“Preconceito nunca se apresenta claramente”, diz 1º embaixador negro do Brasil; leia relato

Embaixador Benedicto Fonseca Filho, na escadaria do Itamaraty, em Brasília
Embaixador Benedicto Fonseca Filho, na escadaria do Itamaraty, em Brasília

Depoimento a Juliana Rocha, de Brasília

Meu pai foi agente de portaria, um contínuo (…) O preconceito nunca se apresenta claramente. No campo das relações humanas, você nota reação positiva ou negativa (…) É preciso que haja ações afirmativas (…) Eu não me beneficiei de nenhuma política. Na minha época, isso não havia.

Filho de um contínuo, Benedicto Fonseca Filho, 47, foi promovido em dezembro a embaixador, o primeiro negro de carreira. E o mais jovem. Passou por Buenos Aires, Tel Aviv e Nova York. Vai chefiar o departamento de Ciência e Tecnologia. Ele declara orgulho de ser negro e filho de pais humildes que o educaram para chegar ao topo na casa mais aristocrática do país.

Nasci no Rio, em 1963. Mudei para Brasília em 1970 porque meu pai veio ser funcionário do Itamaraty. Ele foi agente de portaria, que é um contínuo. Quando eu tinha nove anos, toda a família foi para a [antiga] Checoslováquia [no leste europeu], quando meu pai foi removido para Praga por três anos.

Naquele tempo, todos os funcionários das embaixadas eram de carreira. Hoje, esses são terceirizados. Foi essa experiência internacional que me despertou o interesse pelo Itamaraty. Talvez por ter estudado em escolas internacionais, na escola francesa e na americana. (mais…)

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Racismo no Brasil pela voz do embaixador de Cabo Verde e de sua filha

Danniel Pereira*

Neste artigo, o embaixador de Cabo Verde no Brasil, Daniel Pereira, conta a discriminação que a filha Débora passa no colégio de Brasília. Duplo preconceito, por ser negra e por ser portuguesa. A menina também revela o que passa e o que sente no dia a dia num colégio de elite de Brasília. O caso foi usado como exemplo num artigo publicado no Correio Braziliense a propósito do lançamento da Campanha Nacional sobre o Impacto do Racismo na Infância e na Adolescência no Brasil. Deixemos-lhe o texto aqui, na íntegra.

Eu, como cabo-verdiano, não sei lidar com o racismo, porque em Cabo Verde nós ultrapassamos isso há muito tempo. Quando sou confrontado, no Brasil, com essa situação, me sinto um pouco constrangido. Nunca havia me deparado com essa situação aqui, mas minha filha mais nova já viveu essa realidade na escola. Ela tem 15 anos. Nós já vivemos na Holanda, em Angola, em Cabo Verde, em Portugal e ela nunca se deparou com o problema do racismo. Foi preciso chegar ao Brasil, paradoxalmente um país mestiço, para que isso acontecesse.

Ela estuda numa escola de elite e no dia a dia enfrenta situações as mais bizarras: anedotas, brincadeiras de mau gosto, coisas sem pé nem cabeça. Para ela, é constrangedor. (mais…)

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MA – A vida do Rio Parnaíba em jogo. Entrevista especial com Francisco das Chagas Pereira

No mesmo leilão previsto para março que pode aprovar a construção de Belo Monte estão outros projetos hidrelétricos polêmicos. Na região do Rio Parnaíba [1] há dois projetos que vão participar do leilão: UHE Ribeiro Gonçalves e UHE Castelhano. Em dezembro, movimentos sociais da região organizaram a I Marcha dos Povos da Bacia do Rio Parnaíba onde enfatizaram o desejo de que o projeto seja suspenso uma vez que a população reclama a falta de informações e a participação dos atingidos pelas barragens no processo de discussão e decisão.

Sobre o tema, a IHU On-Line entrevistou Padre Francisco das Chagas Pereira, coordenador do Fórum em Defesa da Vida do Baixo Parnaíba. Ele também é coordenador de Pastoral da Diocese de Brejo, no Maranhão, localizada no leste do estado. Pe. Chagas, como é conhecido, nasceu no interior do Maranhão e só saiu de lá para estudar. Desde a juventude está envolvido com as Comunidades Eclesiais de Base maranhense. Foi coordenador da Comissão Pastoral da Terra estadual por seis anos.

Na entrevista, ele apresenta a visão do povo que pode será atingido pelas obras das barragens. “As hidrelétricas arrasam com tudo nos locais onde são implantadas. Isso ocorreu nas barragens de Tucuruí, Estreito e em todas as outras. Não é um tipo de desenvolvimento a partir da vida. Acaba com flora, animais silvestres, aves, tudo se acaba, não fica nada. Imagine quantos hectares são cobertos de água com a construção de uma hidrelétrica. É assustador”, diz. Confira a entrevista. (mais…)

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Antisemitismo ‘oficial’ de Estado, entre 1933 e 1948: Livro expõe circulares secretas visavam barrar entrada de judeus no País

Refugiados judeus no porto de Lisboa. Imagem de Roger Kahan (1940)

Entre 1933 e 1948, o governo brasileiro emitiu dezenas de circulares secretas que visavam dificultar, ou até mesmo impedir, a entrada de judeus que fugiam do nazismo e do fascismo que dominavam a Europa. O mito do Brasil cordial, que não é racista, pode ser confrontado agora por meio do livro Cidadão do Mundo – o Brasil diante do Holocausto e dos judeus refugiados do nazifascismo – 1933-1948 (Editora Perspectiva, 476 p., R$75,00). A obra, lançada no início do mês de dezembro, é originada da tese de livre docência da professora Maria Luiza Tucci Carneiro, apresentada em 2001 à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciência Humanas (FFLCH) da USP.

O livro analisa o contexto desse ‘cidadão do mundo’: trata-se do judeu que começa a ser perseguido na Europa, a partir de 1933 com a ascensão do nazismo na Alemanha. “À medida que os nazistas vão invadindo outros países, surgem novos fluxos migratórios de judeus alemães que vão se somando a novas nacionalidades de judeus refugiados da guerra, como austríacos e poloneses”, explica a professora.

Com a perda da identidade jurídica decorrente da perseguição nazista, esse ‘cidadão no mundo’ foge de seu país de origem e busca rotas de fuga – incluindo o Brasil. “Mas aqui vai encontrar receptividade apenas dentro da comunidade judaica. A posição oficial do governo brasileiro é a de descaso para esse ‘cidadão do mundo’, ou mesmo de omissão em algumas situações bastantes críticas. As circulares secretas mostram que a orientação dada aos diplomatas brasileiros era de dificultar ou negar a emissão de vistos para os refugiados judeus”, conta. (mais…)

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MG – Justiça atende MPE e proíbe a concessão de autorização ambiental de funcionamento para mineradoras

Empreendimentos deverão ser convocados ao licenciamento ambiental

O Ministério Público Estadual (MPE), por meio da Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente de Belo Horizonte, da Promotoria de Justiça de Defesa das Bacias dos Rios das Velhas e Paraopeba e da Promotoria Estadual de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico, obteve importante decisão para a preservação do meio ambiente e do patrimônio cultural de Minas Gerais, determinando que a partir de terça-feira, 11, o Estado de Minas Gerais não pode mais conceder Autorizações Ambientais de Funcionamento (AFF) para atividades mineradoras.

O juiz da 2a. Vara da Fazenda Pública Estadual de Belo Horizonte, Osvaldo Oliveira Araújo Firmo, argumentou na liminar que “As razões de ordem fática apontadas pelo Estado como justificadoras da burla à materialização do princípio da avaliação de impactos ambientais por meio do licenciamento ambiental, determinada pela Lei nº 6938/81 (art. 9o, III e IV e art. 10), são de lastimável impressão… Por tudo, resta claro que a AAF é um instrumento, por assim dizer mais frouxo, que o Estado de Minas Gerais optou por instituir, acreditando-se autorizado – à primeira vista – por uma retórica hermenêutica sintomaticamente casuística, para isentar-se de assumir suas atribuições legais…”. (mais…)

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Carta Aberta ao povo do Norte de Minas Gerais

Nós,  entidades  populares,  povos  e  comunidades  tradicionais, organizações sociais do Norte de Minas Gerais, viemos por meio desta carta aberta, alertar a população de Riacho dos Machados, Porteirinha, Rio  Pardo  de  Minas  e  demais  localidades  próximas  às  áreas  de implantação de novos projetos de mineração, nesta região, acerca dos grandes e insustentáveis impactos sociais e ambientais provocados por estes empreendimentos no mundo. Estamos falando de um modelo de desenvolvimento predatório, que esgota os recursos naturais carregando nossas riquezas e deixando para trás um enorme passivo ambiental.

Historicamente, vimos o  tal do  “progresso” chegar: vieram as grandes empresas  liberadas do pagamento de  impostos, pela SUDENE, vieram os maciços  florestais  derrubando  o  cerrado  e  a  caatinga  e  encurralando comunidades,  vieram as barragens e  tantos outros empreendimentos que aprofundaram ainda mais as desigualdades sociais na região.

Nossa riqueza foi sendo explorada, carregada para os grandes centros com promessas de emprego, diminuição da pobreza e desenvolvimento para as cidades. Este discurso enganou e vem enganando muita gente. Mas não nos engana. (mais…)

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