Engenheiro diz que Rio São Francisco vai morrer em um ano

Especialista apresenta possíveis soluções para o problema, como a transposição de águas da Bacia Araguaia-Tocantis

Assembleia de Minas

O engenheiro João Alves Filho, atual prefeito de Aracaju, apresentou dados que, segundo ele, indicam que o Rio São Francisco morreria em, no máximo, um ano a partir de agora. Ele também ofereceu sugestões para reverter o processo, dentre elas a transposição de águas da Bacia Araguaia-Tocantins. A palestra foi ministrada durante a reunião da Comissão de Minas e Energia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) na manhã desta quarta-feira (27/5/15).

A audiência, solicitada pelo deputado Gil Pereira (PP), teve o objetivo de debater a revitalização do Rio São Francisco, que, recentemente, tem gerado preocupação com a diminuição drástica da vazão da água. O prefeito de Aracaju foi convidado por já ter realizado várias pesquisas sobre rios mortos ao redor do mundo e tem, há alguns anos, acompanhado a história do Velho Chico.

João Alves explicou que todo rio morre a partir da foz. “O Rio São Francisco chegava a avançar mais de 30 km para dentro do mar, tamanha era sua força. Agora, encontramos peixes de água salgada a mais de 250 km do oceano”, disse. Ele afirmou, ainda, que, recentemente, foi possível atravessar a pé o último trecho do rio. Para ele, essas são evidências certas de que o rio caminha para a morte.

As previsões do engenheiro são catastróficas. “Será a maior diáspora da história, com um milhão de sergipanos e um milhão de alagoanos abandonando suas terras pela completa falta de água”, afirmou. João Alves citou um trajeto de 500 km percorridos por ele ao longo de um trecho já seco do Rio Amarelo, na China, para explicar que esse é o efeito imediato da morte de um rio: a emigração. Segundo ele, dezenas de cidades foram abandonadas ao longo do antigo curso d’água.

No caso do São Francisco, João Alves explicou que foram várias as razões que poluíram e diminuíram a vazão do rio ao longo das últimas décadas, como o despejo de esgoto in natura, a construção de fábricas e a exploração de minérios. A maior causa, porém, teria sido a construção de hidrelétricas sem o devido cuidado.

Segundo ele, os projetos atuais são mais cuidadosos ao analisar os impactos da obra na vazão do rio, mas essa prática é recente, e as primeiras hidrelétricas teriam sido feitas com a única preocupação de gerar energia. “Os Estados Unidos têm uma lei de recursos hídricos desde 1921, e o Brasil só aprovou a sua no fim do século XX”, disse.

Revitalização é possível

João Alves se disse preocupado pela inexistência, segundo ele, de qualquer projeto de revitalização do rio no Governo Federal. Apesar disso, afirmou que há soluções, e apresentou alguns projetos já concluídos que poderiam servir como referência. Um deles seria a revitalização do Rio Tennessee, nos Estados Unidos, e outro seria o Rio das Velhas, em Minas Gerais.

A revitalização do Rio das Velhas, segundo ele, teve o melhor custo-benefício em projetos desse tipo no mundo. Ele lembrou que o principal indicador da recuperação de um curso d´água é o retorno dos peixes, e essa era uma das metas no Velhas, que hoje teria, segundo ele, mais peixes em 500 km do que o São Francisco em 2.500 km. “O Velhas era o afluente mais poluído do São Francisco, agora já é possível nadar em muitos trechos”, disse.

Para conseguir revitalizar o São Francisco, João Alves afirmou que será necessário criar um rio doador de água em quantidade abundante. A sugestão é que essa água seja transposta da Bacia Araguaia-Tocantins, já que em certos trechos dessa bacia, os rios alcançariam uma vazão tão alta que acabariam causando problemas, como inundações. Assim, parte da água poderia ser transposta sem causar prejuízos.

João Alves explicou o projeto de transposição que mostra que, devido à localização de Tocantins em uma posição geográfica mais elevada, aumentaria o potencial de geração de energia elétrica do rio. Só isso já faria com que o projeto fosse, de acordo com ele, autofinanciável.

Ele defendeu, ainda, o uso de uma tecnologia de geração de energia inventada pelo físico brasileiro Raimundo Santos. Com o nome de hidrogerador, a tecnologia seria capaz de usar as águas dos rios para geração energética com um impacto ambiental muito menor que as hidrelétricas e a preço também mais acessível.

Recuperação de área degrada é o desafio

O assessor da presidência da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), Athadeu Ferreira da Silva, destacou que a seca que se observou na Serra da Canastra revelou a necessidade de preservação dos solos, que são a principal fonte de captação de água dos rios. Somado a isso, segundo ele, as chuvas caíram em locais onde historicamente não caem, graças ao desequilíbrio ecológico.

Athadeu da Silva afirmou que os rios que alimentam o São Francisco devem ser o principal alvo das ações de revitalização. “A recuperação de área degradada é o nosso maior desafio, uma vez que, em geral, ficam em áreas de propriedade particular. Hoje, 95% dos sedimentos vêm do alto e médio São Francisco, por meio das Bacias do Paraopeba, Pará, Indaiá, Abaeté, Urucuia, Paracatu e Acari”, disse. Ele afirmou também que Minas Gerais foi o Estado que mais recebeu investimentos na recuperação do rio.

A diretora-geral do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), Maria de Fátima Chagas, reforçou as palavras do representante da Codevasf e lembrou que mais de 70% das águas do São Francisco nascem em Minas Gerais, por isso a importância da revitalização. Ela destacou que o Governo do Estado assinou um pacto pelas águas com os comitês de bacias, além do programa Cultivando Água Boa, para recuperação de bacias, gestão de nascentes e áreas de recarga. “Precisamos administrar os recursos para aplicá-los da forma mais eficiente”, salientou.

O engenheiro ambiental da Cemig, Renato Junio Constancio, defendeu que há soluções possíveis para o Rio São Francisco, desde que sejam feitas ações nos locais que mais o prejudicam. Ao lamentar que o projeto apresentado pelo prefeito de Aracaju não foi direcionado à sua equipe, afirmou que o rio está morrendo pela foz, mas a causa está na produção de sedimentos no Alto São Francisco.

Nesse sentido, o coordenador do Comitê de Bacia do Alto São Francisco, Márcio Tadeu Pedrosa, disse que o debate sobre a revitalização acontece há 14 anos e que o caminho é a preservação ambiental. “Para termos retorno, é preciso ações integradas dos comitês com os Ministérios do Meio Ambiente e da Integração, a Codevasf e a Agência Nacional das Águas”, pediu.

Ambientalista defende mudança de paradigma político

O criador do Projeto Manuelzão e um dos responsáveis pela revitalização do Rio das Velhas, Apolo Heringer Lisboa, fez duras críticas à gestão política brasileira que, segundo ele, tem reflexos na questão ambiental. Para ele, os rios estão morrendo no Brasil inteiro. Em sua participação, disse que as ações governamentais e privadas não estão ajudando a revitalizar o São Francisco. “Estamos vendo o poder econômico destruindo os recursos hídricos, a educação brasileira em crise e a prioridade a grandes obras que não levam a nada”, lamentou.

Apolo destacou, ainda, que é preciso uma mudança política que dê chance para a natureza se recuperar. “Estamos vivendo um colapso ambiental em Minas. A responsabilidade é do Estado, que não protege o meio ambiente e a sociedade”, disse. “Podemos recuperar o rio, aumentando o volume de água, com potencialização de infiltração pelo solo. A crise hídrica é prova de relaxamento histórico e, por isso, deve haver uma política de investimento em água”, concluiu.

Consulte o resultado da reunião.

O objetivo da audiência pública foi debater a revitalização do Rio São Francisco, que tem gerado preocupação com a diminuição drástica da vazão da água – Foto: Pollyanna Maliniak

Enviado para Combate Racismo Ambiental por Ricardo Álvares.

Comments (12)

  1. a coisa tá tão feia contra os nossos rios que na minha opinião só um milagre de DEUS dava jeito nesse problema que assola o nosso hidro sistema nacional de água, praticamente todos os nossos rios estão morrendo, e outros estão mortos, essa ideia do Dr joão Alves de trazer as águas do rio Araguais/toncantins é uma boa, mas tem que ser um bom planejamento com cautela muitos estudos, se não são mas dois rios mortos mas Rápido!! é os governantes do nosso país não tão nem ai com nada,com os problemas de água,, é na disputa quem em rica mas rapido, metendo a mão no dinheiro do pais onde devia ser gasto em nossa defesa é pra disputa quem sai mas rico do poder,, isto é uma vergonha pra todos! o nosso dinheiro é só pra corrupção e mas nada! o brasil é o único no planeta que tem o maior volume de água doce! nos brasileiro temos que colocar no poder quem se preocupa com nos e não pra se mesmo! esta é a minha opinião!!!!

  2. Em primeiro lugar acho un descaso dos nissos politicos em nao querer ver a realidade do nosso rio. Se eles quisessem ja tinham resolvido. Segundo so o rombo da Petrobras sem contar BNDS que vem ja ja por ai,daria pra fazer muitas transposicoes. O problema e que so pensam em botar no bolso.

  3. Realmente a visao dos nossos políticos é pequena pois a idéia do eng. Joao Alves seria promissora se houvesse uma preservaçao na bacia hidrografica do Rio Tocantins e seus afluentes pois o agronegórcio ja chegou nessa regiao e nao esta havendo respeito ao meio ambiente é só uma questao de tempo e os mesmos problemas que temos no Rio Sao Francisco irão ocorrer no Rio Tocantins, o problema é simples de resolver falta o querer dos governantes fiscalizar e fazer cumprir a distancia miníma de qualquer atividade que venha ameaçar a saúde dos rios, afluentes e suas nascentes. Tratar 100% os esgotos das cidades que ficam em suas margens e tudo isso é possivel multando os proprietarios particulares de terras que nao respeitarem a preservaçao das matas siliares ou revitalizando-os com prazos a serem cumpridos e o nao cumprimento dos mesmos multa e até desapropriação dessas terras por incapacidade de preservçao do meio ambiente, e outra questao sao as prefeituras que seriam enviadas verbas pra o tratamento dos esgotos mas com fiscalização no uso dessas verbas caso nao seja cumprido ou respeitado suspenderia todas as verbas daquelas prefeituras e interdiçao do administrador publico aí sim funcionaria pois na situação atual as pespectivas não são boas e as discusoes vem ocorrendo a mais de dez anos e nenhuma ação foi feita até agora. So lamento tantos governantes sem capacidade e ainda pior não pensam na coletividade nem a longo prazo da vida na terra.

  4. Corroborando com as sugestões acima, temos que se os governantes não tomarem as devidas providências e o o povo são franciscano não abraçar a causa.
    Teremos o mesmo problema que passa na Califórnia, segundo a matéria:” Crise Hídrica na Califórnia.” El País 06 may 2015

  5. Na orla da cidade de Petrolina-PE pode perceber que às margens do Rio São Francisco aumenta a concentração de uma vegetação verde com flores roxas. Essas plantas são as Baronesas que se alimentam da matéria orgânica dos esgotos. Elas alertam para os dejetos da cidade que estão sendo despejados no rio.

  6. O básico não estão providenciando que o despejo de esgoto no seu leito imagine os problemas complexos

  7. Tem que si tomar várias atitudes como mudança nos sistemas de irrigação dos projetos de irrigação pois os mesmo esta com sistemas defasados.

  8. Vejo sempre que quando alguém se manifesta sobre o rio São Francisco, não fala o que necessita urgentemente ser feito, pois o que necessita são ações imediatas, algumas delas:
    1-Uso da água somente com sistemas de pressurização, evitando a evaporação que ocorre no sistema por gravidade;
    2-Tratamento de 100% dos esgotos que caem ao longo do rio;
    3-Alternativas para transposição de rios para o São Francisco e vice e versa;
    4-Revitalização com desassoreamento;
    5- Proteção e cuidado com a mata ciliar;
    6-Etc

  9. Fui membro por três vezes do Comitê da Bacia Hidrográfica do rio São Francisco, fiz parte de um grupo votou contra o Projeto de Transposiçao porque víamos a inviabilidade hídrica do nosso rio atender às necessidades dos nossos irmãos do Nordeste Setentrional. Votamos na época, na alternativa: Transposição só após dez anos de sua Revitalização. De sessenta membros em 2004, tivemos apenas sete votos nesta proposta. Hoje, onze anos depois, a situação do rio está gravíssima e, o que sabemos é que o governo ainda não mostrou um plano efetivo de ações que pelo menos se assemelhe ao Projeto Manuelzão elaborado por grandiosas figuras humanas da UFMG, a exemplo do Sanitarista Apolo entre outros, no sentido de Revitalizar um grande afluente do Velho Chico – o rio das Velhas. A minha proposição é aplicar estratégias bem sucedidas que deram certas no Manuelzão e adequá-las à realidade do São Francisco.

  10. A maneira irresponsável com que as águas são utilizadas é a maior prova da insanidade dos seus “predadores”. Aqui no Submédio São Francisco o agrohidronegócio acaba com a água, com o solo, com a caatinga (fauna e flora), com as pessoas. Em nome de um desenvolvimento do sertão vejo o rio morrendo, as pessoas adoecendo mais com câncer e problemas renais, causados por agrotóxicos que poluem o alimento e a água. Quando Dom Luís Flavio Cáppio fez jejum para chamar a atenção das autoridades sobre a situação do Velho Chico, elas zombaram…e agora? O cenário fala.

  11. É assustador a incapacidade dos ditos intelectuais que pensam as ações do Estado, em fazerem uma crítica sincera ao seu papel no estado de violação de direitos nas intervenções promovidas pelos governos em aliança com o grande Capital. O São Francisco está morrendo. Qual a solução?
    Matar o Tocantins!
    Será que o rio Tocantins já não foi sacrificado demais? Alguém pensou alguma vez em seriamente mudar os rumos desse desenvolvimento implantado atualmente no país?
    Cláudio Teixeira

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