Na última terça-feira (14), o ministro da Justiça Luiz Paulo Barreto, declarou como de posse permanente do povo Xukuru Kariri, a Terra Indígena Xukuru Kariri, no município de Palmeira dos Índios, em Alagoas. Foram declarados 6.927 hectares como território do Povo Xukuru Kariri. A terra foi identificada em 1973, e só agora, 37 anos depois, a área é permanentemente dos indígenas. Mas a luta do povo Xukuru Kariri é muito antiga e data de 1822. A informação é de Raquel Xukuru Kariri, irmã de Etelvina Santana da Silva, a Maninha Xukuru Kariri, importante liderança do povo.
Segundo Raquel, a comunidade bastante animada com a publicação da Portaria. “Espalhamos a notícia para as várias comunidades do povo e devemos nos reunir no próximo sábado para tratar do assunto”, afirmou. Destacando a importância da terra, Raquel lembrou todo o tempo, da atuação de Maninha na busca pela resolução das demandas do povo, além de lembrar outras lideranças que serviram de exemplo nessa luta. “Maninha sempre chamou atenção para a terra. Depois que ela partiu, as lideranças ficaram um pouco perdidas, mas logo começou a surgir um grupo de jovens indígenas que começaram a fortalecer mais a luta Xukuru Kariri por seu território”, ressaltou.
Maninha Xukuru faleceu em 2006 e deixou um legado de luta e valorização da comunidade. “Ela se apropriou da luta pela terra de nosso povo, como se fosse a luta da própria vida dela, assim como outras lideranças como Miguel Celestino, Ciço França, entre outros.” Raquel também destacou que Maninha sabia de sua importância na história dos Xukuru Kariri. “Ela esperava que algum dia todos os povos indígenas também tivessem consciência do seu papel, da importância da sua batalha”.
A importância da terra
Já nos primórdios do século XX, o povo Xukuru Kariri era conhecido como povo guerreiro. Muitas lideranças viajavam dias a pé para cobrar das autoridades a devolução das terras que, pertencentes aos antepassados, haviam sido tomadas por fazendeiros e latifundiários ao longo dos anos. Já na década de 1950, houve a primeira retomada de terra, feita pela família de Maninha, liderada por Alfredo Celestino, seu avô, na fazenda do Canto, pois estavam cansados de promessas nunca concretizadas de devolução de suas terras.
Para Maninha, a luta pela terra era o tema principal de todas as lutas do povo. “A terra é vida, é a continuidade da vida de um povo, pois índio nenhum vive sem terra. A dignidade do índio está na terra que ela pode viver e trabalhar”, destacou Raquel, relembrando o legado de sua irmã.
“A portaria que saiu hoje é, em grande parte, resultado das lutas de Maninha de nosso povo guerreiro, não vamos ficar parados”, lembrou Raquel. Segundo ela, cinco Grupos de Trabalho (GT’s) já foram feitos e todos nunca foram concluídos por pressões de não índios. “Nosso território, assim como está declarado na portaria, é bastante reduzido. A gente já achava pouco quando eram mais de 13 mil hectares, agora são menos de 7 mil. Não há como o nosso povo sobreviver por muito tempo”, declarou.
Segundo Raquel, a Fundação Nacional do Índio (Funai), empurrou esse tamanho de território “goela abaixo” para seu povo, mas afirmou que eles não vão ficar parados. “No último mês de outubro,em nossa Assembleia, relembramos e celebramos a luta de Maninha em seu aniversário de morte, e definimos que vamos sempre continuar nossa luta por nossa terra completa, não vamos parar nesses poucos hectares agora reconhecidos.” O território total de seu povo, de acordo com Raquel é de 36 mil hectares.
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