Patrícia Britto – São Paulo
O coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Cláudio Fonteles, divulgou nesta segunda-feira (4) um relatório em que afirma que o ex-deputado Rubens Paiva foi morto nas dependências do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operação de Defesa Interna), no Rio de Janeiro.
Fonteles chegou a esta conclusão ao analisar um documento encontrado no Arquivo Nacional, em Brasília, em que agentes do DOI-Codi do Rio descrevem como Rubens Paiva foi localizado e preso. O mesmo documento, até então inédito, foi revelado nesta segunda-feira por reportagem da Folha.
O ex-deputado, que teve o mandato cassado pelo Ato Institucional nº 1, foi levado por agentes da ditadura militar para prestar depoimento em 20 de janeiro de 1971 e, desde então, é considerado desaparecido.
A versão oficial apresentada pelas Forças Armadas é a de que Paiva fugiu quando era levado para reconhecer uma casa no Rio.
O documento recém-revelado, porém, com data de 25 de janeiro de 1971, não faz nenhuma menção à suposta fuga de Paiva, que segundo o Exército teria ocorrido na madrugada do dia 22 de janeiro.
Para o coordenador da Comissão Nacional da Verdade, isso desmente a versão da fuga, sustentada até hoje pelas Forças Armadas.
“Importante registrar que esse Informe nada diz sobre ‘a fuga’ de Rubens Paiva que, na versão oficial dos agentes públicos do Estado ditatorial militar, teria ocorrido aos 22 de janeiro, para justificar, até hoje, seu estado de foragido. Tivesse acontecido, de verdade, ‘a fuga’, por óbvio, esse evento constaria desse pormenorizado registro”, analisa Fonteles no texto.
Informe
Identificado como “Informe nº 70”, o documento citado pelo coordenador da Comissão da Verdade é o mesmo que foi revelado por reportagem da Folha nesta segunda-feira (4).
Nele, agentes do DOI-Codi do Rio relatam à Agência Rio de Janeiro do Serviço Nacional de Informações (ARJ/SNI), seção fluminense do órgão de espionagem da ditadura, que Paiva foi localizado por meio de duas passageiras de um voo que chegava de Santiago, no Chile, ao Aeroporto do Galeão, no Rio.
Elas traziam cartas de exilados políticos naquele país que deveriam ser entregues ao ex-deputado. Por meio do número de telefone de Paiva, informado pelas passageiras, agentes do Cisa (extinto órgão de inteligência da Aeronáutica) conseguiram localizar o endereço do ex-deputado.
O informe menciona que Paiva “foi localizado, detido e levado para o QG da 3ª Zona Aérea e de lá conduzido juntamente com Cecília e Marilene para o DOI”.
É a primeira vez que vem a público um documento oficial em que é mencionado que Paiva foi localizado, detido e levado para as dependências da Aeronáutica e do Exército.
Até então, a única prova documental de que ele esteve em uma unidade militar era a lista de seus pertences pessoais emitida no momento de sua entrada no DOI-Codi –descoberta em novembro passado na casa de um coronel da reserva assassinado, em Porto Alegre.
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http://www1.folha.uol.com.br/poder/1225660-documento-desmente-versao-de-fuga-de-rubens-paiva-diz-comissao-da-verdade.shtml
Enviada por José Carlos para Combate ao Racismo Ambiental.