“Errata” de informe anual da Shell detalha impactos de projetos da empresa no mundo

Durante a assembléia geral anual da Shell, realizada nesta terça (17) em Haia, na Holanda, a Federação Amigos da Terra Internacional apresentou uma “errata” ao informe anual da Shell de 2010. No documento – cujo design é idêntico ao relatório oficial que foi distribuído aos acionistas da empresa – , a Shell, hipoteticamente, ‘admite’ que suas operações de petróleo, gás e agrocombustiveis a nível mundial “estão provocando muito dano não desejado e desnecessário”.

O informe, que destaca 12 casos de impactos climáticos e ambientais das operações de gás e petróleo da Shell em cinco continentes, também critica o envolvimento da empresa na violação dos direitos humanos e irregularidades trabalhistas. No Brasil, o documento avalia a sociedade entre a Shell e a Cosan S.A., autuada por trabalho escravo, violação da legislação trabalhista e violações dos direitos indígenas em usina no Mato Grosso do Sul. O informe também menciona casos de corrupção e interferência na política para assegurar seus lucros.

Ao final do documento, Amigos da Terra Internacional lista, como se fossem compromissos da Shell, as seguintes ações:

  • Limpeza da contaminação e pagamento de compensação às vítimas de vazamentos de pretróleo
  • Melhora da manutenção de suas operações para evitar novos casos de contaminação
  • Diminuir a pegada de carbono das suas operações
  • Fim às operações que impõe graves riscos ao abastecimento de água, a saúde, a agricultura e a biodiversidade, como o fraturamento hidráulico na exploração de altos volumes de gás e a perfuração no Ártico e em alto mar
  • Fim das violações aos direitos humanos e pagamento de compensação às vitimas.

De acordo com Paul de Clerck, coordenador da campanha sobre corporações da Amigos da Terra Internacional, “esperamos que as promessas´contidas na errata que redigimos para Shell se tornem realidade. A Shell é consciente do dano que está causando ao meio ambiente e da violação ao direitos das comunidades locais com as quais está envolvida. Queremos que a empresa tome medidas para compensar este dano e evitar dano futuros”. Representantes de diferentes comunidades afetadas pelas ações da Shell estiveram presentes durante a apresentação da “errata” aos acionistas e à diretoria da Shell:

Eric Dooh, campesino nigeriano que apresentou uma ação judicial contra a Shell na Holanda após a negativa da empresa em limpar o petróleo que poluiu seus tanques de peixes e campos, disse: “Os vazamentos de petróleo dos oleodutos da Shell contaminaram seriamente a água e a terra agrícola da nossa localidade. Queremos que a Shell limpe a contaminação para voltarmos a pescar e cultivar”.

Lionel Lepine, representante da Nação Originaria de Athabasca Chipewyan no Canadá, afirmou que “as operações de areia betuminosa (tar sands) da Shell estão perturbando nossa forma de vida tradicional. Estão destruindo nosso ar, nossa água, nossa terra e nossas plantas medicinais e aves, peixes e animais dos quais dependemos para o sustento de nossa gente”. O Sr. Lepine disse ainda que “a pegada da Shell nas nossas terras terá um efeito em várias gerações que ainda não nasceram, estão violando nossos Direitos Indígenas, os direitos da nossa sagrada Mãe Terra e estamos aqui na sua assembléia geral para avisá-los que vamos detê-los”.

No Brasil, após haver reconhecido sua responsabilidade no caso emblemático da contaminação dos trabalhadores e moradores de Paulínia, em São Paulo, “a Shell, escolheu mais um caminho errado para esverdear sua imagem ao associar-se a projetos de produção de agrocombustíveis que implicam a expansão de monoculturas de cana-de-açúcar em terras indígenas no Estado do Mato Grosso do Sul”, afirmou Lucia Ortiz, Coordenadora de Amigos da Terra Brasil. Segundo Leonardo Sakamoto, da ONG Repórter Brasil e um dos maiores especialistas no país sobre o tema do trabalho escravo,  “a Shell assumiu um passivo ao realizar uma joint venture com a Cosan, maior produtora de açúcar e álcool do mundo, flagrada com trabalho escravo e que chegou a ser incluída no cadastro de empregadores escravagistas do governo federal”.

PARA MAIORES INFORMACOES:

Paul de Clerck, Amigos da Terra Internacional, +32-49-4380959 (Celular belga), [email protected] (inglês)

Romel de Vera, Amigos da Terra Internacional, +63 906 305 7097 (celular filipino), [email protected] (inglês)

Coordenadora de imprensa de Amigos da Terra Internacional, +31-20-6221369 (escritório de Amsterdam), [email protected] (francês/inglês)

Por informações sobre a ação judicial em Haia, por favor contate ao departamento de imprensa de Amigos da Terra Holanda (Milieudefensie), +31-20-5507333 o [email protected] (inglês/holandês)

CONTATO NO BRASIL:

Lucia Ortiz, Amigos da Terra Brasil, +55 51 898418707 (celular brasileiro)

[email protected]

 

http://amigosdaterrabrasil.wordpress.com/

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