Como explicar, por exemplo, o racismo, ou a negação da importância do racismo como elemento estruturante da sociedade, por alguns movimentos sociais? Como explicar a homofobia e a misoginia em importantes intelectuais ou militantes das lutas sociais? Por que os movimentos sociais muitas vezes não consideram em seu próprio fazer a necessidade de compreender e enfrentar a opressão das mulheres e das populações não brancas?
Cris Faustino *
Antes de iniciar minha fala, é importante situá-la a partir do lugar que ocupo no mundo, lugar que é constituído a partir da minha vida de mulher, negra, nordestina e bissexual. Quanto a essa última, para quem tem dúvida, tomo emprestadas as palavras de (des)ordem do movimento LGBT: “bissexualidade não é indecisão, nem transição”; e esclareço: é uma orientação sexual, do mesmo modo que ser lésbica, gay ou hétero também o é. Mas essa fala também se dá a partir de minha vivência e ação como sujeito político, que em muito se vincula à minha consciência de pessoa, situada no mundo e nas relações sociais.
E é nesse universo de relações e coisas que sou militante feminista, antirracista, anticapitalista e antihomofobia. Trabalho no Instituto Terramar, no Ceará, uma ONG do campo da luta por justiça ambiental; e milito no Fórum Cearense de Mulheres/Articulação de Mulheres Brasileiras e na Rede Brasileira de Justiça Ambiental, mais especificamente no GT Combate ao Racismo Ambiental. Sobrecarga de opressões, sobrecarga de militância…
Eu, e pessoas como eu, temos, na ação política, tentado construir pensamentos e, na medida do possível, práticas radicalmente comprometidas com o fim de todas as formas de opressão e de discriminação. O que não quer dizer que não experimentamos na vida cotidiana as contradições que nos impõem a vida real e certas cristalizações que nos são impingidas pelos modelos sociais de formação das pessoas. Por isso resolvi começar essa fala numa crítica desde nós para em seguida chegar ao outro, aos que são nossos opostos. (mais…)
Ler Mais