Brasil e Colômbia são os países com maior número de mortes de ativistas
Felipe Sánchez, El País
Pelo menos 78 ativistas ambientais foram assassinados até agora em 2015, de acordo com a ONG internacional Global Witness. O número, embora assustador, representa uma melhora em relação ao ano anterior, quando 116 foram mortos —cerca de dois a cada semana. Em plena cúpula do clima, as organizações têm exigido maior proteção por parte dos governos a quem combate as mudanças climáticas diretamente. “Enquanto os delegados de Paris na COP21 discutem soluções para a nossa crise climática, longe dos corredores do poder as pessoas comuns que defendem seu direito a um meio ambiente saudável estão sendo assassinadas em números recordes”, disse em comunicado Billy Kyte, um porta-voz da Global Witness.
Entre 2008 e 2012 houve um aumento acentuado nesses crimes, o que coincidiu com a parte final do ciclo dourado do preço das commodities. O cobre, o ouro e o petróleo atingiram suas cotações mais altas nesse período. Durante esses cinco anos, os assassinatos anuais passaram de 40 para 147, o número mais elevado na última década.
No ano passado, Brasil e Colômbia lideraram a lista de países mais perigosos para se defender o meio ambiente, com 29 e 25 assassinatos em cada um, quase 50% do total de mortes. Neste ano continuam na liderança. Em abril, dois homens encapuzados emboscaram e atiraram pelas costas em Eusébio Ka’apor, líder indígena na Amazônia brasileira que lutava contra a exploração madeireira ilegal na floresta. A comunidade à qual pertencia recebeu inúmeras ameaças de madeireiros. “Agora eles nos matam para intimidar. Dizem que é melhor entregarmos a nossa madeira antes de que mais pessoas morram. Não sabemos o que fazer, porque não temos proteção. O Estado não faz nada”, disse um representante indígena em declarações à ONG Survival International, citadas pela Global Witness em seu mais recente relatório.
Cerca de 40% das vítimas do ano passado eram indígenas. A maioria pertencia a comunidades que se opõem a grandes projetos de mineração, um padrão que parece repetir-se em 2015. O indígena colombiano Fernando Salazar Calvo, presidente de uma associação de mineradores artesanais em Caldas, foi assassinado em abril depois de receber ameaças por se recusar a deixar a exploração de ouro em mãos ilegais. Esses grupos poluem as fontes de água com o uso indiscriminado de cianeto e mercúrio para a extração mineral. As autoridades colombianas não consideraram necessário fornecer proteção ao líder indígena, apesar de terem sido alertadas do risco que ele corria, denunciaram organizações políticas de esquerda. Pelo menos 90 ativistas foram mortos na Colômbia desde 2009.
Honduras (com oito milhões de habitantes) é o país mais perigoso per capita para os defensores do meio ambiente. Entre 2010 e 2014, foram cometidos 101 assassinatos. Juan Francisco Martínez, líder de uma organização indígena que se opôs à construção de hidrelétricas no centro do país, foi encontrado morto em janeiro. Em meses anteriores, Martínez tinha travado uma disputa sobre a posse da terra ocupada por seu povo com as pessoas supostamente ligadas à construção de uma represa na área.
Cerca de 640 ativistas foram assassinados em todo o mundo –principalmente na América Latina e no Sudeste Asiático– desde a cúpula do clima em Copenhague, em 2009. Ao longo desses seis anos, a situação dos defensores do meio ambiente não melhorou, e os ambientalistas continuam sendo vítimas dos executores do planeta.
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Criança perto de uma operação contra a mineração no Peru. / REUTERS