MT – Diabete avança entre índios Xavantes

Constatação é de pesquisa da USP de Ribeirão; incentivo do governo ao consumo de arroz é vilão

Jucimara de Pauda

Uma epidemia de diabetes atinge os índios Xavantes do Mato Grosso. O alerta é de um grupo de pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) em Ribeirão Preto e da Unifesp (Universidade Federal Paulista), que, em abril, coletaram sangue da população indígena de Sangradouro e São Marcos e constatou que 51,9% deles estão com diabetes ou são pré-diabéticos.

As mulheres são as mais atingidas. A mudança nos hábitos alimentares, o sedentarismo e a predisposição genética são as grandes responsáveis pela incidência da diabetes entre indígenas. Eles trocaram a dieta tradicional, composta por feijão, mandioca, abóbora, cará, amendoim e milho pelo consumo elevado de açúcar, arroz, refrigerantes e bolachas recheadas.

“A situação é preocupante. Até meados do século passado, eles viviam no sistema de caça e coleta de alimentos e, depois, passaram a ser confinados em uma determinada área. Eles mudaram o padrão alimentar, o que fez crescer o número de doentes”, diz o coordenador da pesquisa, o professor da USP Laercio Franco.

Segundo o endocrinologista João Paulo Botelho Vieira Filho, da Unifesp, que trabalha na área desde 1965, a doença começou a surgir em 1996, depois que os índios começaram a consumir grandes quantidades do arroz que é oferecido na cesta básica do governo federal. “Verifiquei que os índios ganharam peso logo depois que o arroz foi introduzido. No café da manhã, se alimentam de arroz doce”, diz.

Ele acredita que apenas a volta da dieta tradicional indígena impediria a propagação da doença.

Mudança de costumes

O pesquisador Laercio Franco, da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto, diz que um dos grandes problemas enfrentados para combater a diabetes entre os índios é a dificuldade que eles têm para fazer a dieta alimentar adequada.

“Eles não têm consciência da dieta. A gente tenta explicar o que pode e o que não pode, mas não adianta”, afirma Franco.

Outro problema é a regularidade no uso de remédios. “Eles saem para visitar parentes e não levam o medicamento.”

Um dos moradores da aldeia no Mato Grosso foi treinado para aplicar a insulina nos índios. A medida foi adotada para fazer com que eles tomem a medicação com regularidade.

“Eles também precisam ser orientados na hora da conservação e descarte da seringa”, afirma.

Para o futuro, os médicos estão preocupados porque alguns índios já tiveram que amputar membros e há ainda os que apresentam problemas de visão.

“A situação é desesperadora. Já existem alguns que estão com dedos do pé e pernas amputados. Também há alguns que fazem diálise”, diz o endocrinologista João Paulo Botelho Vieira Filho, da Unifesp (Universidade Federal do Estado de São Paulo).

Vieira Filho acrescenta que a diabetes já chegou no Parque do Xingu, Gaviões do Pará e Guarani.

“Vai virar uma tragédia no Brasil essa doença entre os índios. Vai dar grandes custos ao governo e sofrimento físico para os doentes”, afirma.

Alerta à União

Vieira Filho diz que alertou o governo federal sobre a possibilidade da epidemia há quatro anos, quando detectou que os casos de diabetes estavam a se desenvolver entre a população indígena.

“Em 2008 eu escrevi ao Ministério Social de Combate à Fome [MDS] e pedi que fossem feitos vídeos educativos, para valorizar a cultura deles e mostrar o valor dos alimentos que eles tinham e dos exercícios, mas nada foi feito”, afirma.

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