PE – Adeptos do Candomblé estão indignados

Os atos de vandalismo cometidos pela população na região do crime de Flanio, de 9 anos, provocaram indignação entre os adeptos do Candomblé. O coordenador do Quilombo Cultural Malunguinho (entidade que representa os povos de terreiro e o povo negro), Alexandre L’Omi L’Odò, disse que o órgão já se articula junto a instituições de Direitos Humanos e estuda iniciar ação judicial coletiva por danos morais.

A grande reclamação dos religiosos é que os acusados pelo crime foram tidos como praticantes do Candomblé, o que não é verdade. “O Candomblé é uma religião que agrega muito as pessoas. Daí, indivíduos mal-intencionados usufruem disso para se aproveitar da carência das pessoas”, denuncia Alexandre. Ele conta, inclusive, que o processo de formação de líderes da crença é bem rígido e dura vários anos.

Para o historiador João Monteiro, o fato de a polícia ter apresentado, erroneamente, os suspeitos como pais de santo teria causado a reação de ódio na sociedade. “Quando a polícia prende esses marginais e os coloca com seus títulos sacerdotais em vez de seus nomes, demonstra o despreparo dos agentes no trato desses temas”, afirma. Ele aponta que o Governo desenvolve um programa de combate ao preconceito dentro das instituições públicas, mas que o mesmo não funciona adequadamente.

A associação do termo “magia negra” ao crime e à religião também revoltou os povos de terreiro. Para o membro do Fórum Estadual de Educação Étnico-Racial de Pernambuco, Carlos Tomaz, a expressão é, além de tudo, racista. “Mesmo que inconscientemente, tudo relacionado à etnia negra é tido como ruim”, reclama. O termo vem, na verdade, da Idade Média, das práticas de culto ao demônio originadas de religiões de matriz europeia.

Entenda o caso

Revoltados com o crime ocorrido com o menino Flanio da Silva Macedo, 9 anos, que foi abusado sexualmente, morto e teve a cabeça separada do corpo em ritual macabro, moradores de Brejo da Madre de Deus, no Agreste do Estado, promoveram um verdadeiro quebra-quebra em algumas residências da cidade nesta quinta (12). De acordo com informações da polícia, os manifestantes invadiram e destruíram casas de pessoas que, segundo julgam, podem estar ligadas ao crime por praticarem cultos religiosos de matriz afrodescendente.

Pelo menos seis residências já foram invadidas e quebradas. O principal alvo dos ataques são locais que possuem imagens de santos, já que chegou-se a vincular o crime a ritual religioso, fato descartado, pelo menos por enquanto.

À tarde, houve reforço no policiamento na cidade, com a chegada de dois helicópteros e mais carros da Polícia. Com isso, o clima de revolta diminuiu e pelo menos uma pessoa foi detida. Cinco casas foram incendiadas pelos manifestantes, e de acordo com o Corpo de Bombeiros, um caminhão-tanque precisou ser deslocado à cidade de Santa Cruz do Capibaribe para controlar as chamas.

O enterro de Flanio estava marcado para a manhã desta quinta, mas houve um atraso na liberação do corpo no Instituto de Medicina Legal (IML) do Recife. O sepultamento deveria acontecer na tarde desta quinta.

O crime aconteceu durante o final de semana passado. Flanio foi encontrado na terça-feira (12), na zona rural do distrito de São Domingos, em Brejo da Madre de Deus. Segundo a polícia, cinco pessoas praticaram o crime. O casal Genival Rafael da Costa, 62, e Maria Edleuza da Silva, 51, confessou o crime e está preso. Também foram detidos na noite de ontem Ednaldo Justo dos Santos, 33, e Edilson da Costa Silva, 31. A polícia procura um pai de santo, apontado pelo casal como outro envolvido.

De acordo com as investigações, Flanio sofreu violência sexual por cerca de 20 minutos antes de morrer. No ritual, teve o pescoço apertado por um torniquete de madeira até a cabeça se separar do corpo. Segundo o delegado responsável pelo caso, Antônio Dutra, o casal, que também morava em São Domingos, ficou com medo de ser descoberto e linchado pela população e se entregou no posto policial do distrito.

“Eles contaram ter recebido R$ 400 do pai de santo para pegar o menino e participar do ritual. Antes de matar a criança, Genival e o pai de santo se revezaram em atos de abuso sexual”, detalhou Antonio Dutra. Segundo ele, os outros dois homens acompanharam o crime, mas não participaram do abuso.

Com informações de Pedro Romero, Jornal do Commercio – PE.

http://intoleranciareligiosadossie.blogspot.com.br/

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