“[…] a educação das crianças, tomando por ponto de partida a autoridade, deve sucessivamente resultar na mais completa liberdade”. (Bakunin)
Por Sassá Tupinambá – União Campo, Cidade e Florestas
Hoje, em pleno domingo, 20 de março de 2011, o diretor e o professor do ciclo básico da Escola Indígena da Aldeia Takuara, estão trabalhando, fazendo o planejamento pedagógico da semana.
A Escola Indígena da Aldeia Takuara foi fundada pelo Professor Indígena, Ládio Veron, ainda nos anos 1990. De lá para cá a escola foi diversas vezes demolida pelos agentes do Estado (policiais, funcionários públicos) e até por capangas da fazenda Brasília do Sul, escoltados por policiais do estado do Mato Grosso do Sul.
Em meados de 2006, o MEC, depois de muita insistência das lideranças e professores indígenas construiu a atual escola, dessa vez de alvenaria. Uma obra não muito boa, telhado ruim, falta de água, janelas pequenas, proporcionando pouca ventilação e iluminação inadequada para uma sala de aula. Além da estrutura inadequada, os professores ainda reclamam a falta de material para as aulas, giz, livros, armários, cadeiras, carteiras etc.
O professor indígena Dilson dos Santos, lembra que antes da nova construção ele lecionava dentro da casa de reza e que hoje, a dificuldade ainda é muito semelhante a esse período, pois “a falta de tudo isso, água, material, livros e recursos prejudica as crianças” e a qualidade do ensino baixa, já que “não tem livros didáticos para as crianças”, completou o professor.
Geralmente as crianças são dispensadas, por falta de merenda, o Estado deixa de fornecer a merenda em alguns dias, segundo o professor Dilson “não tem como manter as crianças na escola com fome todo o período de aula, aí manda de volta pra casa”.
A escola está, desde 2006 sem água encanada, a funcionária indígena, moradora da própria aldeia e voluntários/as vão buscar água de balde numa fonte, cerca de 1 km da escola, assim é preparada a merenda e lavado os pratos, copos e talheres na cantina da escola.
A obra para implementação da rede de fornecimento de água potável para a escola e toda aldeia já foi iniciada e o prazo para a entrega já se esgotou. Ela teve um custo de R$ 97.000,00 para o governo federal e mais R$ 177.000,00 de investimentos do governo estadual em parceria com o governo federal, somando R$ 274.000,00 (os valores foram arredondados), mas foi interrompido, com a conclusão indeterminada. Procurados, nem o Governo do MS e nem Governo federal sabem dizer o porque a obra foi interrompida e nem quando ela irá ser entregue.
Enquanto isso, as aulas continuam de forma precária, mas com a força de vontade do Diretor, o Cacique Ladio Veron, dos professores indígenas Dilson e Araldo Veron, da funcionária Elena e voluntários/as da aldeia, as crianças tem suas aulas e aprendizados garantidas. Na escola eles aprendem com professores da própria aldeia, falando sua língua materna, alem das aulas do programa do MEC, eles aprendem a escrever em sua língua materna e sobre sua cultura Guarani Kaiowá. “A escola cumpre uma função de apoio na educação tradicional das crianças e adolescentes do povo Guarani Kaiowá e ao mesmo tempo, proporciona o conhecimento das coisas inventadas pelos brancos, assim podemos conhecer o pensamento deles melhor e fortalecer nossa luta”, finaliza o jovem Guerreiro (excelente companheiro de caça) e professor Dilson dos Santos.
Escola Indígena – mesmo com dificuldades as crianças tem aula, mas falta água