Reinaldo José Lopes, Editor de Ciência da Fôlha de São Paulo
Por promover a união improvável entre o conhecimento tradicional de grupos amazônicos e as modernas técnicas de mapeamento por satélite, um antropólogo brasileiro acaba de receber um prêmio de US$ 100 mil da Fundação Ford, sediada nos EUA.
“Muita gente acha que a Amazônia é um caos fundiário, mas não é bem assim”, disse à Folha Alfredo Wagner Berno de Almeida, pesquisador da Ufam (Universidade Federal do Amazonas). “A verdade é que essas comunidades organizam muito bem seu território. E os mapas que ajudamos a editar expressam essa racionalidade”.
A intenção dos pesquisadores é entender como esses grupos usam seu espaço e organizam, em alguns casos há milênios, o uso dos preciosos recursos naturais da região. Os mapas também ajudam a entender como essas identidades colidem com a urbanização e a expansão da fronteira agrícola na Amazônia, e a auxiliar as comunidades a demonstrar os direitos sobre seu território tradicional.
“Existe hoje uma pressão grande para a formalização do mercado de terras na Amazônia. A regularização é fundamental, mas às vezes não leva em consideração esses povos tradicionais”, diz o antropólogo, nascido em Minas Gerais e com doutorado no Museu Nacional Universidade Federaldo Rio de Janeiro.
Nesse trabalho, o grupo de mais de 70 pesquisadores, entre antropólogos, economistas, biólogos eagrônomos, também pode constatar como essas identidades estão se transformando. Uma das situações emergentes são os índios urbanos “36 mil deles só na capital amazonense. Sintomático desse fato é que o grupo tenha ajudado na demarcação da terra indígena do municípiode Rio Preto da Eva (AM)”, uma terra indígena urbana.
A equipe já era apoiada pela Fundação Ford. O prêmio desta semana integra o “Visionaries Award” (Prêmio Visionários), dado a “12 inovadores sociais cuja visão extraordinária e trabalho corajoso estão melhorando a vida de milhões de pessoas”, diz a fundação em comunicado. Para Almeida, é importante reconhecer o sucesso dessas comunidades como modelos de gestão responsável dos recursos naturais.
Muitos céticos dizem que esse uso sustentável teria mais a ver com falta de alternativas econômicas, e que essas pessoas não hesitariam em deixar seu modo de vida ancestral se tivessem acesso a hospitais, educação e lazer urbanos. Ele discorda.
http://pt.scribd.com/doc/54855825/Nova-Cartografia-Social-Da-Amazonia-Recebe-Premio.
Enviada por Ruben Siqueira.