Juventude indígena do Brasil, faz “Carta Denúncia”

Juventude indígena da Bahia, novos atores sociais em sintonia com os novos avanços e desafios do mundo contemporâneo. Na foto as índias Tuxá e Atikum de Rodelas/BA.

Carta ao Conselho Nacional de Juventude e a Secretaria Nacional de Juventude do Governo Federal Brasileiro.

Nossos desafios, nossa realidade, cultura e identidade

Os dias de hoje nos desafia a refletir sobre a realidade dos povos brasileiros, e neste momento, em especial com os povos indígenas e o tipo de projeto de desenvolvimento que se coloca para esses povos, em especial para sua juventude.

O Brasil conta com mais de 215 povos indígenas que habitam o Brasil há milhares de anos, falantes de mais de 170 línguas diferentes. A maior parte dos povos indígenas ainda vive em suas próprias terras, no interior das florestas, ou em pequenos núcleos urbanos, próximos às aldeias.

Reconhecemos a caminhada dada nos últimos anos na construção do respeito a diversidade e pluralidade. Entretanto, há de se atentar que vivenciamos no Brasil um processo de criminalização das lideranças indígenas e de seus movimentos, claro desrespeito a esse setor social e aos preceitos fundamentais da constituição.

Nós, jovens indígenas, posicionamo-nos em defesa de um Brasil solidário, livre, justo e igualitário. Queremos chamar atenção para milhares de povos indígenas que sofrem, acampados em beira de estradas, outros presos, torturados e perseguidos. Muitos sem direito a saúde e educação, outros correndo o risco de perderem a terra por grandes obras inclusive muitas destas relacionadas aos programas governamentais que não respeitam a tradição indígena. O assistencialismo de algumas ações de governo passa por uma ação, que podemos chamar de agressão e imposição de costumes. Não apresenta políticas públicas de juventude de forma efetiva, que respeitem as diversidades culturais indígenas nas comunidades. Enquanto o governo brasileiro não apresenta soluções aos seus povos originários continua o aumento de problemas sociais, culturais, econômicos e ecológicos. É necessário também um mapeamento dos problemas relacionados ao segmento juvenil buscando saber quais suas demandas, potencialidades e dificuldades.

Os povos indígenas habitam essa região há séculos e o avanço capitalista e colonizador é responsável pelo etno e genocídio de diversos povos e milhares de pessoas no Brasil. Os povos indígenas seguem lutando por seus territórios e, mesmo assim, ainda enfrentam a violência, a criminalização, a injustiça e a miséria. É importante a reparação do Estado brasileiro para com esses povos. No atual governo, passados oito anos, não tivemos avanços significativos na efetivação das políticas públicas de juventude para as juventudes indígenas.

No Brasil a população indígena é estimada em cerca de 800 mil pessoas, enquanto na época da “invasão”, éramos mais de 5 milhões. Estes povos vivem realidades sociais, étnicas e culturais distintas. Desde povos em situação de isolamento, até aqueles que habitam periferias de grandes cidades.

Um dos povos que gritam por ajuda, são os Guarani Kaiowá, do Estado do Mato Grosso do Sul, que vivem a realidade da negação de seus direitos, situação de calamidade, confinamentos em pequenos espaços, altos índices de violência, homicídios, suicídios, mortalidade infantil, miséria,diversas doenças e total desassistência.

Do ponto de vista dos direitos dos jovens nos interessa que os governos proponham e implementem uma política articulada de desenvolvimento socioeconômica, ambiental, político e cultural que possa assegurar o seu bem viver dentro da sua comunidade.

A partir do interesse público mais geral em relação à maior democratização social e política, bem como em relação à preservação da biodiversidade, interessa que os jovens indígenas sejam fortalecidos social e culturalmente, como condição para ampliar seu papel na democratização do desenvolvimento socioeconômico e político.

Frente à situação de extrema vulnerabilidade a que está submetida à imensa maioria dos jovens indígenas brasileiros, é necessária uma firme atuação de todos os segmentos da sociedade no sentido de garantir o direito dos jovens à vida digna e ao pleno desenvolvimento de suas potencialidades. Isso se desdobra e concretiza no direito à educação, ao trabalho e à renda, à cultura e ao lazer, à segurança, ao meio ambiente, à assistência social; à saúde e à participação social, preceitos garantidos pela constituição.

Nós jovens indígenas do Brasil, estamos preocupados com esta situação e queremos somar forças para a minimização destes problemas. Portanto pedimos ao Conselho Nacional de Juventude, às entidades que o compõem e à Secretaria Nacional de Juventude, apoio na condução de ações, junto aos povos indígenas, no sentido de avaliar e propor, por de grupo interinstitucional de diálogo entre o governo e a sociedade, soluções no âmbito das políticas públicas capazes de transformar a realidade das juventudes indígenas.

Queremos garantir o futuro do Brasil e dos povos indígenas.

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Jandair-Tuxá.

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