Por Fernando Oliveira
Depois de uma tremenda repercussão em todo o país, o “CQC” voltou a dar espaço para o deputado Jair Bolsonaro. A intenção era uma só: esclarecer o que de fato ocorreu na gravação do quadro em que ele respondia a perguntas vindas de variadas pessoas e se ele de fato foi preconceituoso – além de muito pouco cortês – com Preta Gil. O programa da Band deu ao político direito de resposta e enviou Danilo Gentili a Brasília. Claro, como era de se esperar, a conversa discorreu num tom “descontraído”. O suficiente, no entanto, para que Jair ratificasse sua aversão a homossexuais e voltasse a desancar Preta Gil. Numa desesperada tentativa de provar que não era racista, chegou a mostrar a foto do cunhado, que também é negro. Marcelo Tas, por sua vez, numa tentativa de rebater a pergunta que o deputado insistia em fazer (“que pai pode dizer que se orgulha de ter um filho gay?”), exibiu uma imagem da filha e revelou que ela era lésbica, numa declaração que, sim, embora tenha usado do mesmo – e questionável – expediente, foi emocionante.
Não vou aqui rebater argumento por argumento de Bolsonaro. Não sei se vale perder tempo para relatar o quão absurdo é alguém dizer que se recusa a pegar um avião pilotado por um “cotista”, ou seja: negro favorecido pelo sistema de cotas. Ou que diga que a homossexualidade é causada por um pai ausente (já pode-se pensar que órfãos tem sexualidade pré-determinada, então?). É tudo muito estúpido. A questão aqui é: caso o vídeo da semana passada não tivesse feito tanto barulho, indo parar nas principais páginas de jornais e até mesmo em discussões em Brasília, teria o “CQC” voltado ao assunto?
Não há dúvidas, para mim, que o “CQC” fez nesta segunda-feira (4) o que deveria ter feito na semana passada. Desconstruiu argumento por argumento de Jair Bolsonaro, exibindo inclusive o vídeo sem edição no qual ele ouve a pergunte feita por Preta Gil e a rebate de pronto. Assim, cairia por terra a tese que ele não entendeu o questionamento. Sinceramente, espero que o caso desse deputado continue sendo discutido. Mas sem espetáculo. Dar espaço a Bolsonaro é, ainda que involuntariamente, incentivar os que pensam como ele, de maneira torta. Aliás, é incrível como, a cada depoimento, ele piora as coisas.
Aos que acham que ele tem todo o direito de discordar, um aviso: liberdade de expressão tem de existir, sim. Mas não se pode dizer impunemente, em rede nacional, coisas como estas. Até para isso há limite. Uma vez que se descamba para apologia ao racismo, por exemplo, deixa-se de ser uma opinião. Torna-se crime. O mesmo se aplicaria a homofobia, mas infelizmente políticos como Bolsonaro atrasam a lei que criminaliza o ódio e a violência contra homossexuais. Ainda que de uma maneira que não tenha agradado a todos, o “CQC” fez bem, sim. Mas poderia ter feito bem antes, há uma semana. Antes tarde do que nunca. E chega de Bolsonaro na TV. E, vale lembrar, para discutir, é preciso ouvir o outro lado. Sugiro ao programa ouvir políticos favoráveis ao PLC-122, por exemplo.
http://colunistas.ig.com.br/natv/2011/04/05/o-cqc-e-o-desfecho-do-caso-bolsonaro/