Apiwtxa é o nome indígena para união. E foi conjugando o verbo unir que o povo Ashaninka conseguiu resistir aos massacres que enfrentou ao longo de sua história e se manteve forte em sua cultura. Nesta semana eles comemoraram os 20 da demarcação da Terra Indígena Kampa do Rio Amônia, no município acreano de Marechal Thaumaturgo, no Vale do Juruá.
A comemoração teve a presença do governador Tião Viana, do assessor da presidência da Fundação Nacional do Índio (Funai), Francisco Pianko, da chefe de gabinete da Funai, representando a presidente Marta Maria Azevedo, Soraia Segall, e da coordenadora do Fundo Amazônia do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Sustentável (BNDES), Cláudia Costa.
Tião Viana entregou às lideranças Ashaninka o projeto arquitetônico da Agroindústria de Polpas e Doces de Frutas, que será instalada próximo à sede do município de Marechal Thaumaturgo e atenderá, segundo Benki Ashaninka, também produtores, seringueiros e ribeirinhos. “O que é riqueza para o nosso povo? Que riqueza nós temos? A agroindústria é uma prova de que valeu a pena a recuperação do nosso território. Que existem formas de tornar a floresta sustentável.
Os Ashaninkas estão presentes na região há milhares de anos e ocupam também uma parte do Peru. Eles são o povo mais numeroso da América do Sul e conseguiram sobreviver ao massacre dos espanhóis, dos peruanos, e do período da exploração da borracha. Quando eles se estabeleceram na terra que ocupam hoje a área era um grande pasto.
O secretário de Produção, Lourival Marques, disse que o governo está investindo na terra indígena dos Ashaninkas, na aquisição de equipamentos agrícolas e fomento à piscicultura e criação de aves, além da agroindústria de polpas e doces de frutas, que terá um faturamento anual de R$ 160 mil e produzirá 50 toneladas/ano e produtos. “Toda a produção será comprada pelo governo para a merenda escolar ou dentro do programa de compra de alimentos”, explicou.
Márcio Veríssimo, secretário de Planejamento, está coordenando os investimentos em terras indígenas através do programa BNDES 5, garantindo melhoria na qualidade de vida, acesso a proteínas e renda com a venda dos excedentes, como é o caso da agroindústria de polpas.
Deputado Moisés Diniz conhece a terra de sua avó
Quis o destino que este reencontro acontecesse somente agora. “Até o governo do Mesquita não se falava em índios no Acre, ninguém dizia que existiam índios aqui. Então meus pais esconderam por muito tempo a origem da minha avó. Eu já pedi para as lideranças Ashaninkas buscarem a família dela, para que eu possa conhece-los. Eu agradeço ao governador Tião Viana por esta oportunidade de conhecer esta terra. Eles estão muito avançados em termos de organização, de vida em comunidade, de práticas sustentáveis e têm muitas lições a nos ensinar”, comentou.
Segundo Cláudia Costa, do Fundo Amazônia, o BNDES já realiza, em parceria com o Governo do Estado, vários investimentos em projetos sustentáveis. “Agora estamos dialogando com o povo Ashaninka para ver como podemos ajudar diretamente a associação. Nós agradecemos a este povo pelo trabalho de preservação da floresta que fazem aqui”, disse.
Palavras de sabedoria, lições de vida
A sabedoria de quem vive na floresta merece ser compartilhada com todos. Grandes respeitadores da natureza sabem como ninguém conviver em harmonia com os rios, as árvores e todos os animais, de forma a retirar apenas o necessário, garantindo que todos, filhos e netos, terão os recursos que precisarão para sobreviver. Veja algumas palavras que foram ditas durante a comemoração:
Benki Ashaninka – “Hoje é um grande privilégio receber o governador em nossa terra porque ele tem um olhar para o nosso povo. O nosso povo era grande na época dos espanhóis. Quase 200 mil índios. Muitos morreram e outros se refugiaram como podiam. Nós habitamos estas terras há milênios. Os espanhóis, os peruanos, os brasileiros nos massacraram. Nosso povo tem uma ligação muito forte com os incas. Foram quinze anos lutando pela demarcação da nossa terra e hoje o nosso maior problema é a pressão dos madeireiros peruanos. No passado passamos por um grande massacre, mas nosso povo resistiu e se manteve forte, com planos e ações.
Antes de propor qualquer coisa nós fizemos pesquisa para ver o potencial do nosso povo, nossa terra. Hoje nós temos muitas frutas e grande parte estraga, não conseguimos comer tudo. Por isso a criação da agroindústria, que é uma forma de mostrar que a floresta pode sustentar e continuar viva. Mas nós precisamos de uma política de defesa do nosso território. É preciso difundir as nossas práticas, nos unindo a outros povos indígenas e não indígenas, órgãos de Estado. Nós precisamos de união para vencer os desafios”.
http://www.agencia.ac.gov.br/index.php/noticias/governo/20052-ashaninkas-comemoram-20-anos-de-demarcacao-da-terra-indigena.html