Em tribo no Maranhão, índias amamentam animais. Eles mantêm tradição de contato próximo com a natureza.
Os Awá-Guajá são uma das últimas tribos nômades das Américas. Em sua reserva, no noroeste do Maranhão, eles mantêm a a tradição de contato próximo com os animais. O filhote de cutia é alimentado com o fruto do babaçu. E o de macaco é amamentado pelas índias.
“O Awá-Guajá é um povo muito único. E essa relação que eles têm com o bicho, ele passa a ser membro da família”, conta Bruno Fragoso, coordenador de Índios Isolados da Funai. A índia Tapanií explica que quando o macaco órfão que ela adotou ficar maior e mais agressivo, ela o soltará na mata. É na floresta que a vida dos Awá-Guajá se renova e também corre risco no encontro com invasores.
“O maior medo que eles têm é a doença que às vezes contraem no contato com a gente. E o segundo medo é pensar que é inimigo, pistoleiro, esse povo que vem invadindo as terras.”, explica Patreolino Garreto Viana, auxiliar de campo da Funai. Imoin tem o medo estampado no rosto e, no braço, uma marca de bala. O filho dela conta que a emboscada aconteceu quando ela fazia coleta na mata.
O perigo do encontro com invasores, caçadores e madeireiros é grande, mas o espírito nômade dos Awá-Guajá é muito forte e mesmo os que moram nas aldeias passam boa parte do tempo na mata.
Uma família que passou dias na floresta volta trazendo caça e vários litros de mel. Macaripitã conta que foi ela que enxergou a colméia.
Aqui é assim, mulher boa para casar é aquela que sabe ver e ouvir a natureza. Ser prendada também conta, dizem os rapazes da aldeia.
“Aí a mulher sabe fazer a saia dele também, como ele usa, como ela usa, sabe cozinhar também, como a gente come”, descreve Manaxika, líder da aldeia. A sabedoria dessas mulheres é fruto da relação que elas têm com a natureza e com as tradições: o melhor jeito de subir na árvore, de limpar e preparar o peixe, de cortar o cabelo com lascas de taquara afiada. Os cestos, os enfeites, as redes e roupas da palha do tucum. Dar conforto e beleza para a tribo é função das mulheres Awá-Guajá.
As jovens se casam assim que menstruam. Novinhas já tem muitos filhos.
Parapiñam tem quatro e mais um a caminho. O isolamento da aldeia Awá só é vencido quando aparece alguém de carro. Foi a sorte de uma índia grávida com hemorragia, que Bruno Fragoso, o novo coordenador do grupo de índios isolados da Funai a levou para a cidade de Santa Inês. No hospital precário nasceu mais um Awá-Guajá.
A ameaça é terrivelmente visível para os Awás e para as outras etnias da região. Imagens de satélite mostram que os 820 mil hectares de terras indígenas demarcadas no Maranhão estão sendo devastadas sem dó.
“Os Awá-Guajá, no processo de aceleração de invasão em que se encontram, se não houver ação rápida e emergencial, o futuro desse povo é a extinção”, explica Bruno Fragoso, da Funai .
http://g1.globo.com/natureza/noticia/2011/01/em-tribo-no-maranhao-indias-amamentam-animais.html