Kräutler recebeu em Estocolmo o prêmio por “uma vida de trabalho pelos direitos ambientais e humanos dos povos indígenas” e seus “esforços por salvar a Amazônia da destruição”.
Kräutler, de 71 anos, se destacou pela defesa dos direitos indígenas na região paraense do Xingu, de cuja diocese é bispo desde 1980.
Cimi
Seu trabalho possibilitou a inclusão dos direitos indígenas na Constituição brasileira de 1988, uma linha que seguiu promovendo no Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Com o Cimi, Kräutler impulsionou projetos de construção de casas, escolas e centros para crianças, mães e mulheres gestantes.
Belo Monte
Também foi ferrenho opositor da construção da hidrelétrica de Belo Monte no rio Xingu, em razão dos irreparáveis danos ambientais que causaria na região, enfrentando assim o Governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O júri do Nobel Alternativo reconheceu também os esforços do nigeriano Nnimo Bassey em defesa do meio ambiente, contra as petrolíferas de seu país.
Os quatro agraciados pelo Nobel Alternativo dividirão 200 mil euros em prêmios (US$ 272 mil). A cerimônia de entrega das homenagens será realizada no dia 6 de dezembro no Parlamento sueco.
Os outros premiados foram a organização israelense “Médicos para os Direitos Humanos-Israel”, que atua em seu próprio país e na Palestina, o nigeriano Nnimmo Bassey, de 52 anos, que “revelou os horrores ecológicos e humanos da produção del petróleo”, e o nepalês Shrikrishna Upadhyay, de 65 anos, em conjunto com a organização Sappros, que “trabalham contra as múltiplas causas da pobreza”, segundo o júri.
A Cerimônia de Premiação no Parlamento sueco será realizada no dia 6 de dezembro.
O Right Livelihood Award (Prêmio Modo de Vida Correto) foi adotado em 1980 pelo escritor e ex-eurodeputado sueco-alemão Jakob von Uexküll. A homenagem distingue o trabalho social de pessoas e instituições e é considerada a ante-sala do Nobel da Paz.
Vários ganhadores do prêmio ‘alternativo’ acabaram recebendo depois o outro prêmio, como a queniana Wangari Maathai, que recebeu o Right Livelihood.
Segundo informa o Boletim da CNBB, 30-09-2010, Dom Erwin justificou a alegria de receber o prêmio. “Não estou feliz em meu nome, mas por causa da Amazônia e dos povos indígenas que merecem esse reconhecimento!”, declarou.
A Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) havia encaminhado uma carta à fundação Right Livelihood Award ratificando a indicação do nome de dom Erwin Kräutler para o prêmio Nobel Alternativo dos Direitos Humanos em fevereiro deste ano. De acordo com a CNBB, a indicação é um gesto de reconhecimento à atuação “pastoral e profética” de dom Erwin “junto aos mais fracos e aos povos indígenas”.
Para o presidente da CNBB, dom Geraldo Lyrio Rocha, esse prêmio é uma grande homenagem a dom Erwin e também honra muito a própria CNBB. De acordo com dom Geraldo, o prêmio é o reconhecimento da grande luta de dom Erwin na defesa da vida dos povos indígenas e da própria dignidade humana destes povos.
“Dom Helder Câmara também recebeu esse prêmio na época em que vivíamos no regime ditatorial no Brasil, quando lhe foi negado o Prêmio Nobel da Paz. E agora, dom Erwin recebe esse mesmo prêmio! Quero parabenizar dom Erwin e também a nossa Igreja, por ter em seu meio um lutador pela justiça social, pelo meio ambiente e pela vida dos povos indígenas!”, declarou.
Dom Erwin Kräutler nasceu na Áustria em 1939, tornou-se padre em 1964 e veio para o Brasil como missionário. Em 1978, tornou-se cidadão brasileiro (embora também mantendo a sua cidadania austríaca). Em 1980, foi nomeado bispo do Xingu, a maior circunscrição eclesiástica do Brasil. Entre 1983-1991, e desde 2006 é o presidente do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), entidade vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Ameaças
Em outubro de 1987, alguns meses antes da decisão de concessão de plenos direitos civis para os povos indígenas na Assembleia Constituinte, dom Erwin ficou gravemente ferido em um acidente de carro supostamente planejado. Desde 2006, o bispo está sob proteção policial por causa da ameaça de morte que tem recebido devido à sua atuação pastoral na região.
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