Novembro não acabou

Observatório de Favelas – Notícias e Análises

Editorial de 1/12/2010

Na última sexta-feira, dia 26, com a eminência da invasão do conjunto de favelas do Alemão, tensão e preocupação tomaram conta dos corredores do Observatório de Favelas. Era o final de uma semana que já contabilizava mais de 80 veículos incendiados e pelo menos 10 mortes. Naquele momento, uma invasão violenta ao Alemão significaria uma tragédia para a cidade, mas também um retrocesso profundo na política de segurança pública do estado. Foi nesse contexto, que divulgamos uma nota sinalizando, uma vez mais, que a garantia da segurança e a proteção da vida dos moradores de todas as áreas da cidade devem ser sempre a prioridade do Estado.

Nos dias que se seguiram, a ocupação policial e militar tomou outros rumos e a possibilidade da tragédia tornou-se cada vez mais distante. Bom para os moradores das favelas ocupadas, excelente para a cidade. Se o horizonte que esta sociedade busca é ver a paz consolidada, é um equívoco profundo imaginar que ela será alcançada por vias violentas ou ao custo da perda de vidas humanas.

Se o horizonte que esta sociedade busca é ver a paz consolidada, é um equívoco profundo imaginar que ela será alcançada por vias violentas ou ao custo da perda de vidas humanas.

Há alívio com os desdobramentos dos fatos das últimas semanas, mas há também o reconhecimento de que eles deixaram questões e lições que podem contribuir com uma reflexão voltada para a transformação da cidade. O boletim do Observatório Notícias & Análises busca nesta edição fazer um apanhado de algumas delas como forma de agregar novas ideias para este debate, sempre pautadas no reconhecimento das comunidades populares como protagonistas de políticas de direitos urbanos e, portanto, referências para qualquer projeto que busque uma ordem mais justa.

Para além do espetáculo criado em torno da operação militar e do discurso vazio da “guerra”, é hora de buscar compreender a cidade em sua complexidade. Isto implica em um novo olhar sobre as favelas e sobre o contexto de violência no qual estamos inseridos. Não se pode mais aceitar que a favela seja vista a partir de estereótipos ou como território que concentra os problemas da sociedade. Esta é uma ilusão que leva a ações pouco eficazes. Um exemplo bastante nítido está no imediatismo que leva a crer que com a ocupação do Alemão estaria desarticulada toda a rede do tráfico de drogas. É importante que diariamente chamemos a atenção para o equívoco deste tipo de visão, com o intuito de alertar para as demais questões que ainda precisam ser enfrentadas.

Se, de fato, chegou o momento do Estado reparar um erro histórico – a perda de soberania nos espaços populares – não podemos deixar passar a oportunidade que se abre para a redução das desigualdades e para a mudança das vidas dos cidadãos. Para isso, é preciso criar espaços amplos de diálogo, que privilegiem a participação de variados atores sociais neste processo, e, principalmente, conduzir toda e qualquer ação sob a lógica da garantia plena de direitos.

Veja aqui a galeria de fotos com imagens feitas pelos fotógrafos da Agência Imagens do Povo.

http://www.observatoriodefavelas.org.br/observatoriodefavelas/noticias/mostraNoticia.php?id_content=970

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.