Apanhar da polícia virou rotina. Feito comprar pão, por Leonardo Sakamoto

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A periferia sempre apanhou da polícia e ficou por isso mesmo. Raro é encontrar um rapaz pobre e negro que nunca tenha tomado um esculacho em blitz e revistas que atacam direitos constitucionais, visando à proteção do “cidadão de bem”.

Isso quando seu cadáver não é carimbado através de um lacônico e inexplicável “auto de resistência”.

Outros grupos também sempre estiveram na mira de cacetetes, balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo, como trabalhadores rurais sem-terra e indígenas. O massacre de Eldorado dos Carajás, que completa duas décadas no ano que vem, é apenas mais um caso. Afinal, no Brasil profundo a vida não vale muito.

Apanhar da polícia em manifestações urbanas tem gerado mais reclamações ultimamente. Afinal, com manifestações maiores e mais frequentes, temos mais porrada. Pelo menos naquelas que não são apoiadas pelo comando da polícia ou do governo estadual em questão.

Como saber quais são essas? Simples: aquelas que não ostentam selfies com policiais circulando na rede, por exemplo.

Com triste frequência recebo uma nota da Associação Brasileira de Jornalistas Investigativos (Abraji), repudiando que mais um colega foi agredido pela polícia no exercício da profissão. São dezenas de casos todos os anos.

Não raro os caos envolvem policiais que não usam identificação para não serem responsabilizados por seus atos.

O pior é que banalizamos isso de tal forma que sofrer abuso do Estado (que, ao contrário de bandidos, existe para proteger as liberdades individuais e não ataca-las) passou a ser visto como rotina. Feito comprar pão.

MAS, PELAMORDEDEUS, NÃO É!

Quem defende que a polícia está cumprindo seu papel ao abusar da violência está fora de si.

Quem ignora isso e segue em frente está entorpecido.

Mas quanto a nós, jornalistas, até pela natureza da profissão, silêncio significa conivência.

Há colegas que fazem sucesso e fortuna defendendo esse tipo de ação. Não vou perder meu tempo discutindo esses casos.

Para os demais, um pedido: se não se indignarem pela defesa da Constituição ou pela empatia com aqueles que ficaram de fora do grande butim, façam pelo menos pelo corporativismo.

Pois, amanhã, pode ser você.

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