Aproveitando a visita no Brasil para criação da filial no Rio de Janeiro, a Anistia Internacional esteve presente no Santuário dos Pajés, localizado no Setor Noroeste, em Brasília, no dia 24 de julho.
“Para mim é um grande prazer estar aqui, estou na Anistia há 14 anos, temos conhecimento da luta pela terra no Brasil, com os Xukuru, Xavantes. Vou levar a luta de vocês para a sede da Anistia em Londres e espero que nossa organização possa ajudá-los”, comenta Nop Duys, membro da Anistia Internacional na Holanda.
A Fundação Nacional do Índio (Funai) tem sido omissa no reconhecimento dos 50 hectares da terra do Santuário Indígena, desqualificando o laudo antropológico feito pela Associação Brasileira de Antropologia.”A Funai não criou o Grupo de Trabalho (GT), pois sabia que poderia inviabilizar a construção do Setor Noroeste, afirmando que não somos tradicionais”, reitera Awamirim Tupinambá.
“A Funai joga com palavras, brinca com números, pega um número que é 40 e erra a vírgula, uma casa para o lado, para dizer que é quatro. A questão é simbólica, a cidade é toda planejada, mas nesse planejamento não contemplaram os indígenas, ao contrário, planejaram um bairro que foi vendido por seis mil dólares o metro quadrado”, diz o advogado e cientista social, Ariel Foina.
O Santuário dos Pajés é uma área ancestral das rotas de fugas na época da colônia e com a construção da nova capital, em 1957, indígenas vieram trabalhar como operários na construção da cidade, durante o período das obras os índios iam para as matas do cerrado, manifestar suas crenças.
Construtoras de Brasília avançam sobre a área de cerrado nativo para a construção do empreendimento imobiliário, possibilitado por uma grande operação corrupta na aprovação do Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT).
“Vemos a terra tremer com as dinamites, as construtoras já mataram mais de 100 mil árvores do cerrado. Peço que a Anistia Internacional divulgue nossa luta, leve para o mundo o nosso sofrimento e o abandono dos povos minoritários do país”, afirma o pajé, Santxiê Tapuya.
Atingidos pela expansão urbana, os indígenas da área sofrem com o preconceito e falta de reconhecimento de seus direitos, sob o argumento de que não são mais índios.
“Esse modelo não aceita a diferença, a mata bonita e em pé. O Relatório de Violência Contra os Povos Indígenas do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) mostra isso, tanta violência e crimes pela terra, mas estamos resistindo. Os povos indígenas do Nordeste, os Tapuya, Fulni-ô e Tupinambá foram dispersados pelo sertão e perderam terras ancestrais, muitos foram obrigados a ir para a cidades”, aponta Awamirim Tupinambá.
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