Inspirado no livro ‘Saberes e crença da arte de partejar’, o trabalho conta como homens e mulheres ajudam no nascimento das crianças em vários pontos do MA
Sammartony Martins
“Comecei a partejar por que estão assim de necessidade, porque na época, onde morava, no Atins, não tinha ninguém, aí eu já tinha muito carinho e cuidado as mulher ficavam gestante. Teve uma hora que a minha irmã precisou e não tinha ninguém, e eu fiz o parto da minha irmã. Eu era muito nova, tinha 18 ano. Fiz uma coisa tão bem feita, que eu até admirei de ter feito”. O depoimento é de Dona Maria do Socorro Rocha Cunha, natural de Barreirinhas que encontra-se no livro Saberes e crença da arte de partejar que originou o documentário homônimo que será lançado hoje, 10, às 19h, na Casa de Nhozinho, Praia Grande.
Com 27 minutos de duração, o vídeo traz relatos das parteiras sobre suas experiências ao realizarem partos caseiros utilizando a sabedoria dos antepassados, o poder de cura das ervas e a força da crença nas rezas e simpatias. O documentário tem concepção e roteiro da jornalista Cida Macedo, direção do também jornalista Mivan Gedeon, produção da publicitária Lícia Lobato e edição de Max Pinheiro. O patrocínio é do Banco do Nordeste, por meio do Programa BNB de Cultura edição 2011.
Assim como no livro, o documentário Saberes e crença da arte de partejar revela de forma fiel e minuciosa, histórias contadas por elas mesmas para que as novas gerações tomem conhecimento dos testemunhos, de suas experiências de vida nas comunidades onde moram ou moraram e o aprendizado com seus descendentes: avós, mães, tias ou alguém que simplesmente passaram a seguir, admirar ou lhes orientar.
“O documentário surgiu a partir do livro que foi lançado em 2008. Para o livro entrevistamos 104 parteiras e um parteiro. A maioria destas mulheres nós localizamos na Região da Baixada Maranhense nos municípios de Pinheiro, São Bento, Viana, São Vicente de Férrer, São Raimundo da Piaba, Santa Luzia do Tide, Santa Luzia e também municípios e povoados da Região dos Lençóis. Já para o documentário viajamos municípios e povoados onde entrevistamos 19 parteiras e 02 parteiros”, contou Cida Macedo.
A jornalista ressaltou ainda que por ter uma linguagem audiovisual o relato das parteiras ganhou mais expressividade, tanto em seus traços marcados pelo tempo presente nos rostos, mãos e gestos significativos e fiéis dessa realidade que passa despercebida aos olhos da sociedade e dos poderes constituídos. A jornalista acrescentou ainda que ao exporem seus modos de vidas não houve inibição por parte das parteiras. Segundo Cida Macedo, a atual ausência de recursos e de médicos conduz naturalmente a maioria dessas mulheres que exercem a atividade de parteira ao fantástico e extraordinário mundo das crenças e da fé que se impõe de forma tão subjetiva, mas com grande convicção, fervor e a certeza de que o problema que estão enfrentando terá intervenção divina. Para elas, o que chamam de auxílio da Providência Divina chega através de orações, simpatias, rezas e invocações fervorosas de forças sobrenaturais ou pelo chamado de seus antepassados. “Quando eu idealizei em fazer este trabalho com estas parteiras pensei em uma forma de dar a elas para que pudessem ser ouvidas o mais distante possível. Como mãe, mulher e profissional, o sentimento que eu tenho por elas é de grande respeito e admiração. São pessoas simples que fazem um trabalho expecional”, avaliou Cida Macedo.
Enviada por Edmilson Pinheiro.
http://www.oimparcial.com.br/app/noticia/impar/2012/07/10/interna_impar,118533/documentario-inspirado-em-livro-e-exibido-em-sao-luis.shtml