BRASÍLIA – Petroleiras americanas não queriam a mudança no marco de exploração de petróleo no pré-sal que o governo aprovou no Congresso, e uma delas ouviu do então pré-candidato à Presidência, José Serra (PSDB), a promessa de que alteraria a regra se vencesse, mostra telegrama dos EUA de dezembro de 2009 obtido pelo WikiLeaks.
“Deixa esses caras [do PT] fazerem o que eles quiserem. As rodadas de licitações não vão acontecer, e aí nós vamos mostrar a todos que o modelo antigo funcionava… E nós mudaremos de volta”, disse Serra a Patricia Pradal, diretora de Desenvolvimento de Negócios e Relações com o Governo da petroleira dos EUA Chevron, segundo telegrama.
O despacho relata a frustração das petrolíferas com a falta de empenho da oposição em tentar derrubar a proposta do governo brasileiro. O texto diz que Serra se opõe ao projeto, mas não tem “senso de urgência”. Questionado sobre o que as petroleiras fariam nesse meio tempo, Serra respondeu, sempre segundo o relato: “Vocês vão e voltam”.
A executiva da Chevron relatou a conversa com Serra ao representante de economia do consulado dos EUA no Rio.
O governo alterou o modelo de exploração, obrigando a partilha da produção de novas reservas. A Petrobras deve ser parceira nos consórcios de exploração e opera com exclusividade nos campos. A regra foi aprovada na Câmara.
Reserva
Datados entre janeiro de 2008 e dezembro de 2009, telegramas do consulado dos EUA no Rio sobre a descoberta da reserva de petróleo mostram a preocupação da diplomacia dos EUA com as novas regras. O crescente papel da Petrobras como “operadora chefe” também é relatado com preocupação. O consulado também avaliava, em abril de 2008, que as descobertas de petróleo e o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) poderiam “turbinar” a candidatura de Dilma Rousseff.
O consulado cita que o Brasil se tornará um “player” importante no mercado de energia. Em outro telegrama, a executiva da Chevron comenta que uma nova estatal deve ser criada para gerir a nova reserva porque “o PMDB precisa de uma companhia”.
A reportagem não conseguiu localizar José Serra para comentar o caso.
http://www.agora.uol.com.br/brasil/ult10102u844720.shtml