O queixume entreouvido nos bastidores do governo logo evoluiu para um desavergonhado bate-boca. Primeiro, o PMDB se ressentiu da perda de espaço no primeiro escalão, com ministérios relevantes como o das Comunicações e da Saúde subtraídos da cota do principal partido aliado da presidente Dilma Rousseff e entregues, respectivamente, aos petistas Paulo Bernardo e Alexandre Padilha. Depois, a cúpula não se conformou com a troca de mãos das joias do segundo escalão das duas pastas, os Correios e a Funasa. E o novo ministro teve de ouvir uma espécie de “vai para casa, Padilha” do líder peemedebista na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN): “Parece que vocês não aprenderam com o mensalão. Depois não venham correr atrás do PMDB para resolver os problemas”.
A temperatura na formação de novos governos é tradicionalmente quente na história política brasileira, afirma o filósofo e coordenador do Núcleo Direito e Democracia, do Centro Brasileiro de Planejamento e Análise (Cebrap), Marcos Nobre. “Ministros se xingavam em público na composição da equipe do primeiro mandato do Fernando Henrique, em 1995”, lembra esse paulistano de 45 anos, doutor pela Universidade de São Paulo (USP), com pós-doc na Universidade de Frankfurt, Alemanha. Mas Dilma deve estar atenta, diz, pois o xadrez da partilha de cargos pode complicar.
Professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade de Campinas (Unicamp), Nobre tem se dedicado ao estudo de um fenômeno singular da cultura política brasileira, o “peemedebismo” – espécie de consenso conservador, feito para acomodar todo o mundo e deixar tudo como está. Em artigo publicado na revista Piauí, Nobresustenta que, diante de tal traço de continuidade na política brasileira, nem o Plano Real de FHC nem o “lulismo” descrito pelo cientista político André Singer podem se apresentar como grandes novidades. (mais…)
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