A despedida de nosso companheiro Antônio foi marcada por uma tristeza profunda diante da irreparável perda, mas também por um sentimento compartilhado de ternura. Familiares, líderes indígenas, missionários, amigos do Cimi de longa data, alunos, todos os que estavam ali reafirmavam a mesma coisa – Antônio tinha um cuidado especial com as pessoas com quem partilhava a vida e uma dedicação incondicional à causa indígena, à causa da vida em plenitude.
E foi assim, com lágrimas nos olhos e com uma dor aguda que cada pessoa ali presente se despediu do pai, companheiro, missionário, amigo, lutador, historiador, esse homem tão imensamente humano, e tão divinamente dedicado.
Os Guarani Kaiowá saíram de Mato Grosso do Sul e vieram também prestar uma última homenagem ao amigo e companheiro de tantas jornadas. Lideranças jovens – estudantes e professores indígenas que com ele compartilhavam espaços acadêmicos – e também alguns Nhanderu (líderes religiosos) viajaram toda a noite, cruzando estados e cidades, para encontrá-lo uma vez mais. Na chegada, realizaram um ritual e, entre cantos e palavras sagradas, agradecerem a presença de Antônio, por mais de 40 anos, entre os povos indígenas e a dedicação à luta do povo Guarani Kaiowá. Um líder religioso afirmou que tudo o que Antônio construiu, ao lado deles é estímulo para que continuem lutando pela conquista e garantia de seus tekohas (territórios).
Na celebração eucarística as palavras ditas expressavam a emoção, a gratidão, o reconhecimento e a estima de tantos companheiros que tiveram o privilégio de conviver com ele. Mensagens diversas foram enviadas aos familiares e algumas foram lidas na cerimônia. A canção suave entoada pelo coral da cidade acalentou o coração da gente; canção que nos fez sentir que a despedida era também momento de dizer: “Vai com Deus, amigo, colher os frutos desse trabalho árduo, realizado com amor e doação”.
Na bênção final, novamente os líderes religiosos Guarani-Kaiowá pediram a palavra para, então, abençoar os familiares e confiar-lhes a força de Nhanderu, força vital para continuar caminhando. Num breve pronunciamento, lembraram momentos da trajetória de dor e sofrimento dos índios no estado de Mato Grosso do Sul, nos quais puderam contar com a presença solidária, com as palavras de sabedoria, com o apoio desse querido amigo. Agradeceram a Deus a oportunidade de ter Antônio como aliado e companheiro nas intermináveis lutas travadas até aqui. Vão continuar lutando, pois a conquista dos direitos que lhes tem sido negados será um modo de honrar a memória de todos os que lutaram e lutam juntos pela causa indígena, concluíram.
Um gesto significativo finalizou esse ritual: os Guarani Kaiowá abençoaram um cocar e o colocaram sobre o corpo de Antônio, em sinal de respeito, reconhecimento e gratidão. Gesto que simboliza também a fé e a esperança em tempos mais amenos e que une, num mesmo sentimento, aqueles que acreditam na justiça e por ela lutam.
Porto Alegre, 04 de julho de 2012
Iara, Rabeca e Roberto
Cimi Regional Sul – Equipe Porto Alegre
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