“É essencial que eles respeitem a gente. Somos trabalhadores honestos. Tem policial entrando dentro das casas, arrombando. A vizinhança está reclamando que eles estão pegando as coisas e levando. Na nossa mente, eles ficam pior que os próprios bandidos”, protestou a jovem Bruna, moradora do Morro da Fazendinha. Ela contou que policiais tentaram arrombar a porta de sua casa, quando a família não estava. A polícia, acrescentou, deve defender a comunidade, e não agredi-la.
Mesmo assim, Bruna prefere a presença das forças de segurança pública ao domínio do tráfico. Porém, ela teme que os criminosos possam acabar voltando. “Tem muita gente que tem medo de represália, caso eles voltem. Só de pensar que minha filha não vai se deparar com eles, se perder, se envolver, é muito bom e gratificante para a gente. Se os policiais entraram, então que fiquem. Se saírem, vão dar espaço para outra facção.”
Reclamações de arbitrariedade e truculência policial são constantes entre os moradores que fazem fila ao lado do ônibus da Defensoria Pública Estadual, que, desde 30/11, está estacionado na Rua Joaquim de Queiroz, na entrada da favela da Grota, com uma equipe de defensores para atender a população. A maioria quer apenas fazer a segunda via de documentos, mas alguns procuram o serviço para denúncias.
A faxineira Noêmia Cândido reclamava que no dia anterior policias militares arrombaram a porta de sua casa e quebraram um móvel que ela recém havia comprado. Segundo Noêmia, nenhuma pessoa da família estava na residência, que já havia sido revistada três vezes antes. “Eles quebraram a porta e entraram. Eu ganho R$ 300 por mês, só o bar [o móvel] custou R$ 650. Reclamei para os policiais e eles disseram para eu me queixar na delegacia. Quem vai pagar o meu prejuízo?”
Para ouvir pessoalmente as queixas dos moradores, o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, percorreu a pé, ontem (1º), as principais ruas do Alemão, em um trecho de 3,5 quilômetros desde a entrada da Grota até a Fazendinha. No caminho, ele conversou com moradores e ouviu queixas, como a da faxineira e passadeira Cleonice Madalena de Freitas.
“Ontem, os policiais me espremeram junto à pia da cozinha, querendo saber onde estava o paiol e onde estavam os traficantes. Eu trabalho fora e não sei nada disso”, contou Cleonice. “Quando peguei uma leiteira com água, ele apontou a arma para mim. Eu disse: atira covarde. Aí ele foi embora, mas ainda levou uma penca de banana e saiu comendo. Tirar os bandidos para colocar um policial bandido, que vai fazer ainda pior, não resolve nada.”
Beltrame ouviu a reclamação da moradora e prometeu investigar o caso. “Prometo à senhora que todas essas denúncias vão ser investigadas. E o excesso, se for comprovado, vai ser punido. O que se está fazendo aqui na comunidade, no geral, é muito bom. Mas obviamente não podemos aceitar o que fizeram com a senhora. Essas coisas a gente tem que punir e essas pessoas vão ser expulsas. Não é a corporação, é um ou dois policiais que agem assim”, disse Beltrame.
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