Pelo menos 70% dos casos de racismo acontecem nas escolas

Só neste ano, polícia recebeu 129 queixas de preconceito; em 2011, foram 118

Preocupação. D., com os pais Fátima e Aílton; casal procurou a polícia e envolvidos estão intimados (Foto: Charles Silva Duarte)

Joana Suarez

Casos de preconceito racial como o que aconteceu com a pequena D., de 4 anos, que foi ofendida pela avó de um garoto branco por ser negra, em uma escola particular de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, é mais comum no ambiente escolar do que se possa imaginar. Levantamento da Organização Não Governamental (ONG) SOS Racismo, de Belo Horizonte, apontou que 70% das denúncias que chegaram ao conhecimento da entidade aconteceram em escolas públicas ou privadas.

A ONG, no entanto, reconhece que por trás das 112 notificações recebidas ao longo de seus 12 anos de existência, existem muitos casos que nem chegam a ser apurados por falta de denúncias das vítimas e também pela dificuldade que muitas pessoas têm de provar que foram alvo de preconceito. Pelo menos 30% dos casos de discriminação racial ocorrem nos ambientes de trabalho, aponta a SOS Racismo.

Outro dado que preocupa é o baixíssimo índice de punição dos agressores. Em apenas 20% dos casos, os responsáveis receberam algum tipo de condenação. “O mais difícil é provar o racismo e encontrar alguém que aceite testemunhar porque as pessoas se sentem pressionadas ou intimidadas”, explicou José Antônio Carlos Pimenta, presidente da ONG.

Nas unidades policiais do Estado, segundo a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), até junho deste ano, foram registrados 129 casos de preconceito por raça ou cor. O número de ocorrências já é maior que igual período do ano passado, quando 118 pessoas registraram queixas de racismo. A Coordenadoria Estadual de Políticas Pró-Igualdade Racial (Cepir) não tem levantamento específico sobre casos de racismo em escolas do Estado.

No caso mais recente, ocorrido no último dia 10, a menina teria sido chamada de “preta horrorosa”, na frente dos colegas, pela avó de um aluno. A agressora não teria concordado com o fato de o neto ter formado par com uma garota negra na festa junina da escola. A denúncia foi feita pela professora Denise Cristina Aragão, 34, que pediu demissão do emprego por não concordar com a postura da direção do colégio, que teria se omitido em relação ao episódio.

Os pais da menina registraram ocorrência. O delegado Juarez Gomes informou que todos os envolvidos foram intimados e irão começar a prestar depoimento a partir de segunda-feira. O inquérito deve ser concluído no fim da semana que vem. Ontem, a mãe de D., Fátima Adriana de Souza, 41, passou mal e foi levada a um hospital. “Ela ainda está muito abalada com tudo isso e ansiosa para que se faça justiça com a nossa filha”, disse o pai da menina, Aílton César de Souza, 38.

A SOS Racismo atende vítimas de qualquer tipo de discriminação e presta assistências jurídica e psicológica às vítimas através de um convênio com a PUC Minas.

Enviada por José Carlos.

http://www.otempo.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=208005,OTE

Comments (1)

  1. Fato como este ocorrido em Minas, não podem mais serem aceitos pela sociedade. Precisamos parar de acreditar que somente crimes como os de não pagamento de pensão alimentícia são punidos com rigor, enquanto os demais caem na impunidade. Assim como criaram a lei Maria da Penha, deveriamos criar uma lei mais rigorosa, tendo como objetivo proteger nossas crianças de fatos semelhantes a este. Este seria o ponto de partida, que atingiria todos os setores envolvidos, educacionais, jurídicos, organismos de conscientização e valorização do ser humano, enfim. Sabe-se que, pelo fato demostrado, professores não tem preparo para lidarem com casos deste tipo. Por outro lado, a cultura do “não é comigo” ou “não estou vendo nada” precisa acabar, sob pena de enormes prejuízos à nossas crianças e adolescentes. Tenho a certeza de que toda a comunidade de Minas Gerais não compactua com este tipo de episódio vergonhoso, que estarreceu o resto do país, bem como minha família e minha cidade. A justiça irá prevalecer, terá que prevalecer, porque somente com igualdade de direitos poderemos viver em paz em nosso país. A segregação e o preconceito não educam ninguém.

    Jorge
    Militar das forças armadas,
    Marataízes, E.S.

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