Idhelene Macedo, Agência Câmara
Movimentos sociais afirmam que o alto índice de assassinatos de jovens negros no Brasil se deve ao racismo. Eles participaram de audiência pública na Câmara, da Comissão parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a violência contra jovens negros e pobres.
Durante o debate em Brasília, Geovan Bantu, representante do Fórum Nacional de Juventude Negra de Salvador, destacou que ele mesmo se encaixa no perfil de “suspeito padrão”, ou seja, o negro entre 15 e 29 anos de idade, morador das periferias das cidades brasileiras.
Segundo Bantu, essa imagem do “suspeito padrão” está inserida na sociedade e suas instituições, principalmente as polícias, que veem esse jovem como um inimigo do Estado a ser eliminado.
Na segunda-feira (11), a CPI promoverá nova audiência pública, destta vez na Assembleia Legislativa do estado da Bahia, a partir das 9 horas.
Racismo institucional
Geovan Bantu ressaltou que essa discriminação explica as estatísticas, segundo as quais sete em cada 10 vítimas de assassinatos no Brasil são negras: “Isso está dentro de um processo mais amplo, de um processo que nossa sociedade está instituída, que é o processo do racismo institucional”.
“Nós não podemos, em momento algum, deixar de dizer que nós não abrimos mão de considerar que essa questão da violência do homicídio contra a população negra, do extermínio da juventude negra não esteja diretamente ligada ao racismo que nós vivemos no País”, acrescenta. “É o racismo que estrutura as relações dentro do Legislativo, dentro do Judiciário, dentro do sistema penitenciário e, de fato, desumaniza a população negra.”
Maioridade penal
O representante do movimento baiano manifestou repúdio à proposta (PEC 171/93) que reduz de 18 para 16 anos a maioridade penal. Bantu também cobrou providências das autoridades contra a banalização das mortes desses jovens.
“Essas mortes não têm valor, não comovem. Não chocam. O corpo de um jovem negro no chão é como se isso fosse normal. Da mesma forma que a gente acha natural um menino preto vendendo bala num sinal. A gente acha que aquele menino faz parte da paisagem, daquele cenário”, critica.
Omissão do Estado
O rapper Neemias MC também participou do encontro. Abandonado aos 14 meses na rodoviária de Brasília pela mãe biológica, Neemias foi morador de rua e hoje é produtor e ativista social. Ele contou que chegou a cometer pequenos furtos para vencer a fome, foi preso e sofreu violência por parte da polícia.
Neemias atribui a situação vivenciada por ele e outros milhares de jovens negros à omissão do Estado e ao descumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA 8.069/90). O rapper também criticou o tratamento dado aos jovens negros por setores da mídia.
“É essa a mídia sensacionalista que a gente quer? São programas como os do Datena, que a todo momento ridiculariza o nosso povo, que somos a causa da violência. Mas não fala das questões absurdas que são sofridas por essa juventude. Não fala que a juventude está, a todo momento, sendo exterminada pela polícia”, ressaltou.
Comunidade virtual
O presidente da CPI que investiga a violência contra jovens negros e pobres, deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), informou que a CPI criou uma comunidade virtual para debater o tema. Quem quiser participar é só acessar a página edemocracia.camara.leg.br
Edição – Newton Araújo.
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Imagem: CPI da Violência contra Jovens Negros e Pobres ouviu representantes de movimentos sociais (Gabriela Korossy / Câmara dos Deputados)