“Unha Preta”: quilombolas e a luta pelo direito étnico no norte de Minas

Tania Pacheco

“Unha Preta” é, antes de mais nada, um ato de amor. Do amor que o Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas tem pelos seus “parentes”, não só no sentido indígena, como no sentido de fraternidade humana. É isso que os move a partilhar as lutas de vazanteiros, quilombolas, geraizeiros, caatingueiros, acampados, assentados e indígenas. Todos juntos na Articulação Rosalino de Povos e Comunidades Tradicionais, assim chamada numa homenagem a Rosalino Gomes de Oliveira, uma das três lideranças Xakriabá assassinadas por 16 jagunços enquanto dormiam na sua aldeia Sapé, em 12 de fevereiro de 1987.  “Unha Preta” não é dedicado aos povos indígenas, entretanto, mas a dois grupos de quilombolas bem específicos: a todas as famílias do grande Quilombo Gurutubano, distribuídas por 34 quilombos em seis municípios, na área entre os vales dos rios Gurutuba e Verde Grande, e à comunidade de Brejo dos Crioulos.

Na Sinopse que acompanha a embalagem do DVD, postada também no saite da UFF, há uma explicação mais histórica:

“Nas vastas planícies sanfranciscanas, drenadas pelo rio Verde Grande no Norte de Minas Gerais, duas comunidades de remanescentes de quilombo: Gurutuba e Brejo dos Crioulos, revelam um tempo em que os negros que aí chegaram construíram autonomamente seu modo de vida em liberdade, como reafirma o Sr. Narciso?… eram terras de ausente?. A seu favor, os furados (ambientes rebaixados que acumulavam água no período das chuvas) infestadas pela malaria, impediram durante muito tempo que outras populações, que não as negras, vivessem aí.

Assim, nestas terras de ninguém, constituiu-se um espaço territorial livre, denominado de Campo Negro da Jahyba. Esta situação mudou a partir dos anos 1960, quando o governo, por meio de políticas de desinsetização e subsídios para empresas agropecuárias, dá partida ao processo de expropriação que expulsa milhares de famílias de seus locais de origem. Neste documentário alguns representantes dessas populações que vivem encurraladas em pequenos espaços de terra, expressam lucidez quanto aos valores de sua cultura e nos contam suas vidas e seus anos de luta pelos direitos étnicos”.

Juntemos, pois, os dados históricos à força da luta comum. E assistamos aos poucos mais de 20 minutos de “Unha Preta” também como uma homenagem a esse belíssimo exemplo de solidariedade que o norte de Minas nos dá e aos companheiros e companheiras que o tornam realidade, estejam eles presentes fisicamente ou atuando na memória d@s que levam adiante seus legados.

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