Companheiras de luta,
Através de vocês, manifestamos nosso total apoio e solidariedade às mulheres da Via Campesina, que mais uma vez colocam a serviço da justiça e da igualdade sua coragem e determinação. Sua atitude corajosa nos faz relembrar com orgulho e admiração o 8 de Março de 2006, quando 1.800 mulheres do Movimento de Mulheres Camponesas e Via Campesina ocuparam o viveiro da Aracruz Celulose em Barra do Ribeiro, Rio Grande do Sul, destruindo estufas e mudas de eucalipto.
Os meios de comunicação reservaram a elas o tratamento de vândalas, acusando-as de destruir mais de 20 anos de pesquisas. O noticiário da televisão entremeava imagens dos “destroços” com depoimentos chorosos e apelativos de funcionárias da empresa. Para a mídia, não interessava abordar os efeitos da monocultura e, em particular, do eucalipto, quer para a natureza em si, quer para a vida daquelas e daqueles que vivem ligados à terra. E a chamada classe média se revoltava, chocada, na sua alienação, contra a “destruição da ciência, da pesquisa técnica e do progresso”.
A Lei de Segurança Nacional foi invocada, e diversas companheiras foram processadas. Outras mudaram de estado, de forma a poderem continuar sua militância. A violência policial campeou, de diferentes formas, mas essa não era assunto de interesse da grande mídia. Só seria denunciada nos saites e blogs, nos meios de comunicação alternativos e nas listas eletrônicas das redes e entidades comprometidas com a justiça e com a defesa socioambiental.
Às vésperas deste novo 8 de março, novamente as mulheres Camponesas, do MST e da Via Campesina se levantaram em diversos estados, em marchas e em ocupações. E a vocês coube a coragem de romper as cercas da Veracel e retomar, como dizem apropriadamente nossos companheiros indígenas, a terra grilada, roubada, tomada pelo agronegócio. Coube a coragem de desafiar polícia e seguranças – 1.500 mulheres e 280 crianças contra armas de fogo e ameaças. Coube, enfim, a coragem de derrubar eucaliptos e de recuperar a terra para o que ela pode nos oferecer de mais importante: o alimento.
No momento em que deram ao acampamento o nome de Irmã Dorothy Stang, vocês prestaram uma justa homenagem a uma guerreira de outro país, que tombou lutando junto a nós. Mas sabemos todas que ela seria a primeira a partilhar essa homenagem com as Marias, com as Angelinas, com todas as mulheres, vivas ou mortas, como vocês envolvidas na defesa dos território e dos direitos das populações.
Para a maioria de nós, do GT Combate ao Racismo Ambiental, não há muito que possamos fazer à distância, exceto denunciar, apoiar e enviar nossa solidariedade, torcendo para que tudo corra bem para vocês. É uma situação que nos aflige, saber que vocês, para o bem de tod@s, estão se arriscando, juntamente com seus filhos e filhas, enquanto parte de nós estamos nas cidades, relativamente a salvo nas nossas casas e escritórios.
Por isso mesmo, gostaríamos que vocês sentissem a nossa presença e a força de nossa solidariedade, através da companheira Ivonete Gonçalves, do CEPEDES e também membro do GT Combate ao Racismo Ambiental, que desde o primeiro momento nos enviou notícias e fotos, para que pudéssemos de alguma forma colaborar, denunciando e informando. A ela pedimos que transmita a todas nosso apoio e cumplicidade fraterna.
A luta é uma só, embora cada um/a de nós se veja na contingência de travá-la de acordo com as suas possibilidades e papéis.
Pelo direito à terra e ao território! Pelo direito à vida! Contra todas as formas de racismo, de opressão e de exploração!
GT Combate ao Racismo Ambiental.