Primeiro escritório regional é inaugurado na região do Baixo Cotingo, Terra Indígena Raposa Serra do Sol

Mayra Wapichana, Conselho Indígena de Roraima

Após invasão, indígenas reocupam suas terras originárias. Crianças, jovens, mulheres, tuxauas e demais lideranças indígenas da região do Baixo Cotingo, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, comemoraram ontem (1) o dia todo, a inauguração do primeiro escritório regional construído no Centro Regional “Amoko Pêê Depê”, na língua Macuxi e em português “Vovô pendão de flecha”, localizado no antigo depósito da Fazenda Providência pertencente ao invasor Paulo César Quartieiro.

O escritório, construído com recurso oriundo do Microprojeto de Fortalecimento Regional executado pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR), atenderá as atividades administrativas como elaboração de documentos, projetos, arquivos e demais funções administrativas referentes aos trabalhos realizados na região do Baixo Cotingo. Além disso, o escritório servirá como ponto de apoio regional para a organização e planejamento das atividades da região nas áreas da agricultura, pecuária, gestão ambiental e territorial, fiscalização e vigilância, e outras atividades.

A nova estrutura tem quatro cômodos e será dividido em recepção, coordenação e sala de reunião. O funcionamento do escritório é por conta da própria região.

Baixo Cotingo, uma das quatro regiões da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, possui uma população de três mil indígenas, moradores de aproximadamente 43 comunidades indígenas, sendo que 36 são ligadas ao Conselho Indígena de Roraima (CIR) e as demais fazem parte de outras organizações que atuam na região.

O coordenador regional do Baixo Cotingo, Agnaldo Constantino, conta que a decisão de construir o escritório em um lugar que era de invasão, partiu das lideranças indígenas que decidiram reocupar o lugar e torná-lo o Centro das comunidades indígenas, um lugar que pudessem abrigar os projetos, principalmente, o projeto de gado que hoje tem 346 reses, por isso decidiram abrigar também o microprojeto construindo o escritório e destaca o momento sendo de fortalecimento e autonomia das comunidades indígenas. “Construir o escritório em um lugar que era de invasão foi uma decisão nossa, das lideranças da região, para atender as nossas demandas regionais, então, tudo isso vimos como fortalecimento e autonomia das comunidades indígenas”, contou Agnaldo.

Além da construção do escritório, o coordenador também destacou a construção de um auditório para a realização das Assembleias Regionais e outras atividades futuras, porém, com a iniciativa das próprias comunidades.

O coordenador geral do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Mario Nicacio, participando da inauguração reforçou o momento sendo umas das conquistas dos povos indígenas da Raposa Serra do Sol pós- homologação e considerou a importância de garantir essa conquista através da gestão feita pelas próprias comunidades indígenas.

Na ocasião, o coordenador alertou sobre as ameaças que buscam atacar e retroceder os direitos indígenas por meio da Proposta de Emenda Constitucional 215(PEC 215), em processo de discussão avançada na Câmara dos Deputados. “Esse momento é uma conquista para todos nós, mas é preciso também ficar alerta aos ataques aos nossos direitos indígenas, constantemente, atacados pela bancada ruralista, agronegócios e demais empresários que tem interesse sobre as terras indígenas”, disse Mario.

O local é a própria marca da resistência de mais de 30 anos de luta. Logo na entrada do Centro Regional um muro de concreto com a identificação da Fazenda Providência, como símbolo de longos anos de conflitos, ameaças, destruições, sobretudo a marca de defesa da terra e garantias de direitos indígenas.

Microprojetos

Os Microprojetos, uma parceria entre do Conselho Indígena de Roraima (CIR) e a Embaixada da Noruega, tem a missão de atender oitos centros regional. Os próximos a serem inaugurados serão os Centros da Raposa e Serra da Lua, ambos em fase final de construção.

Executado há um ano, o projeto já atendeu outras regiões com materiais permanentes como computadores, impressoras, mesas e cadeiras e outros materiais, conforme necessidades apresentadas pelas próprias regiões. A meta é atender todas as regiões até o final desse ano.

Foto: Mayra Wapichana

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