Educação contra o preconceito racial

Medidas em prol da igualdade racial entre negros e brancos têm ganhado mais destaque no país nos últimos anos, e uma das mais debatidas é, sem dúvida, a que estabelece cotas para negros em universidades, instituída em 2000. Os Estados Unidos foram o primeiro país a se valer de tal ferramenta, em 1960, com o objetivo de diminuir a desigualdade socioeconômica entre brancos e negros. Se considerarmos que o Brasil tem a segunda maior população negra do mundo, concluímos que essa medida foi tomada tardiamente.Segundo pesquisa do IBGE, mais da metade dos analfabetos no Brasil é formada por negros, o que corresponde a 10 milhões de pessoas. Outro dado importante é o que mostra que cerca de 50% dos brancos recebem salários maiores do que os pagos aos negros, mesmo ocupando cargos iguais, o que impacta diretamente a qualidade de vida dessa população. Esse cenário é resultado de um longo sistema escravista, que teve profundas influências na formação social brasileira e cujo fim é relativamente recente na história do país, que não fez ne-nhum esforço para incluir os ex-escravizados.

Apesar de as cotas serem amplamente debatidas na nossa sociedade, a importância da inclusão da população negra nas escolas desde a infância é pouco explorada. A infância tem um papel muito importante na formação da personalidade do indivíduo e pode contribuir para estimular a aceitação da diversidade racial de forma natural no processo de eliminação do preconceito. A participação de educadores e, principalmente, da família, é essencial para que a criança aprenda os aspectos positivos da diversidade e da igualdade de direitos entre seus colegas de escola e perceba os aspectos negativos do preconceito e da discriminação.

Um grande passo nesse caminho foi dado com a promulgação da Lei 10.639/2003, que seria posteriormente alterada pela Lei 11.645/2008, que determina a obrigatoriedade do estudo da história e culturas afrobrasileira, africana e indígena na educação básica. Apesar dessa lei, muitas escolas ainda não adotaram a disciplina em seus currículos. A inserção da história da África e de sua relação com o Brasil deve fazer parte da infância de todos os indivíduos. Isso facilita o aprendizado da criança sobre quem foram os povos formadores do país e dá a ela a noção de origem sobre vários aspectos da cultura de nosso povo. Ajuda, também, na quebra do preconceito, porque, desde pequeno, o indivíduo convive com pessoas de outras raças de forma natural, respeitando as diferenças e estimulando o relacionamento entre negros e brancos. Um ensino mais abrangente e que contemple a relação África-Brasil beneficiaria também a própria criança negra, uma vez que ela aprenderia a não ter vergonha da cor de sua pele. Certamente, um contexto como esse faz toda a diferença na formação de cidadãos livres de preconceitos e prontos para tornar o Brasil uma sociedade mais igualitária.

Apesar da aplicação limitada da lei, já existem bons exemplos e uma iniciativa que premia professores que incentivam o estudo das cultura afro-brasileira e africana. O Educar para a Igualdade Racial é um prêmio direcionado a educadores que desenvolvem e promovem atividades entre os alunos, que, de alguma forma, ajudam a neutralizar a relação de preconceito entre negros e brancos. São iniciativas como essa que mostram que mudanças são possíveis, apesar do longo caminho até nos tornarmos um país mais igualitário.

Ajudar uma criança a se tornar um cidadão livre de preconceitos impactará suas futuras escolhas, mas nada é possível sem o envolvimento da família. Se, durante a infância, famílias costumam não se mostrar preconceituosas e até incentivam brincadeiras e amizades entre crianças de raças diversas, o preconceito aparece na adolescência, quando adolescentes de grupos raciais distintos começam a se envolver em relações sentimentais. Muitas famílias, então, se manifestam contrariamente. É nesse momento que os valores aprendidos na infância entram em cena.

Preconceito é crime e não será cometido se o indivíduo tiver valores fortes e estruturados, como o respeito pelo outro e a noção da violação dos direitos de cada um. Como já dizia Bob Marley, “enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho dos olhos, haverá guerra”. E esse não é o país que queremos para os nossos filhos. Por esse motivo, cabe refletir sobre a importância de criarmos crianças brasileiras – de todas as raça – livres de qualquer tipo de preconceito.

http://impresso.em.com.br/app/noticia/cadernos/opiniao/2013/02/05/interna_opiniao,66438/educacao-contra-o-preconceito-racial.shtml

Enviada por José Carlos para Combate ao Racismo Ambiental.

Comments (2)

  1. As sequencias didaticas desenvolvidas pelos professores de Ed Básica Sueli Nonato, Ana Paula Balan Zilla, Sergio Ferreira, Debora Maria Macedo para o Projeto Curriculo Global (www.globalcurriculum.net) poderiam ser premiadas como iniciativas para inserir no Currículo a formação para a valorização das origens africanas e da cultura afrobrasileira

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