Assim como nas negociações sobre as mudanças climáticas, a agenda da Biodiversidade também teve seu início formalizado no Brasil, no Rio de Janeiro, em 1992.
Mas por que um tema como a Biodiversidade merece um acordo global entre todos os países?
Seguindo ao pé da letra a definição da própria convenção, “biodiversidade é variabilidade entre organismos vivos de todas as origens, compreendendo os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte, compreendendo ainda a diversidade dentro das espécies, entre espécies e de ecossistemas”. É na verdade um acordo sobre a própria vida. Daí a sua importância, que estranhamente é pouco reconhecida.
O Japan Times, jornal mais importante aqui do Japão, em edição especial sobre a COP10, a descreveu como “uma conferência de Deus”. Religiosidade a parte, é essa de fato a importância dos temas discutidos e negociados aqui.
Existem atualmente 193 Partes (192 países + União Européia) que ratificaram o texto da Convenção, comprometendo-se em termos gerais a implementar medidas nacionais e internacionais para alcançar três objetivos:
1. Conservar a diversidade biológica;
2. Promover o uso sustentável de seus componentes;
3. Assegurar a repartição equitativa e justa dos benefícios dos recursos genéticos.
Ao longo de seus 42 artigos, o texto da Convenção funciona como uma espécie de guia prático e permanente aos países membros para alcançar tais objetivos.
É esse, entretanto, o verdadeiro problema. Quase nada do que foi acordado no papel se materializou na prática em relação à redução da perda da diversidade do planeta. Na verdade, a biodiversidade vem se reduzindo em níveis cada vez mais intensos. Experimentem uma leitura do “Panorama da Biodiversidade Global 3 (GBO3)”. Procurem no Google (disponível em http://www.cbd.int/doc/publications/gbo/gbo3-final-pt.pdf). É absolutamente deprimente o nível em que já dilapidamos o planeta.
O próprio relatório adverte que “nenhuma das vinte e uma submetas que acompanham o objetivo global de reduzir significamente a taxa de perda de biodiversidade até 2010 foi definitivamente alcançada em nível mundial”. E pior, “não há indicação alguma de uma redução significativa da taxa de declínio da biodiversidade, nem de uma redução significativa das pressões sobre ela”.
Chegamos agora em Nagoya, no fim da primeira década do século 21, deparados com esse problema sem igual proporção. Infelizmente, não me parece que há vontade política, financiamento adequado e mesmo capacidade técnica para uma solução verdadeira.
Ainda, segundo o relatório, “as medidas tomadas durante as duas próximas décadas e a direção traçada no âmbito da Convenção sobre a Diversidade Biológica determinarão se as condições ambientais relativamente estáveis das quais a civilização humana tem dependido durante os últimos 10 mil anos continuarão para além desse século. Se não formos capazes de aproveitar essa oportunidade, muitos ecossistemas do planeta se transformarão em novos ecossistemas, com arranjos sem precedentes, nos quais a capacidade de suprir as necessidades das gerações presentes e futuras é extremamente incerta”.
Dentre os milhares de panfletos e matérias que circulam por aqui, uma em especial me chamou atenção. É de uma agência de publicidade chamada Futerra. Ela propõe uma nova forma de comunicar esse tema e acabei me influenciando com o que li. Ao invés de mensagens de extinção e catástrofes, normalmente utilizadas para falar desse assunto e que em geral só causam apatia, o estudo sugere o uso de palavras de exemplos que demonstrem amor e necessidade de mudança e ação.
Fiz o possível para encontrar esses temas positivos, que trazem empatia para o leitor e provocam mudanças individuais e públicas. O melhor que consegui foi disponibilizar o vídeo de umas das criaturas mais bonitas do mundo convidando-nos a agir pela biodiversidade.