dificuldade de encontrar bebês recém-nascidos e com determinadas características. Quem busca por crianças tão jovens, tendem a esperar de quatro a cinco anos. “Quando se trata da idade, a situação fica mais difícil. Porém, pelo fato de a realidade dos abrigos ser outra, algumas pessoas vão procurando se adequar”, completa Niva.
Lição de vida – A servidora pública Luzimar Costa Rezende, 59 anos, moradora do DF aguardou três anos para conseguir adotar. Ela e o esposo se inscreveram no Cadastro Nacional de Adoção, em 2006, pedindo uma menina com idade entre 2 e 4 anos. “Com o tempo mudamos o pedido para uma entre 6 e 8. O processo é muito demorado e se não estivéssemos abertos às condições não a teríamos encontrado”, conta.
Hoje, Amanda Sophia Costa Rezende que deixou o abrigo aos 9 para se juntar à família tem 13 anos e partilha a casa, onde mora com mãe, pai e quatro irmãos. Luzimar nunca havia considerado a possibilidade de adotar uma criança, mas o desejo do marido de ter uma filha e os pedidos do caçula para ganhar uma irmã fizeram a servidora pública pensar no assunto. “Quando vi a ficha da Amanda, sem conhecê-la, sabia que seria ela”, concluiu a mãe.
Fonte: Palmares