Atentados, ameaças e provocações voltaram a fazer parte da rotina dos indígenas Guarani e Kaiowá do tekoha – lugar onde se é – Ñanderú Marangatú, município de Antônio João (MS). No último dia 29, um fazendeiro e capangas chegaram atirando sobre os acampamentos instalados nas retomadas das fazendas Fronteira e Cedro. A agressão ocorreu exatos três meses depois da morte de Semião Vilhalva, em 29 de agosto, e será denunciada ao Ministério Público Federal (MPF). Os recentes ataques tiveram início após a saída do Exército da região, há menos de um mês.
“Voltou a ser o dia a dia. Sempre que chegam de Antônio João é isso agora. Temos medo porque uma bala perdida pode encontrar uma criança ou alguém”, afirma uma liderança que não revelaremos a identidade por motivos de segurança. Para o Guarani e Kaiowá de Ñanderú Marangatú ouvido pela reportagem, trata-se também de provocação. “Chegam atirando e depois filmam a gente, pra ver se temos alguma reação contra eles”, explica.
Os Guarani e Kaiowá denunciam ainda que estão sendo caluniados. “O gerente da Cedro (chamado de Moacir pelos indígenas) também tem acusado a gente de roubar gado. A Funai (Fundação Nacional do Índio) tem documento dizendo que o fazendeiro (chamado pelos indígenas de Bruno) deixou cabeças de gado pra gente. Ele admitiu que a terra aqui é tudo indígena e saiu, mas o gerente dele fica aqui criando confusão”, declarou
O trânsito de não-índios em Ñanderú é constante. Das propriedades incidentes na terra indígena, homologada em 2005, a presença parcial de fazendeiros e capangas em quatro – Itaquiraí, Cedro, Fronteira e Barra – se destaca pela agressividade contra os indígenas. A começar pela forma violenta que seus autodeclarados proprietários adotaram para reaver as áreas: a presidente do Sindicato Rural de Antônio João, Roseli Maria Ruiz Silva, cuja família reivindica propriedade das fazendas Barra e Fronteira, liderou o ataque contra as retomadas de Ñanderú Marangatú que culminou na morte de Semião Vilhalva.
Todavia, os ataques dos últimos dias, conforme a liderança indígena, parece ter um alvo – para intimidar, ameaçar e provocar. “Quando entraram atirando no acampamento, foram direto pro barraco do Loretito. Parece que ele é o alvo. Governo precisa tomar providência. Fazendeiro sabe que ele é liderança importante pra gente aqui”, denuncia o Guarani e Kaiowá ouvido. Conforme o indígena, Loretito tem dito que teme pela própria vida. Sobretudo porque passou a ser obrigado a sair da terra indígena todos os dias.
Loretito segue até o município de Ponta Porã para cumprir determinação judicial. Em 2007, Loretito foi pego pela polícia portando uma arma de caça. Condenado em 2011 por porte ilegal, há poucas semanas ele foi intimado a comparecer diariamente à Justiça Federal para assinar um documento atestando que não fugiu do estado ou país – Ñanderú Marangatú fica na região de fronteira com o Paraguai.