Auschwitz, o racismo que nos separou

Numa altura em que a UEFA combate contra o racismo no futebol, o SAPO Desporto foi visitar o memorial de Auschwitz, na Polónia. Esta é a segunda parte de uma grande reportagem.

Por João Agre, na Polônia

Comparar o racismo e a divergência de ideias que existem atualmente no futebol mundial e o que aconteceu nos campos de concentração de Auschwitz pode parecer incomparável, incompreensível e intolerável. Mas os motivos que separam os povos no mundo são sempre os mesmos.
Em Auschwitz, cerca de 1.5 milhões de pessoas foi assassinado apenas porque alguém acreditou que existiam raças superiores a outras. E a única forma de tornar essa raça pura foi matar os inferiores.

Jarek Mensfelt, responsável pelas relações públicas e media do memorial de Auschwitz , foi desafiado a fazer um paralelo, obviamente numa escala menor, entre o racismo que se vive atualmente no futebol mundial e o que aconteceu, há cerca de 70 anos, na cidade polaca.

«Todo o tipo de racismo tem algo em comum. São atritos entre grupos. São atitudes extremas como o racismo que originaram lugares como Auschwitz, conflitos globais e morte de milhões de pessoas. É sempre igualmente perigoso quando uma pessoa insulta outra só porque tem uma cor diferente ou pensa de outra forma. Porque proporcionando oportunidade, o racismo acabará por matar. E atrás de uma morte virá sempre outra. Isso foi o que aconteceu em Auschwitz. Por detrás disto tudo estiveram os atritos devido ao racismo»

No memorial de Auschwitz é proibido a entrada de objetos relacionados com o Euro2012, de forma a respeitar o que aconteceu neste lugar da Polónia, evitando trazer as emoções vividas num estádio de futebol para este cemitério.

«Essas restrições durante o Euro2012 têm a ver com o facto de preservar o respeito por um cemitério. Evitamos que sejam trazidas para aqui emoções, boas ou más, iguais às vividas num estádio», responde Mensfelt.

O programa “Respeito pela Diversidade”, que a UEFA lançou no início do Euro2012, inclui o controlo de jogos, as mensagens discriminatórias e um compromisso para a tomada de medidas disciplinares. Os responsáveis estão particularmente atentos aos cânticos racistas, bandeiras ou cartazes ofensivos.

A UEFA tem feito um esforço para transmitir a mensagem de que o racismo não tem lugar no futebol. Mas ainda durante este Euro2012 o racismo ouviu-se nas bancadas.

No estádio de Lviv, no encontro entre Alemanha e Portugal, sempre que Nani pegava na bola, eram audíveis os gritos de sons de animais. Algo que a UEFA condenou de imediato através dos microfones do estádio.

No encontro entre a Itália e a Croácia, em Poznan, adeptos croatas insultaram o jogador italiano Mário Balotelli, tendo exibido ainda cartazes ofensivos e símbolos racistas. A federação croata foi multada em 80 mil euros pela UEFA. Já no primeiro jogo contra Espanha, multada em 20 mil euros, o tinha acontecido.

A Rússia também foi multada em 30.000 euros por insultos racistas ao lateral da República Checa Theodor Gebre Selassie, de origem etíope.

Sem esquecer os adeptos russos que foram atacados por hooligans polacos, desencadeando um dia de violência recíproca nas ruas de Varsóvia.

Na conferência de imprensa de encerramento do Euro2012, o presidente da UEFA afirmou que o futebol «não pode mudar o mundo, mas pode melhorar».

«Todos puderam comprovar que quase não houve incidentes de racismo na Polónia e Ucrânia. Os jornalistas, tal como as associações, poderão confirmar isso mesmo. Claro que há racismo em todos os países da Europa e temos de lutar contra isso. O Euro2012 não vai mudar o mundo, mas pode melhorar».

Platini lembrou que o futebol é apenas um espelho da sociedade.

Um espelho que reflete a nossa imagem. Uma mensagem que Auschwitz quis transmitir, mas que o espelho não deixou.

http://desporto.sapo.pt/futebol/euro_2012/artigo/2012/07/02/auschwitz_o_racismo_que_nos_sep.html#?tab=content-article

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