Janeiro: três comunidades sofreram ataques e ameaças de morte

Adelaide Sabino (Arquivo Cimi)

Guaiviry, Takuara e Laranjeira Nhanderu foram alvos de ataques e ameaças de morte. Nos três casos, o lastro de perseguição, sequestro e assassinatos é grande – e, quase em sua totalidade, continuam impunes

Ruy Sposati, de Campo Grande (MS), para o Cimi

Somente em janeiro deste ano, ao menos três aldeias Guarani Kaiowá no Matro Grosso do Sul sofreram ameaças de morte. Segundo os indígenas das comunidades Guaiviry, Takuara e Laranjeira Nhanderu, fazendeiros, jagunços ou arrendatários de propriedades que incidem sobre os territórios reivindicados pelos indígenas são os responsáveis pelos ataques, que tem como pano de fundo o contexto da luta pela terra.

No último dia 30, Genito Gomes, filho da liderança assassinada em 2011 Nízio Gomes, relatou ao conselho da Aty Guasu – grande assembleia Guarani e Kaiowá – que ele e um grupo de indígenas sofreram uma tentativa de atropelamento por uma caminhonete S10 branca. O caso foi denunciado à polícia, que foi hoje ao local apurar as informações. Antes, no dia 4 de janeiro, Genito relatou ao Conselho Indigenista Missionário (Cimi) ter sido ameaçado de morte por um grupo de homens armados com facão na entrada do acampamento. Em ambos os ataques, Genito identifica figuras ligadas ao desaparecimento de seu pai.

No último dia 29, Ládio Veron, da aldeia Takura, município de Juti, relatou publicamente pelas redes sociais que foi ameaçado de morte por um jagunço. Ládio é filho de Marcos Veron, liderança que lutava pela demarcação de sua terra assassinada em 2003, e também acusa os assassinos do pai como os responsáveis pela ameaça.

A indígena Adelaide Sabino, do acampamento Laranjeira Nhanderu, no município de Rio Brilhante, relatou ao Cimi ter sido alvejada com quatro tiros pelo arrendatário da fazendeira que incide sobre o território, reivindicado pela comunidade como tradicional do povo Kaiowá. A indígena conseguiu escapar com vida do ataque, se escondendo na mata. Segundo a comunidade, os ataques, ameaças e intimidações de arrendatários são recorrentes em Laranjeira. O mais comum é o fechamento da saída da aldeia com toras de madeira.

Nos três casos, o lastro de ataques, perseguição, sequestro e assassinatos é grande – e, quase em sua totalidade, continuam impunes.

Takuara e Guaiviry

Em janeiro de 2003, quatro homens armados, a mando de proprietários de fazendas que incidem sobre o território reivindicado pelos Kaiowá, invadiram o acampamento Takuara, no município de Juti, para expulsar as famílias indígenas da área reocupada. O ataque resultou na morte do cacique Marcos Veron, de 72 anos, que foi levado ao hospital com traumatismo craniano, mas não resistiu às agressões. Dos quatro acusados, um está foragido. Três deles tiveram prisão preventiva decretada, onde cumpriram 4 anos e, em 2010 foram levados a júri popular, onde foram inocentados pelo crime de homicídio – e condenados por sequestro, tortura e formação de quadrilha -, mas receberam a permissão de esperar por um segundo julgamento em liberdade. O quarto acusado está foragido, e é o principal suspeito que liga o crime ao proprietário da fazenda que incide na aldeia Takuara, além de indícios apresentados no julgamento de 2010. O fazendeiro ainda não foi julgado.

Em 18 de novembro de 2011, um grupo de homens armados invadiu o acampamento Guaiviry, no município de Aral Moreira. O cacique Nízio Gomes foi baleado, e seu corpo foi levado por pistoleiros – e nunca mais foi encontrado. No final de 2011, o Ministério Público Federal do Mato Grosso do Sul (MPF-MS) denunciou 19 pessoas pelo homicídio do cacique, entre eles, fazendeiros, advogados e um secretário municipal, além de proprietários e funcionários de uma empresa de segurança privada. Os crimes ainda aguardam julgamento.

http://campanhaguarani.org/?p=1235

Enviada por Antonio Carlos de Souza Lima.

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